O primeiro-ministro da Tunísia, Mohamed Ghannouchi, incluiu na segunda-feira membros da oposição no novo gabinete de unidade nacional, e prometeu libertar todos os presos políticos no país, após a rebelião que levou à fuga do ex-presidente Zine al Abidine Ben Ali, na sexta-feira. O ministro do Interior, Ahmed Friaa, disse à televisão estatal que ao menos 78 pessoas foram mortas durante os confrontos, e que o prejuízo econômico e material até agora está estimado em 2 bilhões de dólares.
Cerca de mil manifestantes saíram às ruas exigindo que o partido de Ben Ali deixasse o poder, e alguns disseram que não aceitarão membros do antigo governo na nova coligação.
As forças de segurança usaram jatos d’água e gás lacrimogêneo para dispersar a manifestação, que terminou pacificamente. Os ministros de Defesa, Interior, Finanças e Relações Exteriores do antigo governo serão mantidos em seus cargos, mas dirigentes da oposição, como Najib Chebbi, também terão espaço, segundo Ghannouchi. Chebbi, fundador do Partido Democrático Progressista (PDP), o principal da oposição, será o ministro do Desenvolvimento Regional.
Os oposicionistas Ahmed Ibrahim e Mustafa Ben Jaafar também ocuparão cargos. “Estamos comprometidos em intensificar nossos esforços para restabelecer a calma e a paz no coração de todos os tunisianos. Nossa prioridade é a segurança, bem como a reforma política e econômica”, disse Ghannouchi.
A rebelião contra Ben Ali foi alimentada pelo descontentamento popular contra a pobreza, o desemprego, a repressão das autoridades e a corrupção. Ghannouchi prometeu que todos os cidadãos com grandes fortunas ou suspeitos de corrupção serão investigados. Mas, nas ruas da capital, muitos tunisianos se mostravam céticos com os rumos do novo governo. “Não confiamos neste governo porque estão lá os mesmos rostos, como Ghannouchi, (o chanceler Kamel) Morjane e particularmente (o ministro do Interior, Ahmed) Friaa. Ele (Ghannouchi) não mudou nada. É como se o sistema de Ben Ali ainda estivesse ali. Por essa razão as manifestações estão a continuar em Túnis. Queremos um novo Estado com novas pessoas”, disse um Mohamed Mishrgi.
Outro transeunte, Hosni Saidani, acrescentou: “É difícil confiar nesta gente, porque eles participaram no sistema de Ben Ali, mas eles não tiveram coragem de lhe dizer: ‘Chega’. Então como eles poderão fazer uma mudança para a democracia?” Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, P.J. Crowley, disse que “até o momento, o governo da Tunísia está fazendo o necessário para tranquilizar seu povo, restaurar um senso de calma e traçar um caminho para frente liderado por um governo de unidade.”
Fouad Mebazza, presidente do Parlamento e empossado como presidente interino da República, pediu a Ghannouchi que formasse um governo de unidade nacional, e as autoridades constitucionais dizem que a eleição presidencial deve ser realizada em 60 dias. Moncef Marzouki, professor de medicina e dirigente do partido CPR no exílio, na França, disse à Reuters que será candidato ao governo.
Ben Ali fugiu para a Arábia Saudita, e a crise tunisiana – iniciada depois de um jovem se imolar ao ser proibido de vender frutas como ambulante – repercute em outros países árabes onde governos autoritários tentam conter mobilizações populares. Há relatos de que quatro homens atearam fogo a si próprios na Argélia, além de um no Egito e um na Mauritânia.