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Procurando @Verdade – Irmãos de língua

“Minha pátria é a língua portuguesa”, a frase de Fernando Pessoa já está gasta de tanto ser referida. Lembreime dela quando em Durban procurava a casa onde viveu o poeta, antes do jogo Portugal/ Brasil. Nesse dia, o Pessoa, se ainda estivesse entre nós, haveria de se sentir em casa.

Durban, como uns dias atrás a Cidade do Cabo, era também a nossa pátria. A de nós todos, a daqueles que falam português. Um mar de gente, de todas as nacionalidades, de todas as cores, professando diferentes religiões, que come e bebe, ama e odeia, louva e detesta na língua de Eça de Queiroz, Camões, Jorge Amado, Rui Cínatti, Mia Couto, José Luandino Vieira, Germano Almeida e de tantos, tantos outros milhões de homens e mulheres.

O Mundial foi, para mim, muito mais que um evento onde se joga futebol. Foi uma celebração da língua portuguesa. Senti-me em casa, como me sinto sempre que vou a um local onde as mulheres são mulheres, moças, raparigas ou, eis a palavra mais doce do nosso idioma, meninas. Onde sinto, como dizia o Caetano Veloso, a minha língua roçar a língua de Luís de Camões. Serviu, sobretudo, para me sentir parte de alguma coisa que transcende fronteiras.

Que há alguma coisa que une os moçambicanos, angolanos, cabo-verdianos, são-tomenses, portugueses, timorenses, brasileiros, goeses, vivam nos seus países, vivam num qualquer outro sítio do mundo. Como os irmãos, podemos nos zangar, podemos ser cruéis uns com os outros – e tantas vezes o fomos –, podemos, até, muitas vezes fingir que não andamos preocupados uns com os outros.

Mas, no fundo, vivemos com o coração sobressaltado com aqueles, com quem mais do que uma história em comum e um modo de falar e escrever, partilhamos um destino. Tenho de agradecer ao futebol muitas coisas: amigos, alegrias, paixões, muitos copos e boa conversa.

Nunca, porém, lhe poderei agradecer o que me fez, de novo, compreender, que faço parte de uma coisa que transcende fronteiras, credos, cores e raças: sou irmão de todos os que falam português. E não há nada que destrua esse laço.

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