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Quem controla as agências de controlo nuclear?

O sector de energia nuclear tem poucos especialistas independentes, o que coloca em xeque a transparência e a imparcialidade dos órgãos fiscalizadores.

Enquanto o Japão enfrenta um acidente nuclear que pode ser o pior da história, parece evidente que qualquer debate sobre a segurança da energia atómica deveria abordar a independência dos órgãos reguladores.

No dia 26 de Abril de 1986, vários incêndios e explosões na central nuclear ucraniana de Chernobyl liberaram material radioactivo que se espalhou sobre a Europa oriental e ocidental, especialmente na própria Ucrânia, Bielorússia e Rússia, que na época eram repúblicas soviéticas.

Após 25 anos, o reactor número quatro de Chernobyl continua a libertar radioactividade apesar de estar sepultado sob uma grossa mas deteriorada cobertura de concreto armado.

Os Estados Unidos e a União Europeia tentam conseguir mais de dois biliões de dólares para construir um sarcófago permanente que contenha a radiação. O desastre de Chernobyl costuma ser atribuído à tecnologia obsoleta e à falta de transparência característica do regime soviético.

O acidente na central japonesa de Fukushima I, operada pela Companhia de Energia Eléctrica de Tóquio (Tepco), ocorreu devido aos danos causados pelo terramoto de nove graus na escala de Richter e ao imediato tsunami do dia 11.

Porém, “a Tepco não tem os melhores antecedentes de segurança ou transparência na informação”, disse Mycle Schneider, analista de políticas energéticas e nucleares, radicado em Paris que trabalha habitualmente no Japão.

Em 2002, descobriu-se que a Tepco falsificava informação sobre segurança e a empresa foi obrigada a fechar os seus 17 reactores, incluídos os de Fukushima I, que fica 240 quilómetros a norte de Tóquio, leste do país, no litoral do Pacífico. Executivos dessa empresa admitiram ter apresentado cerca de 200 relatórios técnicos com dados falsos nas duas décadas passadas. A manobra foi descoberta porque um engenheiro norte-americano que trabalhava na Tepco divulgou-a.

Em 2007, um terramoto de 6,6 graus obrigou a Tepco a fechar os sete reactores da maior central nuclear do mundo, na costa Oeste do Japão. A usina de Kashiwazaki- Kariwa foi fechada por 21 meses para a realização de reparações e testes adicionais contra terramotos. Somente quatro dos seus reactores voltaram a operar. “Não existe um único lugar do Japão que não seja propenso a terramotos”, disse Mycle.

Este país obtém um terço da sua electricidade de 55 reactores nucleares, o que o coloca em terceiro lugar, depois da França, com 59, e dos Estados Unidos, com cerca de 100. O Japão não tem petróleo, gás natural, nem carvão, e é um grande consumidor de energia. O país planeia construir outros 15 reactores. Noutras instalações atómicas japonesas ocorreram falhas.

Em 2004, um acidente matou cinco trabalhadores. Em 1996, outro provocou uma chuva radioactiva que alcançou os subúrbios do nordeste de Tóquio, mas houve pouca repercussão porque o governo proibiu a imprensa de divulgar a informação, disse o jornalista Yoichi Shimatsu, ex-editor do The Japan Times Weekly num artigo publicado no The 4th Media.

Os ambientalistas japoneses protestam há muito tempo contra regulações inapropriadas e a cultura da indústria nuclear de encobrir os seus erros. O problema é que as empresas do sector, como a Tepco, e as agências reguladoras do governo são “essencialmente o mesmo”, afirmou o presidente da organização não governamental Coligação Canadiana para a Responsabilidade Nuclear, Gordon Edwards.

Esta situação repete-se no Japão, Canadá, Estados Unidos e noutros países, acrescentou Gordon. “Há poucos especialistas nucleares independentes no mundo. Todos trabalham para a indústria, ou já trabalharam e agora são reguladores”, ressaltou.

O Canadá tem uma grande indústria nuclear de propriedade estatal, com 17 reactores que fornecem 15% da electricidade do país. O governo canadiano vendeu reactores Candu a vários países, entre eles Argentina e, mais recentemente, China.

As centrais nucleares do Canadá são alvo de múltiplas reparações, todas elas caras, e também de encerramento, principalmente por derrames. Não há vítimas fatais, mas os custos com reparação chegam a milhares de milhões de dólares.

A indústria e as agências de fiscalização não têm interesse em educar o público ou os governantes, disse Gordon. “Nunca explicam que a radioactividade não é algo que se pode apagar. Não explicam que mesmo quando se fecha um reactor este continua a gerar enorme quantidade de calor que deve ser eliminado para impedir a fusão do combustível”, destacou.

Um claro exemplo é o reactor número quatro de Fukushima I, que estava fechado desde Dezembro. Entretanto, o combustível já usado imerso nas piscinas de armazenamento começou a aquecer quando o sistema de refrigeração parou de funcionar por causa do terramoto.

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