O líder líbio Muammar Khadafi discursou esta terça-feira ao povo pela primeira vez após nove dias de protestos. “Eu não sou Presidente, sou o guia da revolução”, disse, recusando qualquer hipótese de afastamento.
Khadafi considerou no seu discurso que a imagem da Líbia perante o mundo está a ser distorcida pelos manifestantes. Adiantou que a Líbia já pagou um preço elevado no passado e disse: “Nós os líbios resistimos aos Estados Unidos e Reino Unido no passado, não iremos render-nos”.
Ao desvalorizar os autores dos protestos, o líder líbio disse que os manifestantes são jovens a quem foram dadas “drogas alucinogénicas”. Confrontado com a revolta popular, adiantou que permanecerá na Líbia como “guia da revolução” e que “não tem um posto oficial para que se possa demitir”.
Khadafi pediu aos seus apoiantes para saírem à rua na próxima quarta-feira. “Lutarei até a última gota do meu sangue com o povo líbio atrás de mim”. E adiantou: “Se for necessário, usaremos a força de acordo com a lei internacional e a Constituição”. Pediu ainda aos seus apoiantes que defendam o regime que lidera desde 1969. “Todos os jovens devem criar amanhã comités de defesa da revolução: eles protegerão as estradas, as pontes, os aeroportos. Todos devem tomar o controlo das ruas, o povo líbio deve tomar o controlo da Líbia, vamos mostrar-lhes o que é uma revolução popular.”
Num tom de ameaça, Khadafi disse que, de acordo com a legislação do país, a violência contra o Estado é condenada com a pena de morte. Perante protestos populares sem precedentes, insistiu que irá lutar “até à última gota de sangue” e que os manifestantes estão “a jogar com a unidade do país”.
Em resposta ao pedido dos manifestantes para abandonar o poder, o líder líbio garantiu que não o fará. “Não vou deixar esta terra. Morrerei aqui como um mártir”. Para Khadafi, os manifestantes são “apenas alguns terroristas”. E ao negar as notícias desta segunda-feira sobre bombardeamentos com aviões militares em Trípoli, voltou à ameaça: “Ainda não usámos a força, mas iremos fazê-lo se for preciso.”
De túnica castanha, tom ríspido, o líder líbio procurou minimizar a dimensão dos protestos que já se prolongam desde dia 15 e que têm causado uma forte contestação internacional.
Segundo a Federação Internacional das Ligas de Direitos Humanos, os confrontos já causaram entre 300 e 400 mortos no país. O Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu esta terça-feira para debater a situação na Líbia e o embaixador da Alemanha, Peter Wittig, apelou a uma acção “rápida e clara”, enquanto a alta comissária das Nações Unidas para os direitos humanos, Navy Pillay, exigiu a abertura de um inquérito internacional independente sobre a violência na Líbia, adiantou a AFP.
Várias testemunhas têm relatado aos órgãos de informação internacionais que têm sido usados tanques e aviões militares para conter os protestos. O agora antigo major do Exército Hany Saad Marjaa contou à Reuters que algumas regiões na parte oriental do país já não estão sob controlo de Khadafi. “O povo e o Exército estão de mãos dadas aí.”
Tem havido várias dissidências entre os militares e ainda esta segunda-feira dois pilotos desviaram os seus aviões para Malta por terem recebido ordens para bombardear as zonas dos protestos. Mas não só. Também o ministro da Justiça abandonou o Governo por estar contra a repressão das manifestações.