Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

Quebrar a nostalgia depois de uma semana…

Quebrar a nostalgia depois de uma semana…

Na primeira fase da sua digressão pela cidade e província de Maputo, o conceituado músico moçambicano Ras Tony revelou aos maputenses como se faz a música do futuro sem desperdiçar o presente. Nos meados de Março, a festa do reggae produzido em Moçambique expande-se por algumas zonas da África Austral. Acompanhemos os seus efeitos.

Uma música de memórias que nos vai à alma ou simplesmente “Música a bordo” cantada em poesia maviosa que revela a paixão de Ras Tony pela arte de musicar! “Música na cabeça, música no coração, música nas costas…” – faz lírica em xi-changana ao baloiçar na semântica, na hora de espalhar o seu poder artístico, através de uma expressão de optimismo indestrutível e de uma confiança no poder humano.

Ras Tony preparou essa viagem pelo tempo ao longo de uma semana para brindar aos seus velhos companheiros e fãs numa digressão, mas também para mostrar como se faz a música do amanhã sem nunca sair do hoje.

O quotidiano na nossa África material despida da causa humana e social inspirou esta obra às vezes frágil mas elegante, outras vezes robusta. A guerra é vencível. A reconciliação é possível, pode-se notar em temas como “God Bless Africa”, na hora de travar os conflitos políticos e de geração, dando gosto a uma passagem de testemunho – “o reggae é espiritual”, canta.

Na verdade a fase inicial do périplo de Ras Tony pela cidade de Maputo, realizando concertos em espaços culturais como o Ambients Bar, o espaço Kampfumo, o África Bar, finalizando no Núcleo de Arte, ocorreu entre 18 e 26 de Fevereiro último. Os fãs de Ras Tony que se encontram nalguns países africanos só podem vê- -lo nos meados do mês em curso. Sabe-se, porém, que o primeiro ponto a ser visitado será a vizinha Swazilândia.

De qualquer modo, naquela noite de domingo, por sinal do encerramento da primeira fase do seu périplo feito em Maputo, Ras Tony sentou-se nos bastidores do Café Camissa no Núcleo d´Arte ladeado de obras pintadas e esculpidas, revelando o amor à arte. Por vezes, semicerrava os olhos como quem saboreava “God is greater than man” de Luciano.

A moldura humana que o esperava do lado da plateia discutia a sua origem e vida, saboreando cerveja para, nalguns momentos, levantar as vozes como se isso lhe conferisse alguma razão. Ras Tony parecia saborear a paz. Depois seguiu-se o afro-raggae: a música dominava o seu espaço. “Faz-me sentir a alma suave e uma saborosa inspiração. Digo categoricamente que o reggae me faz viajar. Sinto-o a entranhar no meu corpo”.

Em duas horas de pura música, depois de o grupo Xitende ter iniciado o concerto com ritmos clássicos, Ras Tony vasculhou no seu vasto reportório velhos sucessos e tocou o tema “Selassie” como quem se curva perante o imperador, o apóstolo dos Rastafaris.

Foi em busca de diferentes temas que compõem o seu reportório musical e o público seguiu cegamente as suas vontades, como quem admite que a sua música não precisa de explicações…. ela é uma simples explicação!

Ras Tony chegou ao palco do Café Camissa no Núcleo d´Arte com o rótulo de bom. Sem ter que provar nada, havia simplesmente de mostrar o produto a uma plateia à partida hipnotizada simplesmente pelo nome, como quem pergunta “palavras para quê?”

Este músico de créditos firmados que conta com os préstimos da banda Xitende deixou o som assaltar a noite, sem se preocupar com as habituais cerimónias de apresentação, pois o público estava ali para ouvir música. Este naipe de artistas proporcionou duas horas de som puro.

Mesmo sendo aquele um espectáculo para encerrar a primeira fase da digressão, Ras Tony sabia que precisava de fazer uma viagem pelos seus sucessos para que a noite não fosse entre “estranhos”. Fez uma incursão, sem saudosismos por “Summer Holiday”, vibrando com “Utha vuya utha ni valelissa”, “Bablom system” e, em jeito de introdução, deu um cheirinho do álbum “Farrapos da minha vida”.

Ras Tony não se prendeu simplesmente ao afro-reggae. Ou melhor, ele tem o lado versátil de misturar os estilos. Não se fecha em quadra egoísta. Abre-se. Percorre outros mundos, amplia o reggae, oferecendo- lhe outros elementos. Se o reggae for por si uma “indefinição”, Ras Tony encaixa nessa falta de limites.

Durante quase duas horas em que esteve em palco, Ras Tony não assumiu uma única linha, tendo penetrado no kwassa-kwassa, ritmo que levou emprestado do artista moçambicano, Bob Lee.

Esta dupla foi-se transferindo em cada traço, como recordar Awilo Longomba e depois fechar com um vinco monitorado por Jorge na bateria, permitindo que a sua música fosse alvo de várias intempéries sociais, como caracterizou a digressão António Silva, poeta e apreciador de boa música.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts

error: Content is protected !!