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Parque Nacional da Gorongosa na luta contra malária

Cerca de 200 mil redes mosquiteiras tratadas com insecticida de longa duração foram recentemente distribuídas em quatro distritos da província de Sofala, no Centro de Moçambique, no âmbito da parceria entre o Parque Nacional da Gorongosa e a Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID) no combate a malária.

As redes mosquiteiras foram distribuídas nos distritos de Nhamatanda, Gorongosa, Muanza e Cheringoma, numa iniciativa que envolveu o Programa Nacional de Controlo da Malária (PNCM), os Serviços Distritais de Saúde, Mulher e Acção Social das regiões beneficiárias, o Projecto de Restauração do Parque Nacional da Gorongosa (PNG), Health Alliance International (HAI) e PSI – Moçambique.

Os distritos de Muanza, Gorongosa e Cheringoma beneficiaram da cobertura universal, enquanto o de Nhamatanda teve abrangência parcial alcançando apenas as comunidades que vivem na Zona Tampão daquele Parque, confirmou o Departamento de Comunicação do PNG.

“As redes impregnadas em referência são uma doação resultante de uma parceria estabelecida entre o Projecto de Restauração do PNG e a Agência dos Estados Unidos da América para o Desenvolvimento Internacional (USAID) visando a abrangência das comunidades em redor do Parque”, diz a mesma fonte em comunicado recebido na terca-feira pela AIM, em Lisboa.

O projecto visava, em princípio, abranger um universo mais reduzido de pessoas da comunidade do Vinho, em Nhamatanda, mas consultados o Ministério moçambicano da Saúde (MISAU) e a USAID consideraram pertinente alargar a acção aos quatro distritos que circundam o Parque, no âmbito da campanha piloto de cobertura universal, desencadeada pelo PNCM.

A anteceder a distribuição gratuita, a equipa das Relações Comunitárias do PNG e seus parceiros neste programa realizaram em finais do ano passado um censo para apurar o número total de agregados familiares nas regiões delimitadas para a implementação da iniciativa. Coube à PSI a coordenação da logística da distribuição. Os beneficiários mostram-se satisfeitos com o gesto, pois com este meio à disposição, segundo afirmaram, estão eficazmente protegidos durante o sono, momento em que sucede a maioria das picadas por mosquito do género Anopheles.

Segundo Helena Daniel, mãe de um filho e agora grávida novamente, habitante de Massala, posto administrativo de Vundúzi, uma das comunidades da Serra da Gorongosa, “as redes ajudarão a sua família a proteger-se dos mosquitos”. Ela considera o donativo de “importância imensurável”, dado que vai salvaguardar a saúde de muitas pessoas na região.

De acordo com Helena Daniel, o valor daquela ajuda “é muito grande” pelo facto de a maioria dos agregados familiares da sua comunidade viverem no limiar da pobreza e, portanto, incapacitados de comprar com recursos próprios uma rede mosquiteira. Isto para além de as redes não estarem acessíveis localmente. Este sentimento é corroborado por António Zeca e Gracia Sozinho do mesmo aglomerado populacional de Massala.

Até porque no dia em que Gracia Sozinho recebeu a doação estava padecendo de malária, uma enfermidade, segundo disse, muito frequente naquela área. Por seu turno, o fumo Filipe Melo do Regulado de Nhanguo, distrito de Gorongosa, vê as redes mosquiteiras impregnadas como sendo de vital utilidade para a prevenção do risco de exposição à malária que apoquenta inúmeras pessoas no território que lidera.

A Direcção Provincial de Saúde (DPS) de Sofala teve com esta acção a primeira oportunidade de implementação da estratégia de cobertura universal de redes mosquiteiras nos distritos de Nhamatanda, Gorongosa, Muanza e Cheringoma, no âmbito do controlo da malária. O médico-chefe Isaías Ramiro é optimista do impacto positivo a obter a partir da distribuição de redes impregnadas nos quatro distritos.

“A província de Sofala tem registado nos últimos anos a redução de casos e de número de mortes por malária graças a conjugação de múltiplos esforços do seu controlo pelo sector da Saúde, pelo que com esta distribuição de redes mosquiteiras esperamos o decréscimo maior das infecções”, sublinhou Ramiro. Segundo o médico-chefe, a DPS conseguiu pela primeira vez garantir o acesso total deste meio de prevenção para todas as pessoas expostas nas regiões acima referidas e não somente para os grupos de maior risco, nomeadamente mulheres grávidas e crianças. Por outro lado, deu a conhecer as estatísticas de malária deste ano ao nível das jurisdições abrangidas pela doação.

As estatísticas apontam que se registaram até Maio corrente em Nhamatanda, Gorongosa, Muanza e Cheringoma, respectivamente 14.966, 13.633, 1.832 e 1.038 casos, contra 30.080 notificados em Nhamatanda, 14.911 em Gorongosa, 2.561 Muanza e 1.997 Cheringoma, no mesmo período de 2009. Quanto aos óbitos disse que até Maio de 2010, o distrito de Nhamatanda registou nove, Cheringoma um, Gorongosa e Muanza nenhum, contra 45 ocorridos em Nhamatanda, seis em Muanza e nenhum em Cheringoma e Gorongosa, de Janeiro a Maio do ano passado. Segundo informações disponíveis no website do MISAU, a malária é a principal causa de problemas de saúde, sendo responsável por 40 por cento de todas as consultas externas.

Embora se registe uma tendência de diminuição da taxa de mortalidade, nos últimos tempos, é também a principal causa de morte nos hospitais em Moçambique, ou seja de quase 30 por cento de todos os óbitos registados. Por outro lado, o Inquérito Nacional sobre Causas da Mortalidade, em Moçambique (INCAM), efectuado pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE), também aponta a malária como a principal causa de morte, no País, seguida do HIV/ SIDA. O estudo indica que a malária mata mais nas províncias do Norte e Centro do País, bem como na província de Inhambane, já no Sul, enquanto que o HIV/SIDA é o principal responsável pela mortalidade nas províncias do Sul, nomeadamente a de Gaza, Maputo-Província e Cidade.

A malária é, também, a principal causa de mortalidade, nas zonas rurais enquanto que o HIV/SIDA mata mais, nas zonas urbanas, ainda, de acordo com o Inquérito Nacional sobre Causas da Mortalidade, em Moçambique. A malária é igualmente responsável por uma alta taxa de absentismo laboral e escolar. Durante a gravidez a malária é um dos grandes factores de risco para as mulheres gestantes e constitui uma das principais causas de partos prematuros e/ ou do baixo peso à nascença. As principais instituições que lutam contra esta enfermidade no País, nomeadamente o MISAU e a USAID, entendem que uma das formas de se proteger da infecção é o uso universal de rede mosquiteira tratada com insecticida de longa duração.

No entanto, o grande desafio é garantir a cobertura universal para todas pessoas e não apenas os grupos de maior risco para se obter o impacto desejado e desta forma atingir as metas preconizadas para o controlo da malária.

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