O estimado leitor já ouviu falar de Karaage e Nitamago? Que dizer do Imonkepi? O que é que esses nomes lhe sugerem? Se até àquela data (26 de Agosto de 2012) não existisse nenhuma relação entre as nações japonesa e moçambicana, nada nos impediria de afirmar que o Imokenpi é o símbolo da aliança entre ambos. Quando a gastronomia se impõe, os povos aproximam-se…
Nos dias em que a Vila de Quissico, distrito de Zavala, na província de Inhambane, celebrou 40 anos de elevação àquela categoria, conhecemos Sota Koide. Na verdade, Sota, como muitos cidadãos estrangeiros que se encontravam naquela região do país, sobretudo os americanos, é um voluntário do seu país, o Japão. Possui formação superior na área de desenvolvimento rural e, por essa razão, encontrava-se em Inhambane a dinamizar projectos nesse sentido.
Mas porque naqueles dias de Agosto, a Vila de Quissico se encontrava em festa, Sota e a sua equipa, constituída por perto de dez pessoas, envolveram-se naquele ambiente festivo e, entre as várias manifestações culturais do seu povo, colocaram em exposição a sua gastronomia, incluindo algumas modalidades desportivas típicas do seu país. Os zavalenses animaram-se com a mostra, mas é na gastronomia onde as suas opiniões se dividiram.
O nosso repórter sociocultural, que se encontrava no local, não foi excepção, mas, no mínimo, degustou o Imokenpi. “Geralmente as pessoas têm algum receio de provar a comida japonesa, sobretudo quando se trata de Nitamago.
É que para os moçambicanos aquele ovo misturado com óleo de soja é um pouco estranho. Os moçambicanos nunca tinham visto isso antes, mas em relação ao Karaage (a carne de galinha) e o Imokenpi (que é a mandioca doce), nota-se uma demanda crescente”, explica.
Como se pode perceber, no sector de gastronomia, os japoneses exibiram três pratos principais, nomeadamente Karaage (galinha frita), Nitamago (ovo cozido) e Imokenpi (mandioca açucarada). Mas como é que estas iguarias são preparadas? Em princípio, não há nenhuma intenção de oferecer ao leitor um receituário para a preparação destas comidas.
“O primeiro prato é feito de galinha com óleo de soja, gengibre e alho. Tempera-se a carne e depois frita-se com o óleo de soja. O segundo prato chama-se Nitamago e faz-se com ovo temperado com óleo de soja e alho. Por fim, temos o Imokenpi que é uma refeição preparada com base na fritura da mandioca misturada com açúcar.
É muito simples”, explica muito rapidamente Sota ao mesmo tempo que (em relação ao terceiro prato) considera que “se está diante de uma metáfora em que a mandioca – preparada em Inhambane ao estilo japonês – é a refeição em que se mesclam as culturas de ambos os povos”.
“Em Moçambique, nós, o povo japonês, apreciamos as comidas locais. A xima, a matapa e a xiguinha são alguns exemplos, mas de um modo geral gostamos de tudo. Estamos satisfeitos com a gastronomia moçambicana”.
A verdade é que em Japão não se produz a mandioca. Existe a batata-doce, no entanto, “como a mandioca é um produto passível de gerar um sabor doce, entendemos que a partir dela se podia aproveitar para a produção da comida japonesa”.
Um programa virado para o desenvolvimento
Além da questão da gastronomia, o que chamou a nossa atenção em relação ao grupo de voluntários japoneses foi o seu empenho na manutenção da limpeza no espaço público.
“Temos estado a desenvolver um projecto de salubridade pública e do meio ambiente que consiste na recolha do lixo, garantindo-se, desta forma, que a Vila de Quissico se mantenha sempre limpa. Mas, a par disso, sensibilizamos as pessoas para que não deixem o lixo em qualquer lugar que não sejam as lixeiras”.
O colectivo que opera há cerca de dois anos naquela região do país faz um balanço positivo do seu empenho, não obstante a timidez com que se notam as mudanças. “Estamos a tentar aprofundar as nossas relações de amizade com o povo moçambicano. Somos pessoas que (à semelhança de outros povos como o americano) comungamos da ideia de fortificar a nossa proximidade e cooperação com este país. A experiência é muito boa. Estamos satisfeitos”.
De acordo com Sota, com base num projecto de financiamento de projectos de desenvolvimento rural que se assemelha ao fundo para o desenvolvimento das iniciativas do distrito, dirigido pelo Estado moçambicano, o Governo japonês tem apoiado aos projectos de desenvolvimento no distrito de Zavala.
A diferença é que o cidadão não concorre ao financiamento, mas com base numa avaliação – feita pelo Governo – ele beneficia do dito apoio. Na referida iniciativa, Sota trabalha como avaliador e interlocutor.
“A iniciativa começou há dois anos. Os resultados são animadores. Por exemplo, em Zavala há muitos produtos agrícolas que podem ser processados. Há moageiras que processam o milho. Com base na iniciativa que dirijo, o Governo japonês apoia os projectos de desenvolvimento local.
Antes de mais, o mesmo plano faz uma avaliação dos objectivos de cada projecto protagonizado por cidadãos moçambicanos que, por qualquer razão, ainda que seja excelente, pode estar a não evoluir. É nesse sentido que, com base na nossa avaliação, os moçambicanos que revelam necessidades são apoiados de diversas formas”.
Sota considera que, em Inhambane, há muitos pescadores zavalenses que (por diversas dificuldades) não conseguiam trazer o pescado ao distrito. Mas ao abrigo do mesmo programa, as pessoas tiveram a possibilidade de incrementar as suas actividades, incluindo as rendas.
