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Parede da piscina olímpica do Zimpeto desaba e mata seleccionador de natação de Moçambique

Parede da piscina olímpica do Zimpeto desaba e mata seleccionador de natação de Moçambique

Foto de Adérito CaldeiraTinha acabado o primeiro dia de provas do Campeonato de Natação de Verão da cidade de Maputo, com os atletas já de regresso às suas residências o treinador do clube Tubarões preparava-se para também ir descansar quando de repente ouviu-se um estrondo: começara a desabar a parede da entrada principal da piscina olímpica do Zimpeto que acabou por ferir mortalmente Frederico dos Santos. Construída em tempo recorde para os Jogos Africanos de 2011 eram visíveis os problemas estruturais nas paredes deste que foi um dos maiores empreendimentos desportivos construídos após a independência, a par da Vila olímpica, por empreiteiros portugueses e que custou vários milhares de dólares norte-americanos num empréstimo que os moçambicanos ainda estão a pagar.

Passavam poucos minutos das 19 horas, o sábado (20) tinha sido um dia muito quente, a cidade de Maputo registou uma das mais altas temperaturas do ano (44 graus Celsius), ao entardecer as nuvens juntaram-se e choveu com alguma intensidade, levantou-se também vento com rajadas fortes.

Acompanhado pela mulher e filhos, Frederico conversava com o secretário-geral da Associação de Natação quando, depois de um estrondo, apercebeu-se que parte da parede exterior das bancadas reservada ao público da piscina estava a desabar, a partir do lado esquerdo. Alertou o amigo, Caetano Ruben, que virou-se e viu a sua viatura ser atingida pelos blocos que desabavam. Entretanto o resto da parede, com mais de 15 metros de largura, continuou a cair e esmagou pessoas e três viaturas que estavam parque de estacionamento.

À entrada do maior complexo de natação de Moçambique, o treinador e seleccionador de natação moçambicano foi violentamente atingido pelos blocos que caiam como folhas soltas. As restantes pessoas que ali estavam acabaram por ficar protegidas pelo aro da porta de entrada. Fred não resistiu aos ferimentos e acabou por falecer. A esposa, também treinadora de natação, e um dos seus filhos adolescente contraíram ferimentos graves e estão internados no Hospital Central de Maputo. Um filho menor do treinador, que também ficou ligeiramente machucado, teve entretanto alta médica.

Foto de Adérito CaldeiraSeis dos feridos, nesta tragédia inicialmente atribuída ao vento forte e chuva intensa que durante breves momentos fustigou a capital moçambicana neste sábado (20), são desportistas, um deles é uma jovem promessa da natação moçambicana, Denilson da Costa, que terá partido a clavícula e não deverá realizar o seu sonho de estar nos Jogos Olímpicos que este ano vão ser disputados no Rio de Janeiro, no Brasil.

“Tudo deveu-se ao factor mau tempo que assolou a cidade de Maputo ontem, tivemos um desabamento numas das paredes que compõe a parte lateral do edifício administrativo das piscina olímpica do Zimpeto, por causa dessa queda tivemos dez pessoas como vítimas das quais uma perda humana”, explicou em conferência de imprensa Adamo Bacar, director do Fundo de Promoção Desportiva (FPD), entidade que gere a piscina olímpica do Zimpeto.

Piscina Olímpica interdita

“Neste momento estamos a trabalhar no sentido de apoiarmos as famílias e em esclarecer o que terá acontecido no concreto (…) neste momento a instalação da piscina olímpica do Zimpeto não estará em condições de acolher provas”, acrescentou Bacar.

Questionado sobre se a qualidade da obra teria contribuído para a tragédia o inspector geral de obras públicas, Alberto Andissene, afirmou na conferência de imprensa ser prematuro pois teve contacto pela primeira vez com a obra. “Tanto quanto nós sabemos aquelas obras (a piscina olímpica) tiverem um projectista, tiveram fiscalização, tiveram um empreiteiro significa que quem elaborou o projecto é uma pessoa com conhecimento suficiente e ao elabora-lo terá feito os cálculos que deram garantias que naquelas condições a parede poderia resistir aos ventos que iriam actuar sobre ela. Neste momento, sem fazer qualquer visita aos documentos que sustentam aquela construção, é difícil dar-lhe uma resposta taxativa”.

