O Presidente Filipe Nyusi questionou semana finda a operadores turísticos o que está a falhar e o que deve ser feito para que Moçambique deixe de ter apenas potencial turístico e torne-se numa “potência como destino turístico”. A resposta é mais do que conhecida e cabe ao seu Executivo a responsabilidade de abrir Moçambique aos turistas, começando por rever a actual política de vistos e minimizando o elevado custo das passagens aéreas dos voos domésticos.
“Na qualidade dos que fazem o turismo, convidamos-vos para trocarmos impressões sobre o que fazer para que o país seja de facto turístico. É só assim que o país pode sair da caixa, pois não podemos estar dentro da caixa infinitamente. Temos que abrir a caixa e sair. Temos que deixar de ser potencial país para sermos uma potência. Moçambique, como destino turístico, o que está a falhar, o que fazer e como fazer?”, disse o Chefe de Estado no encontro de reflexão que decorreu nos seus escritórios em Maputo.
Enquanto o ministro da Cultura e Turismo, Silva Dunduro, apontou o fraco uso de tecnologias de informação, a falta de recursos humanos qualificados e a deficiência dos transportes públicos e aéreos as causas da fraca procura de Moçambique como destino turístico os operadores puseram o “dedo nas feridas”: é preciso definir com clareza e visão estratégica quais os destinos turísticos em Moçambique; é fundamental rever a política de vistos em prática não em termos de custo mas principalmente não dificultar os procedimentos da sua obtenção; é imperativo que seja possível viajar dentro do nosso País a “low cost”.
“Moçambique deve definir os destinos turísticos que pretende desenvolver”, declararam os operadores, associados na Federação Moçambicana de Turismo e Hotelaria(FEMOTUR), num documento que na ocasião apresentaram ao Presidente Nyusi e onde recomendam “um máximo de três ou quatro”, tendo em conta os grandes volumes de investimento necessário para se erguerem as infra-estruturas públicas e privadas necessárias nesses locais que, no entender do sector privado, seriam: a Ilha de Moçambique, Gorongosa/ Chimanimani, Vilankulo e a cidade de Maputo.
“Quando mais complicamos a vida do turista menos competitivos seremos”
A FEMOTUR sugere que é necessário definir uma nova política de vistos de entrada que permita aos turistas provenientes dos Estados Unidos da América, Canadá, Reino Unido, União Europeia sem incluir Portugal, Japão, Brasil e Rússia obterem vistos de fronteira, “com possibilidade de pelo menos duas reentradas ao preço de 50 dólares norte-americanos”.
No que diz respeito ao custo das passagens aéreas dentro de Moçambique os operadores turísticos apresentaram um pequeno quadro comparativo entre as tarifas das companhias aéreas que voam para Maputo e os preços praticados pelas Linhas Aéreas de Moçambique(LAM) versus o número de horas de voo.
Uma passagem Maputo – Pemba -Maputo, que dura 2 horas e 30 minutos custa 37.980 meticais. Todavia a Qatar cobra pela viagem de 8 horas 05 minutos, Maputo – Doha – Maputo, 40.288 meticais. A Ethiopian vende a 36.700 meticais uma passagem Maputo – Adidis Abeda – Dubai – Maputo, que demora 9 horas e 35 minutos enquanto a TAAG está a vender um voo de 12 horas, Maputo – Luanda – Lisboa – Maputo, a 24.600 meticais.
“Concluímos que provavelmente existem custos operacionais alheios à LAM, os quais contribuem grandemente no peso da estrutura do preço da passagem aérea” doméstica, afirma a FEMOTUR que sugeriu a remoção, ou redução, dessas taxas para que o preço dos voos internos baixe.
O sector privado do ramo turístico questionou ainda a vontade do Governo de limitar para três os aeroportos de recepção de voos internacionais, “quando mais complicamos a vida do turista – nacional ou estrangeiro – menos competitivos seremos”, declaram.
A Federação Moçambicana de Turismo e Hotelaria apontou ainda as estatísticas como não sendo “de todo fiáveis”, justificando com uma comparação entre os dados oficiais de turistas estrangeiros que supostamente visitaram o nosso País em 2015, 1,6 milhão, e as receitas alegadamente arrecadas, 193 milhões de dólares norte-americanos, assumindo que a estadia média por turista em Moçambique seria de 3 dias o valor médio pago por turista seria de 40 dólares por dia, “como é que o turista pagaria as suas despesas de alojamento, alimentação e transporte com apenas 40 dólares por dia”, questionaram.
A conclusão é “ou o número de turistas que entrou no País não é real, ou a receita arrecadada também não é real”.
O sector privado pediu ainda a revisão da aglomeração do Turismo e a Cultura num mesmo Pelouro, “a prática leva-nos a pensar que falta um nível de coordenação superior para o Ministério do Turismo mais cinco” outros Ministérios directamente correlaccionados.
Um dos membros da FEMOTUR relatou ao @Verdade que o Presidente Filipe Nyusi mostrou-se surpreso com as constatações que a associação apresentou e exigiu dos representantes dos vários Ministérios presentes no encontro soluções rápidas, “já no próximo Conselho de Ministros”, revelou a fonte que se mostrou bastante esperançada na atitude demonstrada pelo Chefe de Estado.
Todavia, a fazer fé na informação divulga à imprensa após mais uma sessão ordinária do Conselho de Ministros que teve lugar nesta terça-feira(13), nenhum decisão foi tomada relativamente ao Turismo, sector considerado prioritário para o desenvolvimento de Moçambique.