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Protestos espalham pelo Brasil e manifestantes ocupam Congresso

Mais de 200 mil pessoas tomaram as ruas de diversas capitais do Brasil nesta segunda-feira, na maior manifestação popular no país em mais de 20 anos, para reivindicar melhores serviços públicos, combate à corrupção e protestar contra os gastos com o Mundial de 2014.

Com uma pauta de reivindações difusa, a onda de protestos amplificada pelas redes sociais e que inicialmente teve o aumento da tarifa de ônibus como alvo, também deu voz a críticas sobre a ação policial da semana passada, que terminou com dezenas de prisões e feridos, especialmente na capital paulista.

Apesar de a manifestação ter ocorrido de forma pacífica na maioria das cidades, no Rio de Janeiro a Assembleia Legislativa e alguns prédios históricos foram alvo de ataques e houve embates com policias.

Em Brasília, manifestantes invadiram a área externa do Congresso Nacional e a segurança do Palácio do Planalto foi reforçada. A gigantesca onda de protestos em todo o país fez com que a presidente Dilma Rousseff se manifestasse por meio da ministra-chefe da Secretaria de Comunicação, Helena Chagas.

De acordo com a ministra, a presidente “considera que as manifestações pacíficas são legítimas e são próprias da democracia e que é próprio dos jovens se manifestar”.

Os protestos ganharam força e disseminaram-se principalmente depois da quinta-feira passada, quando a manifestação em São Paulo tornou-se violenta e houve denúncias de abusos que teriam sido cometidos pela Polícia Militar.

Nesta segunda-feira, a concentração dos manifestantes na capital paulista ocorreu no Largo da Batata, zona oeste do município. O contingente, estimado pela Polícia Militar em 65 mil pessoas, dividiu-se tomando as direções da Avenida Paulista e da Marginal Pinheiros. Por volta das 22h, um grupo chegou ao Palácio do Governo, no bairro do Morumbi.

“Estamos aqui por causa da insatisfação com a corrupção e o mau uso do dinheiro público. Isso é uma revolta que devia ter acontecido há muito tempo”, disse um manifestante que se identificou apenas como Gustavo, de 34 anos, que estava enrolado numa bandeira do Brasil.

GOTA D’ÁGUA

Segundo declarações de manifestantes, o aumento da passagem foi apenas o episódio que deflagrou a onda de reivindicações. “Isso é só o começo. Os protestos vão continuar até ao Mundial de futebol em 2014 e, se não aceitarem nossas demandas, eles vão se intensificar”, disse o bancário Rafael, de 23 anos, que também não quis dizer seu sobrenome. “O preço da passagem foi a gota que fez o copo transbordar.”

Apesar de taxas de desemprego nas mínimas históricas, o país enfrenta inflação rondando o teto da meta do governo e crescimento económico tímido. As manifestações ganham corpo durante a realização da Taça das Confederações, teste final antes do Mundial de 2014 no Brasil, e pouco mais de um ano antes das eleições presidenciais.

Embora o clima da manifestação em São Paulo fosse pacífico, havia também aqueles que mostravam contrariedade com o protesto. “A corrupção no Brasil é uma coisa de todos os dias. Eles vão protestar todos os dias?”, indagou à Reuters uma mulher que se identificou como Cristina e que trabalha como caixa de um talho. “Isso não muda nada. Muitos (dos manifestantes) são estudantes de classe média. Isso não é o povo.”

No Rio de Janeiro, alguns manifestantes entraram em conflito com a Polícia Militar em frente à Assembleia – um carro foi incendiado e prédios históricos foram depredados. Segundo a PM, cerca de 100 mil pessoas ocupavam o centro da capital fluminense. “É triste, lamentável. As pessoas podem se manifestar, mas não têm o direito de destruir o património público e de agredir profissionais que estão em serviço”, afirmou à Reuters, o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB).

Em Belo Horizonte, segundo estimativa da Polícia Militar mineira, de 20 mil a 30 mil pessoas se reuniram em protesto perto do Estádio do Mineirão, onde as seleções do Taiti e Nigéria se enfrentaram pela Copa das Confederações. A manifestação ocorreu mesmo após o Tribunal de Justiça do Estado ter acatado ação cautelar, proposta pelo governo de Antonio Anastasia (PSDB), proibindo protestos que bloqueiem vias públicas, principalmente às do entorno do estádio. Houve confronto entre policiais e manifestantes. Outros protestos ocorreram em Maceió, Salvador, Porto Alegre, Belém, Vitória e Curitiba.

INSATISFAÇÃO DIFUSA

No fim de semana, manifestantes e policias enfrentaram-se antes das partidas pela Taça das Confederações entre Brasil e Japão, em Brasília, e México e Itália, no Rio de Janeiro. Os manifestantes protestavam contra os elevados gastos públicos nos preparativos para o Mundial O Brasil não via protestos tão numerosos desde os realizados em 1992, quando a população foi às ruas para pedir o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. Na capital paulista, esta é a quinta manifestação.

A pauta de reclamações vem crescendo a cada dia desde a demanda inicial contra o aumento da tarifa do transporte público de 3 reais para 3,20 reais no início do mês. Os protestos desta segunda-feira em São Paulo ocorriam de forma pacífica, num cenário diferente do visto até então.

Depois de críticas a ação da polícia na manifestação de quinta-feira, o governo estadual proibiu o uso pela polícia de balas de borrachas e não enviou a Tropa de Choque para acompanhar o protesto.

Na quinta-feira, quarto dia de manifestação na capital paulista, a Tropa de Choque disparou bombas de gás lacrimogéneo e balas de borracha, e a cavalaria da Polícia Militar ocupou a Avenida Paulista, via mais importante da cidade. Foram registrados vários relatos de abusos de policiais, com cerca de 100 feridos, segundo o Movimento Passe Livre (MPL), entre eles jornalistas que cobriam o evento. Cerca de 230 pessoas foram detidas para averiguação, e mais de 10 PMs ficaram feridos.

Embora a alta no preço da passagem tenha sido o rastilho das manifestações em todo o país, especialistas ouvidos pela Reuters entendem que o movimento emana uma insatisfação difusa. A convocação para as manifestações têm sido feitas pelas redes sociais, especialmente pelo Facebook, site no qual mais de 265 mil pessoas afirmaram que estariam presentes no ato mais recente em São Paulo.

O MPL já convocou um novo protesto em São Paulo para terça-feira, desta vez na Praça da Sé.

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