Os rebeldes assumiram o controle de trechos das fronteiras da Síria e incendiaram a principal delegacia da polícia na Cidade Velha da capital Damasco, avançando de forma implacável depois de matarem na véspera importantes membros do governo do presidente sírio, Bashar al-Assad.
A batalha pelo controle de partes da capital perdurou até as primeiras horas da Sexta-feira (20), com cadáveres a amontoarem-se nas ruas. Em alguns bairros, moradores disseram haver sinais de que a presença do governo está a diminuir.
As autoridades do vizinho Iraque confirmaram que os rebeldes sírios assumiram o controle no lado sírio do posto de fronteiriço de Abu Kamal, na rodovia que acompanha o rio Eufrates, uma das principais rotas comerciais do Oriente Médio.
Os rebeldes também dominam pelo menos dois postos de controle na fronteira com a Turquia, em Bab al-Hawa e Jarablus, no que parece ser uma campanha coordenada para dominar as fronteiras da Síria.
Imagens feitas por rebeldes em Bab al-Hawa mostraram-nos a subir nos telhados e a rasgar um pôster de Assad.
“A passagem está sob nosso controle. Eles retiraram os seus blindados”, disse um rebelde, identificado apenas como Ali, que estava a ser tratado no lado turco depois de ser ferido.
Dois oficiais do Exército Sírio Livre (grupo rebelde) disseram que os combatentes estavam ocupados, nas primeiras horas da Sexta-feira, a desmontando sistemas de informática, apreendendo prontuários de segurança e esvaziando as prateleiras da loja “duty free”.
Pelo menos 30 tanques do governo na área não foram mobilizados para tentar recuperar o posto de fronteira, segundo Ahmad Zaidan, um comandante graduado do Exército Sírio Livre.
Recorde diário de mortos
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos denunciou que mais de 250 pessoas foram mortas na Síria, esta Quinta-feira (19), o maior número de mortos num único dia desde o início da revolta contra Assad, há 16 meses.
O grupo, sediado na Grã-Bretanha, afirmou que 155 civis, incluindo 44 pessoas em Damasco, onde as batalhas acontecem há cinco dias, e 93 membros das forças de segurança foram mortos.
O Observatório declarou que ainda estava a colectar informações sobre o número de combatentes rebeldes mortos junto a fontes no terreno e que espera que o número de mortos suba significativamente.
Refugiados
No vizinho Líbano, as autoridades disseram que os refugiados cruzam a fronteira em grande número. Uma fonte de segurança estimou que 20 mil deles tenham entrado no Líbano só esta Quinta-feira (19).
Em Damasco, uma testemunha no bairro de Qanawat, na Cidade Velha, disse que a enorme sede da Polícia Provincial de Damasco foi queimada e saqueada pelos rebeldes e que os seus funcionários fugiram.
“Três carros de patrulha vieram ao local e foram atingidos por bombas nas calçadas”, disse o activista Abu Rateb por telefone.
“Vi três corpos num carro. Outros disseram que dezenas de homens da segurança e shabbiha (milícias pró-Assad) caíram mortos ou feridos ao longo da rua Khaled bin al-Walid, antes de as ambulâncias terem-lhes levado.”
Os próximos dias serão cruciais para determinar se o governo de Assad conseguirá recuperar-se do devastador golpe do atentado a bomba da Quarta-feira (18), que eliminou boa parte da estrutura de comando do regime e destruiu a aura de invulnerabilidade do seu círculo íntimo.
O poderoso cunhado de Assad, o seu ministro da Defesa e um general de alta patente foram mortos no atentado da Quarta-feira. O chefe de inteligência e o ministro do Interior ficaram feridos.
As forças do governo reagiram bombardeando a sua própria capital com helicópteros e canhões posicionados nas montanhas próximas. A sensação de fragilidade do regime ficou ainda maior pelo facto de Assad ter passado mais de 24 horas sem aparecer depois do ataque.
Ele, finalmente, foi mostrado, esta Quinta-feira (19), pela TV estatal, a dar posse a um novo ministro da Defesa, num local não revelado.
Diplomacia atropelada
Os esforços diplomáticos, rapidamente atropelados pelos factos no terreno, sofreram um novo revés, esta Quinta-feira, quando Rússia e China vetaram uma resolução do Conselho de Segurança que poderia levar à imposição de sanções à Síria.
Os Estados Unidos disseram que o Conselho “fracassou absolutamente”. Essa resolução, que também renovaria o mandato duma pequena missão de observação da ONU na Síria, foi o terceiro texto a ser vetado por China e Rússia, que opõem-se a qualquer medida que possa abrir caminho para uma acção militar internacional contra o seu aliado Assad.
Para substituir o texto vetado, a Grã-Bretanha propôs uma resolução de quatro parágrafos que pelo menos renovaria por 30 dias o mandato dos monitores internacionais, sem abrir espaço para sanções.
O embaixador da Rússia na ONU disse que pedirá ao seu governo que a leve em consideração.
Enquanto isso, em Damasco, os activistas disseram que os rebeldes assumiram o controle do bairro de Barzeh, na zona norte, de onde soldados e blindados teriam se retirado.
O Exército também abandonou as localidades de Tel e Dumair, ao norte de Damasco, depois de sofrerem pesadas baixas, disseram os activistas.
Por outro lado, eles disseram que as forças do governo continuam a bombardear durante a noite o bairro de Mezzeh, na zona oeste da capital, com metralhadoras e canhões antiaéreos.