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Parcialidade em grande na campanha eleitoral

A parcialidade, sobretudo dos órgãos ligados ao poder, foi a tónica dominante nas eleições autárquicas. A Televisão de Moçambique foi o expoente máximo dessa faceta. Por outro lado, a Rádio Moçambique optou por conceder o mesmo espaço de antena a todos os candidatos.

A televisão pública, que vive do Orçamento do Estado, foi o rosto da parcialidade. Nos despachos dos jornalistas no terreno, os candidatos do MDM saíram fragilizados. Excepção feita ao último dia de votação, no qual o jornalista do Savana, Emídio Beúla, escreveu na sua conta do facebook: “TVM em grande. Os censores estão a dormir”.

Por outro lado, o trabalho da imprensa foi sempre perturbado pela Força de Intervenção Rápida (FIR). Os presidentes das mesas de voto também se recusaram a colaborar com a imprensa, mostrando um desconhecimento profundo da Lei Eleitoral.

Intimidações não faltaram. António Zefanias e Fernando Veloso (director do Canal de Moçambique) foram vítimas de ameaças. No caso de Veloso as ameaças não passaram do campo verbal, enquanto António Zefanias, do Diário da Zambézia, viu uma arma apontada à sua testa.

Cuamba

Para fazer a cobertura jornalística das eleições autárquicas intercalares em Cuamba, foram acreditados 12 profissionais de comunicação social pelo Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) no Niassa.

Vinculados a diferentes órgãos de informação como Televisão, Rádio e Jornal, os jornalistas cobriram todo o escrutínio, desde a campanha eleitoral dos dois candidatos – Vicente da Costa Lourenço, da Frelimo, e Maria Moreno, do MDM – que disputavam a vaga de edil de Cuamba e o dia da votação.

A imparcialidade jornalística não esteve de todo presente ao longo de todo o processo eleitoral que culminou com a eleição de Vicente Lourenço ao cargo do presidente de município de Cuamba. Os órgãos de informação públicos, sobretudo a Televisão e a Rádio, foram os campeões da parcialidade. Durante a campanha eleitoral, a Televisão de Moçambique (TVM), a Rádio Moçambique (RM) e a rádio comunitária local andaram quase sempre colados à caravana do candidato da Frelimo em detrimento da candidata do MDM.

No contacto porta a porta que frequentemente Maria Moreno fazia por diversos bairros que se localizam distantes do centro da cidade de Cuamba, era acompanhada apenas por um – senão nenhum – órgão de informação. Poucas foram as vezes que a candidata do MDM viu a sua caravana perseguida por uma equipa de reportagem de uma estação de televisão e rádio pública. Também pouco ou quase nada se viu em relação à presença das TV’s privadas. No último dia da campanha eleitoral, a parcialidade jornalística foi gritante.

Grande parte dos meios de comunicação social fez-se presente na cerimónia de encerramento da campanha do candidato da Frelimo, Vicente Lourenço. Apenas um órgão de informação cobria o fecho da campanha da candidata do MDM, Maria Moreno.

No dia da votação, particularmente o momento em que os candidatos exerciam o seu direito de voto, a situação voltou a repetir-se. O candidato da Frelimo contou com um aparato de jornalistas, ao contrário da candidata do MDM.

A cobertura das eleições em Pemba

No dia da votação na cidade de Pemba, Cabo Delgado, um dos três municípios que acolhia as eleições intercalares foi acompanhado meticulosamente pelos órgãos da comunicação social. O @ Verdade, que fazia a cobertura ao mesmo tempo que fazia a actualização online, não foi excepção.

Nas primeiras horas do dia, já era possível ver a movimentação de jornalistas pelos vários locais onde iria decorrer a votação, enquanto alguns se posicionavam nas assembleias onde os três candidatos iriam votar, nomeadamente na Escola Secundária de Pemba e na Escola Primária Completa do Alto-Gingone.

Depois de os candidatos terem votado, a preocupação era acompanhar a forma como o processo estava a decorrer. Durante a votação, o assunto mais reportado foi a ausência de nomes nos cadernos e a falta de esclarecimentos aos eleitores por parte dos membros das mesas de voto.

Porém, este assunto não mereceu a devida atenção por parte dos órgãos públicos. Estes limitaram-se apenas a dizer que as equipas de supervisão do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (da cidade de Pemba) estavam a resolver o problema, sem, no entanto, reportar a realidade no terreno. Após a votação, o dilema enfrentado pelos jornalistas foi a recolha dos editais da contagem parcial.

Alguns membros das mesas de voto não colaram os editais e outros não permitiam que os jornalistas tivessem acesso a eles, alegadamente porque tinham aprendido na formação que os resultados da contagem parcial só podiam ser anunciados pelo STAE e não por eles. Foi necessário explicar- lhes e, nalguns casos, mostrar-lhes o manual de formação e a lei eleitoral.

Outro obstáculo enfrentado pelos “homens da pena” foi a fraca iluminação dos locais de votação. A única forma de contornar tal situação foi o recurso às lanternas. Só assim os leitores do @Verdade puderam acompanhar o processo de votação e ter, em primeira mão, os resultados parciais, através das plataformas criadas para o efeito – referimo-nos às redes sociais (Twitter e Facebook), naquela que foi a primeira cobertura eleitoral online em Moçambique.

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