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Quando o polícia é o assaltante

Quando o polícia é o assaltante

No seu dia de folga, um agente da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Cuamba, com a ajuda de um amigo, roubou uma mota de uma jovem mulher quando esta se deslocava para a machamba. Mas o que o polícia não imaginava é que a vítima já o conhecia de vista, uma vez que frequentam a mesma mesquita há anos. O agente devolveu a motorizada e, presentemente, sem nenhum processo disciplinar, prossegue impune pela cidade há um mês.

Todas as manhãs, por volta das 7h00, Consolata Felisberto Watenda, de 19 anos de idade, percorre de mota pelo menos cinco quilómetros até chegar ao seu posto de trabalho: uma machamba que se localiza próximo do bairro Matia, arredores da cidade de Cuamba. Ela faz esse percurso todos os dias, de segunda a domingo, para ajudar no sustento da sua família. Mora com o seu marido e sobrinhos numa pequena palhota no bairro de Adine 2.

Ao contrário de outros dias, no passado dia 13 de Novembro, Consolata saiu de casa mais tarde do que o habitual, por volta das 9h00, para ver o que a terra poderia dar para o gáudio da sua família.

Longe de imaginar o que os astros lhe reservavam, percorreu calmamente os primeiros dois quilómetros da viagem. De súbito, começou a pressentir que algo estranho estava para acontecer, porém, ignorou o seu sexto sentido.

Depois de percorrer alguns metros, próximo do cemitério municipal de Cuamba, ela depara, na direcção oposta, com dois homens numa mota cor azul de marca Lifo, que de repente decidiram inverter a marcha e começaram a seguir a jovem.

“Não estranhei a situação, pois achei que deviam ter esquecido alguma coisa do outro lado da cidade, até porque conhecia um deles de vista”, conta Consolata. Numa marcha lenta, ela constantemente olhava para os indivíduos que vinham atrás de si à mesma velocidade.

Quando se aproximavam a ponte sobre o rio Namutimbua, eles fizeram uma ultrapassagem a uma velocidade estonteante e perderam-se entre a poeirenta estrada.

A motorizada era conduzida pelo agente da PRM. Minutos depois, a moça de 19 anos de idade vê o polícia a regressar sozinho e, de seguida, apercebe-se de uma situação esquisita: o polícia começa a segui-la. Preocupada e assustada, pensou em inverter a marcha e regressar à casa ou apertar no acelerador.

Mas acabou por optar pela segunda alternativa. Na primeira curva que encontrou, deparou com o fulano que vinha transportado na mota azul parado no meio da estrada, numa zona pouco movimentada, fazendo sinal para que ela abrandasse, ao que ela obedeceu. Mais tarde, chegou o polícia.

Sem uniforme da PRM, os homens exigiram documentos da mota. Sabendo que um deles é polícia, Consolata mostrou toda a documentação do veículo, porém, os indivíduos disseram-lhe que tinha expirado e teriam de levar a mota para a cidade, não especificando o local.

Insatisfeita com a situação, até porque a data de validade dos documentos não tinha vencido, recusou-se a cumprir com o exigido, tendo recebido uma violenta chapada no rosto. Os indivíduos pegaram na motorizada e puseram-se em fuga.

Abandonada no meio da rua e sem meio de transporte para voltar para a cidade, Consolata contou com a bondade de um transeunte que a deixou com o primeiro polícia de trânsito com que cruzaram no caminho de regresso à casa.

Expôs o incidente ao agente, e este, por sua vez, acompanhou-a até ao comando distrital onde meteu a queixa. “Perguntaram-me se eu conhecia a pessoa, eu disse que conhecia apenas de vista e mandaram-me voltar na hora da concentração”, diz. No mesmo dia, quando já eram 15h00, todos os agentes da PRM foram perfilados no vasto pátio do comando.

Consolata foi chamada a apontar o polícia que se apropriou da sua motorizada e ela não se deixou intimidar, tendo indicado o homem. Recolhido para as celas, o polícia desmentiu insistentemente ser o autor do assalto, afirmando que não tinha saído de casa naquele dia.

Porém, depois de ter sido pressionado várias vezes, acabou por confessar o crime e, por voltas das 22h00, devolveu o veículo e a documentação. Foi detido durante menos de uma semana – facto que deixa intrigada Consolata –, enquanto o seu parceiro se encontra a monte.

Embora haja informações de que ele foi um dos autores, o chefe das operações do Comando Distrital da PRM em Cuamba, Celestino Ziade, disse ao @Verdade que o agente foi solto por falta de provas.

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