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Polícia usa gás lacrimogéneo no Cairo

A polícia disparou gás lacrimogéneo no centro do Cairo, esta Segunda-feira (15), quando os manifestantes que pedem o restabelecimento do presidente deposto islâmico Mohamed Mursi conflituaram com motoristas e pedestres irritados com o bloqueio das principais ruas.

Os partidários de Mursi, o primeiro presidente eleito livremente no Egito, lançaram pedras contra a polícia perto da rua Ramses, uma das principais vias da capital, e na Ponte Seis de Outubro, sobre o Nilo, no primeiro surto de violência no Egito em uma semana.

“É o Exército contra o povo, esses são os nossos soldados, não temos armas”, disse Alaa el-Din, um engenheiro de computação de 34 anos, segurando um laptop. “O Exército está a matar os nossos irmãos, ele está destinado a me defender e ele está a atacando-me. O Exército voltou-se contra o povo egípcio”.

Embora em menor escala e mais localizadas do que os confrontos anteriores desde que Mursi foi deposto pelos militares a 3 de Julho, as cenas de conflitos de rua aumentarão ainda mais as preocupações com a estabilidade no país mais populoso do mundo árabe.

Testemunhas oculares disseram que milhares de manifestantes pró-Mursi estavam na área e a polícia usou gás lacrimogéneo várias vezes para tentar controlar a multidão. Um grande fogo ardia na ponte, embora a causa não estava imediatamente clara.

Os confrontos aconteceram durante a visita do primeiro funcionário graduado dos Estados Unidos ao Cairo depois da deposição de Mursi. Ele foi esnobado por políticos islâmicos e por seus oponentes, esta Segunda-feira.

Uma multidão de seguidores de Mursi ocupou uma praça perto de uma mesquita na zona nordeste do Cairo, levando uma gigantesca bandeira egípcia, cartazes e retratos do político, que ficou um ano no cargo e foi derrubado pelas Forças Armadas, depois de imensos protestos populares.

O Exército alertou, esta Segunda-feira, que vai reagir com “a máxima severidade, firmeza e força” se os manifestantes pró-Mursi tentarem se aproximar de quartéis. Nos dias imediatamente subsequentes à queda de Mursi, pelo menos 92 pessoas foram mortas, sendo mais de metade alvejadas por soldados em frente a um quartel perto da mesquita que concentra os manifestantes.

Desde então, os protestos são tensos, mas maioritariamente pacíficos. A manifestação desta Segunda-feira foi uma das maiores dos últimos dias, e a multidão continuou a crescer depois de anoitecer, quando termina o jejum diário observado pelos muçulmanos no mês do Ramadã.

Enviado esnobado

A crise no Egito, que tem um tratado de paz com Israel e controla o estratégico Canal de Suez, alarmou os seus aliados na região e no Ocidente. Depois de reunir-se com o presidente, Adli Mansour, e com o primeiro-ministro, Hazem el-Beblawi, interinos, o subsecretário de Estado norte-americano, William Burns, garantiu não ter ido ao Cairo para “dar sermão em ninguém”, mas muitos egípcios, de ambos os lados do espectro político, acham que Washington está a planear algo.

“Só os egípcios podem determinar o seu futuro. Não vim com soluções norte-americanas. Nem vim para dar sermão em ninguém”, disse Burns em rápida entrevista colectiva. “Não tentaremos impor o nosso modelo ao Egito.”

Burns chegou a manter a posição cautelosa dos Estados Unidos, que evitaram descrever a deposição de Mursi como um golpe militar, uma vez que isso poderia acarretar cortes na ajuda militar de 1,3 bilhão de dólares dos norte-americanos ao Egito.

O Departamento de Estado disse que Burns vai se reunir com “grupos da sociedade civil”, mas o Partido Islâmico Nour e o movimento Tamarud, ambos anti-Mursi, rejeitaram o convite. A Irmandade Muçulmana, grupo ao qual Mursi pertence, disse que não tem planos para se reunir com Burns, mas não ficou claro se os EUA fizeram algum convite nesse sentido.

O dirigente do braço político da Irmandade, Farid Ismail, acusou os EUA de serem responsáveis pela derrubada de Mursi. “Não nos ajoelhamos para ninguém, e não respondemos à pressão de ninguém.”

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