O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse, Domingo, que a Organização dos Estados Americanos (OEA) está no dilema histórico de “refundar-se” com uma visão anti-imperialista ou continuar até desaparecer ao “serviço” dos interesses dos Estados Unidos.
Morales fez a advertência num discurso combativo com o qual pareceu tornar num acto de proselitismo a abertura da assembleia anual de chanceleres da OEA na cidade de Cochabamba, no meio de crescentes críticas ao papel do organismo continental.
“Para a OEA, há dois caminhos: morre ao serviço do império ou renasce para servir aos povos da América”, disse Morales, constantemente interrompido por aplausos, depois de afirmar que o órgão criado na primeira metade do século passado nasceu como um “ministério de colónias dos EUA”, para combater o socialismo.
O presidente boliviano defendeu a “refundação” da OEA poucos minutos depois de o secretário-geral do organismo, o chileno José Miguel Insulza, ter defendido o órgão como um fórum continental “imprescindível” acima de qualquer crítica.
“Enquanto, alguns falam de acabar com a OEA ou de ‘superar a OEA’, ou de OEAs sem um ou outros países, são cada vez mais os países que recorrem à ela, sabendo que aqui encontrarão sempre um espaço de diálogo”, disse Insulza.
Morales criticou o papel da OEA no que chamou de “acobertamento” de ditaduras nas décadas passadas e disse que a “refundação” deve incluir o desaparecimento de instituições como o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (Tiar) e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
Da plateia, composta em grande parte de representantes de movimentos sociais de vários países do continente, houve gritos de “Mar para Bolívia, Malvinas para a Argentina”, no que Morales aproveitou para dizer que “nem guerras nem invasões dão direitos.”
A Bolívia pede, há mais de um século, a recuperação de uma saída soberana para o Oceano Pacífico, que perdeu em guerra para o Chile.
A questão está invariavelmente na agenda das reuniões da OEA desde 1979, quando o órgão declarou o tema de “interesse continental.”
As questões de acesso boliviano ao mar e a recuperação das Malvinas para a Argentina serão abordadas, na tarde da Terça-feira, na plenária final da assembleia, que até então concentrou as suas discussões sobre uma declaração sobre a segurança alimentar com a soberania.