Foi esta segunda-feira lançado, no Centro Cultural Franco-Moçambicano em Maputo, o CD “Timbila ta Venâncio” da autoria do mestre Venâncio, o maior ícone nacional daquele género musical que nasceu entre as lagoas de Quissico e que, entretanto, com a chancela da UNESCO, se tornou Património da Humanidade.
“Isto (lançamento do CD) é para mostrar às pessoas o que eu faço. Não só para mostrar a Moçambique mas também a todo o mundo. Estou muito feliz por isso. Isto é o trabalho da minha vida”, sintetizou, esta segunda- feira, no lançamento do seu CD, Venâncio Mbande, mais conhecido por mestre Venâncio, a maior sumidade em timbila no nosso país. O disco, com o título chope “Timbila ta Venâncio” – A Timbila do Venâncio -, possui 11 temas todos compostos pelo mestre que aos 77 anos vê concretizado o seu sonho de deixar um legado para a posteridade.
Para o director nacional da Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD), David Abílio, “a cultura é uma das formas de resgatar a nossa auto-estima e de estarmos orgulhosos da nossa moçambicanidade e da nossa história. Faltavam-nos o disco de timbila na nossa colecção.
Espero que os discos que estão à venda não sobrem”, vaticinou. Por seu turno, Alcides Maússe, representante da Mozal, o grande patrocinador do CD, lembrou que a timbila foi declarada obraprima e património oral e material da Humanidade pela UNESCO. Mais adiante, recordou o percurso do mestre: “Aos seis anos foi ensinado pelos seus tios. Depois cresceu e foi ensinando outros, incluindo os seus próprios filhos que também criaram os seus grupos juvenis que lideram algumas orquestras nas escolas. Muitos outros agrupamentos musicais tocam timbila com os seus retoques, estamos sem dúvida perante um dos maiores mestres da música chope.”
E acrescentou: “Ficámos preocupados quando constatámos que o mestre Venâncio, que formou uma orquestra de timbila na terra do Rand em 1956 e que hoje ainda está em actividade, não tinha ainda qualquer trabalho editado. A sociedade moçambicana podia ficar sem um registo formal que serviria de testemunho e de orgulho para as gerações vindouras. Por isso estamos hoje aqui a colmatar essa enorme falha. Parabéns, mestre Mbande”, concluiu.
A finalizar, o Primeiro-Ministro, Aires Aly, depois de dizer que não tinha trazido qualquer discurso escrito “porque seria difícil enquadrar todas as qualidades do mestre Venâncio e difícil descrever a sua importância” fez questão de dizer que estava ali não só na qualidade de Primeiro-Ministro mas também na de cidadão, “aquele cidadão que teve o privilégio de aprender a conhecer e apreciar a timbila lá onde vem o mestre Venâncio porque “ouvir em Quissico, entre aquelas lagoas, onde o som da timbila traz outra melodia, outro sentir, é completamente diferente. A gravação deste disco, contudo, conseguiu trazer essa componente da timbila tocada em Quissico, naquele ambiente.”
Mais adiante, afirmou: “Ele não é só um exímio executante de timbila mas também um cidadão preocupado com o seu país. Um cidadão com elevado sentido de auto-estima, por isso não quer deixar perder os valores, dando o exemplo a começar pela sua própria família. São poucos os artistas que têm filhos de tenra idade a cantar e a tocar com o seu pai. Os seus filhos quase que nascem a tocar.
Precisamos muito de divulgar, de preservar esta arte. Com a edição deste CD milhares de pessoas vão poder continuar a ouvir mas também milhares de pessoas vão poder conhecer e aprender esta manifestação cultural riquíssima e que hoje é de todo o mundo.”