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Preparação da coreografia do Festival de Cultura

Uma mulher apaixonada pela mulher

Os trabalhos de preparação do bailado que vai abrilhantar a cerimónia de abertura do VII Festival Nacional de Cultura, evento que terá lugar entre os dias 11 e 15 de Julho próximo na cidade de Nampula, estão a decorrer num ritmo considerado satisfatório tendo em conta o empenho de cada um dos membros dos grupos envolvidos nos respectivos ensaios.

Esta satisfação foi manifestada pela cantora de música tradicional e coreógrafa, Pérola Jaime, que, há pelo menos dois meses, está engajada nos trabalhos de preparação de mais de cinco grupos culturais da cidade, além dos próprios responsáveis que estão a colaborar no sentido de garantir a materialização dos objectivos predefinidos nos mencionados ensaios, cujas actividades iniciaram no princípio do mês de Abril último.

Refira-se que participam nos ensaios os seguintes grupos culturais: Chipimpi dos bairros de Muhala, Muahivire e Namuatho, Associação Issi Rahamani, Beira-Mar de Namicopo, Estrela Vermelha e Força da Mudança do bairro de Carrupeia.

Entretanto, a coreógrafa Pérola Jaime revelou, em entrevista ao @Verdade, que antes de montar a coreografia por si pretendida, fez uma investigação não muito profunda, mas afirma que andou de grupo em grupo para tentar compreender o tipo de dança e as respectivas formas, tendo unido as danças, por exemplo, de N’sope, Tufo, Nsiripuit e Muicasope.

Salientou que, pelo facto de haver muitos grupos de Tufo e o N’sope, o desafio foi acasalar as duas danças e colocar todas as 500 pessoas envolvidas nos ensaios a dançar a mesma coreografia.

“Pegámos todos os passos e unimos, visto que se trata de um estilo de dança praticado em várias regiões, por isso tentámos fazer uma sincronia nesse sentido”, disse e acrescentou que teve de recorrer às edições do Festival Nacional de Cultura realizados noutras províncias do país.

Em relação à qualidade das exibições do bailado, garantiu que será diferente comparativamente aos anos anteriores. Mas disse que tal avaliação será feita pelo público.

Dificuldades enfrentadas no princípio

A nossa entrevistada revelou, igualmente, que no princípio enfrentou dificuldades relacionadas com a comunicação com os integrantes dos grupos, uma vez que grande parte não fala fluentemente a língua portuguesa.

Essa situação obrigou a comissão organizadora a procurar um tradutor. Ela é natural da província de Gaza. Mas porque a cultura expressa-se de diferentes formas, os referidos constrangimentos foram sendo ultrapassados com o andar do tempo.

“No início dos trabalhos houve pessoas que se achavam melhores em relação aos outros colegas, mas isso mudou porque o maior objectivo é unir os povos e as culturas e é isso que vai acontecer no próprio festival”, frisou a fonte tendo acrescentado que não importa ser-se o vencedor, mas o facto de apenas participar para, também, exibir as potencialidades culturais da sua província.

No que tange aos ensaios que envolvem a camada mais jovem, Pérola Jaime afirmou que introduziu uma dinâmica que consistiu em unir no mesmo grupo jovens de ambos os sexos. E isso fez com que as mulheres pudessem perceber que não estão isentas de algumas danças, alegadamente, definidas como masculinas.

Por exemplo, disse que muitos deduzem que a dança de Nsiripuit é apenas praticada por homens, o que não constitui verdade, nos dias de hoje, onde todos temos os mesmos direitos.

Faltam duas semanas

Numa altura em que faltam duas semanas para a realização do VII Festival Nacional de Cultura, Pérola Jaime disse que, neste momento, decorrem trabalhos relacionados com as “limpezas” das coreografias no sentido de organizar os participantes de forma a não defraudar as expectativas.

Acrescentou ainda que resta apenas a realização dos ensaios envolvendo todas as delegações provinciais para o desfile no dia de abertura do evento que vai transformar Nampula numa verdadeira capital da cultura.

De acordo com a fonte, tal ensaio só poderá iniciar no dia oito de Julho, data em que começam a chegar as delegações participantes. De lembrar que na qualidade de anfitriã do VII Festival Nacional de Cultura, a província de Nampula vai participar no mencionado evento cultural com mais de 500 artistas e o respectivo pessoal de apoio técnico.

Quem é Pérola Jaime

Uma cidadã, natural da província de Gaza. Quando tinha 20 de idade, sonhava em tornar-se uma profissional de saúde, desejo que não foi concretizado por não dispor de idade exigida no Instituto de Ciências de Saúde localizado na cidade da Beira, tendo escolhido a profissão de bailarina. Inscreveu-se no Centro de Teatro e Dança, na cidade de Maputo, apostou na componente de dança, e durante oito anos trabalha como bailarina.

Afirmou que sofreu dificuldades em encarar a profissão de bailarina porque a sua igreja (Protestante do Nazareno) olha para a dança como uma violação dos mandamentos da lei de Deus. Ela decidiu dar o prosseguimento aos seus estudos sem o consentimento dos familiares e da comunidade da sua confissão religiosa.

“As pessoas, incluindo a minha família, aperceberam-se de que eu estava ligada ao mundo da dança num encontro presidido pelo antigo chefe de Estado, Alberto Joaquim Chissano, no qual fui convidada e a minha mãe foi a primeira pessoa do bastidor que me abraçou, depois da actuação”, disse acrescentando que depois de terminar o curso preferiu informar a sua família com antecedência por meio de uma carta, constituída por dois parágrafos, mas objectiva.

Em relação à formação académica, Pérola Jaime diz que frequentou a escola até a nona classe do antigo Sistema Nacional de Educação. E não tem ambições de continuar com os estudos porque neste momento pretende dedicar-se à dança, visto que criou já uma Academia de Dança, localizada em Maputo.

Ao terminar disse que ser bailarina é uma profissão igual a qualquer uma que necessita de um investimento para a sua concretização, mas em Moçambique é difícil viver de dança porque a sociedade ainda não está preparada.

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