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Reeleição de Julius Malema empurra África do Sul para a “via revolucionária”

O reeleito presidente da Liga da Juventude do Congresso Nacional Africano (ANC, no poder desde 1994), Julius Malema, lançou um ultimato à liderança para que adopte sem demoras uma via revolucionária na economia e na reforma agrária.

No dia seguinte, ao encerramento do congresso da Liga da Juventude, que reelegeu Malema para mais um mandato, a grande maioria dos jornais sul-africanos dá conta dos receios crescentes motivados pela ascensão do controverso líder político no seio do ANC.

Conhecido pelos seus ataques verbais aos brancos, pelas ameaças de lhes expropriar sem indemnização as terras e as minas e de cantar em público “Morte ao Boer”, Malema parece ter ganho agora novo fôlego e nem a liderança do seu partido poupou logo a seguir à sua reeleição.

“A liderança do ANC terá de começar a liderar com o povo senão arriscar-se-á a ser demitida (…) O inimigo real é o capital monopolístico branco. É contra esses que lutamos. Não é racismo, está escrito em todos os documentos do ANC”, foram algumas das “tiradas” de Malema no fim-de-semana, logo após ter sido reeleito sem oposição para a presidência da Liga da Juventude.

Mais uma vez, Malema exortou o Governo do ANC a nacionalizar o sector mineiro e a expropriar as terras para as redistribuir pela maioria negra. E desta vez com novas “pinceladas” nos discursos: depois de classificar os brancos como “assassinos”, acrescenta-lhes agora o rótulo de “ladrões” e afirma que quem “roubou as terras não merece indemnização”.

Para o ANC e o seu Governo, Malema é um embaraço cada vez maior. Em causa estão os programas e planos de crescimento económico recentemente elaborados pela equipa económica, cujo sucesso depende em grande parte da confiança dos investidores em sectores críticos como as minas, a agricultura e a indústria transformadora.

“Um arrepio sobe-nos pela espinha e alguns entrarão em depressão só de pensar nos danos que este jovem causou à sociedade desde que assumiu a presidência da Liga da Juventude do ANC em 2008. Outros darão vivas ao triunfo de alguém que parece falar a sua língua”, escreve no jornal The Times o seu director e analista político Mondli Makhanya.

“Seja qual for a perspectiva, é chegada a hora de nos prepararmos para um espectáculo mais longo e mais intenso de Julius Malema. O Malema que emergiu desta conferência é um homem muito mais poderoso. Não apenas o seu controlo da máquina da Liga da Juventude é mais apertado como a sua capacidade de influenciar o ANC e a sociedade em geral foi consideravelmente aumentada”, refere Makhanya.

Só o ANC, segundo Makhanya, poderá travar a corrida desenfreada de Malema em direcção aos órgãos directivos do partido, “escutando o grito de reprovação da sociedade”.

Enquanto o comentador político Steven Friedman chama a atenção, no The Star, para os apoios que têm sido dados na retaguarda a Malema por alguns dos “novos magnatas” que beneficiaram dos programas de transferência de propriedade no sector mineiro, outros vão mais longe, antevendo que o “factor Malema” não é mais do que um indício da iminente implosão do ANC, uma força profundamente dividida entre as inúmeras tendências que compõem o seu aparelho desde os tempos da luta contra o “apartheid”.

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