Porém Alberto Andissene afirmou que esta posição “poderá ser alterada após a leitura dos documentos que nos forem colocados à disposição e se pudermos chegar a alguma constatação de como as coisas estavam previstas, de como foram executadas e de como estão neste momento”.

Foto de Adérito CaldeiraEntretanto dois engenheiros civis independentes, que estiveram na piscina olímpica do Zimpeto neste domingo, confidenciaram ao @Verdade que uma parede com as dimensões daquela que desabou, com mais de 15 metros de largura e pelo menos cinco metros de altura, deveria possuiu “mais esqueleto” para a sustentar.

Os engenheiros admitem que a conjugação de calor intenso e vento forte possam ter originado a tragédia porém esta poderia ter sido evitada, afinal, é possível ver a olho nu que não só a parede que desabou, mas todas outras da piscina, apresentam problemas de sustentação, os diferentes tons de coloração que se observa indiciam que algum tipo de trabalho para o seu reforço terá sido executado.

Porém o director do FPD refuta esta tese e assegura que não houve nenhuma intervenção a nível de reparação da construção, “principalmente naquela parede desde que se construiu” e acrescentou que as paredes não apresentam “(…)nem fissura nem nada, é a força da natureza que foi mais forte e atingiu aquela nossa parede e desabou”, disse Adamo Bacar.

Mas o dirigente desportivo confirmou que nenhum tipo de vistoria à estrutura foi feita desde a sua construção. “Lembrar que nessa altura construiu-se para acolher os Jogos Africanos Maputo 2011 e toda a construção estava liberada. Existe um empreiteiro, que vai fazer parte da comissão técnica, tivemos a fiscalização independente, ao nível do Ministério da Juventude e Desportos acompanhávamos o processo tecnicamente mas podem existir outros elementos técnicos, como disse o senhor inspector é preciso juntar os elementos técnicos do projecto para saber o que terá acontecido na verdade. Se calhar aquela parede não estava prevista e alguém decidiu à posteriori construir a parede para impedir a chuva ou por outra razão, por isso temos de encontrar esses elementos técnicos para conseguir fundamentar os aspectos que está a colocar” declarou Bacar.

O inspector geral de obras públicas preferiu não se pronunciar sobre esta eventualidade, pelo menos nesta altura, antes de analisar em detalhe a infra-estrutura assim como os documentos da sua construção.

Foto de Adérito CaldeiraQuestionado sobre a forma como o desabamento será solucionado para que se possa voltar a usar o complexo de natação olímpico, único no nosso país, se através de um reparação ou se deve-se destruir e fazer as paredes novamente, Alberto Andissene afirmou ser prematuro avançar com soluções neste momento.

Neste complexo de natação funcionam três estabelecimentos comerciais, dois deles são um bar e uma discoteca (que operam em clara violação o Regulamento sobre o consumo e venda de bebidas alcoólicas em locais públicos) que movimentam muitas pessoas para o local onde há registo da realização de festas mesmo nas áreas mais próximas das piscinas.

Construída em tempo recorde por empreiteiros portugueses

A piscina olímpica do Zimpeto foi construída em cerca de dez meses por um consórcio de empresas portuguesas a Mota-Engil e a Soares da Costa, sem concurso público, que na altura se vangloriou de ter conseguindo edificar a obra complexa e com tecnologia avançada reduzindo em três meses o prazo inicial de construção, após Moçambique assumir a realização dos Jogos Africanos de 2011 que a Zâmbia declinou por falta de fundos.

O nosso país endividou-se com Portugal em 150 milhões de dólares norte-americanos para a construção não só deste complexo olímpico de natação mas também da Vila residencial onde em oito meses foram construídos 843 apartamentos (106 edifícios) usando uma tecnologia estrutural em perfis de aço leve e gesso.

O Executivo criou uma equipa multi-sectorial para investigar as causas da tragédia e o ministro da Juventude e Desportos promete responsabilizar os responsáveis. Contudo muito mais do que promessas vãs as vítimas, e as suas famílias, precisam não só de conforto imediato mas de serem indemnizados pelo Estado, dono e gestor da piscina, pois as sequelas a longo prazo são imensuráveis.

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