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Quadra Festiva – E afinal tudo se repete

A quadra festiva é, para nós, uma espécie de crise cíclica, prevista com todos os seus pormenores, conhecidos todos os seus efeitos, uma dor tão conhecida como a fome e que, nem por isso, tem dias que dói menos que noutros. A única coisa que todos prometem fazer melhor no ano seguinte e que, no entanto, se repete tão igual a si própria como se quiséssemos construir uma rotina perfeita. Afinal, o problema e só um: o dinheiro mal chega para viver, portanto não pode ser esticado para pompas.

Ainda que se não queira fazer comparações com o passado, sob pena de parecermos ou mostrarmos que somos saudosistas, há que recordar que até meados da década de ´70, a característica da quadra festiva era fazer melhores compras, aproveitando os saldos e todo o tipo de descontos promocionais. Esta situação de preços mais acessíveis por alturas do Natal e ano novo existe nas vizinhas África do Sul e Suazilândia. E a proveniência dos produtos que mal podemos comprar por estas alturas são exactamente estes dois países.

De acordo com melhores leituras que se podem fazer sobre os nossos comerciantes, a única conclusão plausível seria a de que: Formatados pelas crises dos tempos de abastecimento, em que nada era suficiente para quase quem quer que fosse, cresceu a mentalidade das aflições, geradora da especulação. Portanto, como todos não tínhamos que chegasse, surgiu o comércio das oportunidades, de exploração de uma espécie de estado de necessidade das pessoas.

Não há falta de produtos no mercado, nenhuma circunstância de custos produziu dificuldades que possam justificar uma subida dos preços. O que acontece é a implantação da cultura de bons momentos de negócio, numa altura em que toda a socied a d e está vinculada à aquisição de determinados bens. Estamos perante uma especulação sindicalizada, num país em que cresce a tendência de as leis serem ditadas por grupos de interesse, que aproveitam, e de forma errada, a abertura ao associativismo para inverter a própria ordem estabelecida.

Está visto que a nossa produção de cebola mal dá para alimentar o nosso mercado, sendo, por isso, que nos fornecemos através da África do Sul, país que, por estas alturas do ano, não tem motivos para elevar os preços deste produto. De oitenta, o saco de cebola passou para cento e vinte Meticais. As “mukheristas” dizem que os preços subiram na África do Sul e Suazilândia, não havendo interesse em desmenti-las, mas convenhamos que são elas a causa desta subida. Portanto, a partir da altura em que os fornecedores descobrem que, durante a quadra festiva, os moçambicanos triplicam os preços, nada mais têm a fazer que não seja tirar vantagens da situação.

Exemplo disso é também a batata, que atingiu hoje o absurdo preço de quase duzentos Meticais, sem que seja esta altura de alguma crise no país vizinho. Se há alguma crise é resultante da necessidade de vendê-la o mais rápido possível antes que se estrague. Não tem sentido, pois, por exemplo, que o preço das bebidas alcoólicas nos mercados do Estrela Vermelha, Mandela, Museu, Benfica e outros tenha subido exactamente nesta altura do ano, mas este facto só pode ser entendido nesta cultura especulativa em que os vendedores estão ciclicamente envolvidos.

Muito menos sentido tem esta atitude quando o Governo acaba de anunciar facilidades na entrada e saída de mercadorias, exactamente em homenagem à quadra festiva. Esta facilitação governamental apenas vem a tornar o negócio mais lucrativo para quem o faz e não facilitador da vida do consumidor. A razão de fundo é que há uma lacuna no sistema de controlo das medidas anunciadas, que se reflecte nesta real crise de autoridade. A situação tem sido extensiva ao sistema de transportes interprovinciais, que, apesar da redução do preço dos combustíveis e da promessa dos associados de manter as tabelas nesta altura, a especulação não perdeu a oportunidade de explorar o desespero das pessoas na ânsia de viajarem.

Até os trabalhadores moçambicanos que da África do Sul vem passar a quadra festiva são vítimas de uma polícia de trânsito extremamente rigorosa, que chega a revistar mercadorias e verificar passaportes em sítios como Brigada Montada, Junta, Benfica e outros pontos. Uma acção que, pela normal expectativa, deveria acontecer nos postos fronteiriços.É nesta ocasião que o retrato da PT dado por General Muzca vem ao de cima.

A situação acaba por se resumir em que o pobre passa um Natal e Ano novo sempre da mesma forma. Com muito pouco ou quase nada e apenas a alegria obrigatória de estar na data. Na melhor das hipóteses, uma embriaguez resultante de mistura de zurrapas ou benzinas vai produzir a euforia de passear pelas ruas e gritar como os outros. Há-de ser também o fazer de conta, e vai daí todos passamos pelas grandes lojas ou supermercados e levamos pedaços de cultura importada, o hábito de imitar os de Nova Iorque ou Paris, o montarmos em casa uma árvore de Natal e forçarmos a aberturas de prenda com uns desejos a caminho.

Enfim termos a natalícia conversa de todos e esperarmos as dívidas e fomes de Janeiro e Fevereiro. Como sempre, a estabilidade virá em finais de Março.

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