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População de Muecate diz que não quer guerra mas sim insumos agrícolas

A população de Namahie-Grácio, região que acomodou uma base de guerrilha da Renamo, considerada estratégica nas suas acções de desestabilização durante o conflito armado no norte do país, no posto administrativo de Imala, distrito de Muecate em Nampula, repudia o discurso belicista do líder do maior partido político de oposição, Afonso Dhlakama, por incitar à violência numa altura em que as atenções devem estar viradas para a produção.

Nanticua é o nome que a Renamo deu à sua base em Namahie-Grácio, criada após as forças governamentais terem destruído a Casa Banana no distrito de Gorongosa, em Sofala, de onde muitos ex-guerrilheiros da “perdiz” fugiram, concentrando-se naquela região de Muecate desde a assinatura do Acordo Geral de Paz, em 1992.

Em conversa com a reportagem do Wamphula Fax, disseram que em Muecate, concretamente em Namahie-Grácio, encontraram uma região fértil para desenvolver práticas agrícolas suscepítiveis de garantir o seu sustento e das suas famílias idas de várias províncias do centro e sul do país, pelo que não estão interessados em retornar à guerra e muito menos a envolverem-se em acções de qualquer tipo de desestabilização.

“Sabemos melhor que ninguém o preço da guerra que nos levou a separar-nos dos restantes membros da nossa família, que não sabemos onde estão e se vivem ou não” – referiu Celestino Gaveta, que integrou a guerrilha da Renamo depois de ter sido raptado em Morrumbala, província da Zambézia, e treinado na base da Gorongosa, em Sofala em 1985, quando tinha apenas 15 anos de idade.

Por seu turno, Carlos Bondzo, natural do distrito de Manica, província do mesmo nome, não se quer lembrar do seu passado como guerrilheiro da Renamo, “porque sinto que fui enganado para lutar contra os meus irmãos e hoje é a mesma pessoa que vem com discursos belicistas para nos empurrar de novo ao conflito. Não acho possível que se possam promover manifestações pacificas com a finalidade de persuadir um partido no poder que deixe de governar” – ajuntou.

No entanto, o entrevistado observa que o governo deve prestar a devida atenção para a necessidade de aumentar os apoios prestados aos produtores, sobretudo em insumos agrícolas, que considera insuficientes em relação ao crescente empenho demonstrado pela população em incrementar e diversificar o volume das culturas.

Estimada em cerca de 18 mil habitantes, a população de Namahie-Grácio dedica-se com apego à produção alimentar e de rendimento, nomeadamente milho, mandioca, mapira, amendoim, gergelim, algodão e castanha de caju, que, na presente época, atingiu níveis satisfatórios apesar da escassez de chuvas.

Paiva Ntchipo, chefe da localidade de Namahie-Grácio, salientou progressos no relacionamento entre o governo e as populações daquela região, algo que não se registava há anos.

A melhoria no abastecimento de água e na prestação de cuidados sanitários, consubstanciado na abertura de nove fontes e a construção de um centro de saúde com maternidade, e a reabilitação das vias de acesso que facilitam a comercialização e escoamento dos excedentes dos produtores pelos intervenientes aliviou o sofrimento das populações e reforçou o relacionamento destas com o governo.

A mudança de mentalidade de quem viveu a guerra durante mais de uma década não se concretiza em pouco tempo – observa Paiva Ntchipo, referindo que o governo tem, consequentemente, estreitado a colaboração com a população local, visando a implantação dos seus programas virados para o desenvolvimento com apoio dos seus parceiros, e, entre algumas transformações registadas, destacou a aceitação das comunidades em matricularem os seus filhos no ensino e da adesão das mulheres ao parto institucional.

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