O Banco Mundial (Bird) escolheu, esta Segunda-feira, o especialista em saúde Jim Yong Kim como seu novo presidente, mantendo o controle de Washington sobre o posto e levando os países em desenvolvimento a questionar o processo de selecção.
O coreano-americano Kim, de 52 anos, derrotou na disputa a ministra das Finanças da Nigéria, Ngozi Okonjo-Iweala, contando com o apoio de aliados de Washington na Europa ocidental mais Japão e Canadá.
Diferentemente das decisões anteriores, não houve unanimidade entre os 25 membros do conselho. O Brasil havia anunciado pouco antes do anúncio do Bird que decidira apoiar Okonjo-Iweala.
Outro país dono de economia emergente a apoiar a candidata nigeriana foi a África do Sul. Três fontes disseram ainda que China e Índia apoiaram Kim.
“Os concorrentes receberam apoio de diferentes Estados-membros, o que reflectiu o alto calibre dos candidatos”, disse o Bird sobre o anúncio do seu conselho.
Kim, presidente do Dartmouth College, assumirá o posto, a 1º de Julho, com a saída do actual presidente Robert Zoellick.
“Vou buscar um novo alinhamento do Banco Mundial com um mundo em rápida transformação”, afirmou o coreano-americano em comunicado emitido do Peru, sua última parada num tour global que começou depois de Barack Obama tê-lo indicado ao Bird.
“Juntos, com parceiros novos e antigos, vamos promover uma instituição que responda efetivamente às necessidades de seus diversos clientes e doadores; ofereça resultados mais fortes no apoio ao crescimento sustentável; priorize soluções baseadas em evidências por cima da ideologia; amplifique as vozes dos países em desenvolvimento; e baseie-se na experiência das pessoas que atendemos”, acrescentou Kim.
A concorrente Okonjo-Iweala parabenizou Kim e disse esperar trabalhar em conjunto com o futuro presidente da instituição. No entanto, a ministra nigeriana defendeu melhoras no processo de selecção.
“Está claro para mim que precisamos de tornar o processo mais aberto, transparente e baseado no mérito”, disse Okonjo-Iweala. “Precisamos de ter a certeza de que não contribuímos para um déficit democrático em governação global”, completou.
Os Estados Unidos mantêm a presidência desde a fundação do Banco Mundial depois da Segunda Guerra Mundial. O Fundo Monetário Internacional (FMI), por outro lado, sempre foi liderado por um europeu.
Quebrando o padrão
Diferentemente de outros presidentes do Banco Mundial, Kim não é político, banqueiro nem diplomata. Médico e antropólogo, já trabalhou para garantir acesso à saúde em países em desenvolvimento. Combateu tuberculose no Haiti e em Pequim. E ajudou a tratar de pacientes com HIV em prisões russas.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deu boas-vindas à escolha de Jim Yong Kim como presidente do Banco Mundial, dizendo-se satisfeito com a abertura e a transparência do processo de selecção.
“Agradeço o forte apoio dado ao Dr. Kim por líderes de todo o mundo”, afirmou Obama em comunicado. Obama ainda elogiou o futuro presidente, que teve a candidatura proposta pelos EUA, por ser um líder inclusivo.
“Estou feliz de que este tenha sido um processo de escolha aberto e transparente, e gostaria de aproveitar a oportunidade para reconhecer as qualificações e o compromisso dos outros dois candidatos”, completou Obama.
A disputa envolveu três candidatos até Sexta-feira, quando o ex-ministro das Finanças da Colômbia José Antonio Ocampo retirou o seu nome da corrida. Ele disse que o processo, que deveria ter como base as credenciais dos candidatos, tornou-se político.
O ministro das Finanças da África do Sul, Pravin Gordhan, comemorou o facto de não-americanos terem disputado o posto pela primeira vez, mas também afirmou haver preocupações de que o processo não tenha se baseado totalmente em mérito.
“Acho que vamos descobrir que o processo ficou aquém disso”, disse Gordhan à Associação dos Correspondentes Estrangeiros na África do Sul, acrescentando que também houve “sérias preocupações” de que a decisão não contou com transparência.
O actual presidente Robert Zoellick disse que a base científica de Kim para atingir-se resultados será de valor inestimável para o Bird e a sua modernização.
Já o secretário britânico para desenvolvimento internacional, Andrew Mitchell, declarou que Kim já mostrou que pode liderar mudanças.
“Como primeiro desenvolvimento profissional para chefiar o Banco Mundial, a considerável experiência de Jim Kim será vital para levar adiante o seu programa ambicioso de reforma e modernização”, afirmou.