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Paraolímpicos: Os honrosos desamparados de sempre em Moçambique

Paraolímpicos: Os honrosos desamparados de sempre em Moçambique

A selecção nacional de atletismo para pessoas deficientes esteve em grande no quarto Meeting Internacional da Tunísia, certame que teve lugar entre os dias 10 e 20 do mês em curso. Os moçambicanos conquistaram um total de 16 medalhas e terminaram na sexta posição da tabela classificativa geral, superando países como Brasil e Rússia.

Durante os dez dias deprovas, a nossa selecção, formada por Pitão Rondão, Emílio Chirindza, Julião Uamba, Gildo Zacarias, Hilário Chavela, Celso Simbine, Maria Muchavo, Denise das Dívidas e Edmilsa Governo, ganhou sete medalhas de ouro, seis de prata e apenas duas de bronze. Neste conjunto, o destaque foi para Pita que subiu três vezes ao pódio depois de conquistar, na categoria dos T11, duas medalhas de ouro nas provas dos 800 e 400 metros e uma de prata nos 200 metros.

No que às marcas diz respeito, aquele atleta venceu a primeira corrida com o tempo de dois minutos, 11 segundos e 58 centésimos, sendo que a segunda ganhou com o de 56 segundos e três centésimos. Vinte e cinco segundos e 47 centésimos é o registo que o conduziu à segunda posição nos 200 metros. Ainda em masculinos, Guildo Zacarias, na categoria dos T13, também conquistou duas medalhas de ouro, nomeadamente nas corridas dos 100 (11 segundos e 95 centésimos) e 200 metros (24 segundos e 26 centésimos).

Nas provas em femininos, Edmilsa Governo (T13) repetiu a façanha do seu compatriota, Pita Rondão, ao ganhar duas medalhas de ouro nos 400 e 200 metros, com as marcas de 58 segundos e 93 centésimos, 27 segundos e 56 centésimos, respectivamente. Aquela atleta moçambicana subiu também ao pódio para receber uma medalha de prata, mercê da segunda posição alcançada na prova dos 100 metros com o registo de 13 segundos e 47 segundos, uma corrida similar àquela que Maria Muchavo, na categoria T3, venceu com o tempo de 13 segundos e 35 centésimos.

O livro de medalhas neste Meeting da Tunísia não terminou somente com a inscrição dos atletas cima nomeados. Hilário Chavela (T13) obteve duas medalhas, sendo uma de prata na prova dos 200 metros e outra de bronze nos 400 metros. Emílio Chirindza (T36), por sua vez, conquistou medalhas de bronze nos 100 e 800 metros, enquanto Celso Simbine (T12), nos 800 e Denise (T3), nos 200, ficaram com a de prata. Na categoria dos T40, Julião Uamba terminou na terceira posição no lançamento de disco, com um registo de 17 metros e 90 centímetros.

Importa referir que nenhum destes atletas conseguiu estabelecer um novo recorde, contudo, dois conseguiram melhorar as suas marcas pessoais. Edmilsa Governo, nos 200 metros, reduziu os 28 segundos e 94 centésimos para 27 e 56 centésimos, bem como em quatro centésimos os 58 segundos e 97 centésimo que conservava nos 400 metros. Guildo Zacarias, por sua vez, baixou cinco centésimos à sua marca da corrida dos 100 metros e 36 centésimos, o recorde pessoal nos 200 metros.

“Os resultados são satisfatórios, apesar de tudo!”

Os nove atletas que fizeram parte da selecção nacional, neste Meeting Internacional da Tunísia, afirmam que os resultados são satisfatórios e dizem-se felizes pela boa prestação que tiveram, que conduziu à conquista da sexta posição da tabela classificativa geral. Em declarações ao @Verdade, Guildo Zacarias assegurou que, apesar da falta de condições de trabalho, “soubemos honrar a bandeira nacional”.

Revelou, ainda, que para além de ter conseguido melhorar asmarcas pessoais, garantiu o apuramento para o Campeonato do Mundo do Comité Paraolímpico Internacional. “Moçambique demonstrou que tem um enorme potencial nestas modalidades paraolímpicas. Só que a falta de incentivos, sobretudo do empresariado nacional, trava a nossa vontade de continuar a representar condignamente o nosso país nas provas internacionais”, concluiu Guildo Zacarias.

Por seu turno, Edmilsa Governo disse que se sente muito feliz por ter conquistado três medalhas e que a competição decorreu tal como esperava apesar de, como sempre, os problemas logísticos terem imperado. Para a medalhista, é sempre bom vencer as corridas em que participam atletas de países desenvolvidos. Quanto à segunda posição conquistada na prova dos 100 metros, Edmilsa desabafou nos seguintes termos: “Falhei no arranque. Porém, quando tentei recuperar o tempo perdido, havia uma adversária à minha frente”.

Sobre os tempos mínimos alcançados e que colocam Moçambique no “Mundial” de pista aberta na Coreia do Sul, que terá lugar no próximo ano, a atleta deficiente declarou que “todos nós sonhávamos com esta competição. Por isso trabalhámos muito para tornar isso numa realidade. Resta-nos, a partir de já, melhorar as nossas marcas para, quem sabe, conquistarmos medalhas na Coreia”.

Abordando a questão logística, anteriormente introduzida por Edmilsa Governo, Celso Simbine, capitão da selecção, disse ao @Verdade que, como é hábito, “passámos por privações durante o período de preparação. Não tivemos direito a lanche e água. Lamentavelmente continuamos enteados de um país que, quando vamos para fora, conseguimos representar condignamente. Mas é assim mesmo. Temos é que estar habituados a isto”.

Atletas não tiveram o per diem prometido na Tunísia

Apesar das 16 medalhas conquistadas e o balanço ter sido positivo no campo das competições, os atletas paraolímpicos denunciaram ao @Verdade algumas situações desonrosas a que estiveram sujeitos. Acusaram a Federação Moçambicana dos Desportos para Deficientes de não ter cumprido o que foi previamente estipulado, sobretudo no valor diário.

“Disseram, antes de partir, que iríamos receber 50 dólares por dia, o equivalente a 1600 meticais. Mas, chegados lá, deram-nos apenas 250 meticais”, revelaram os atletas, acrescentado que “não é a primeira vez que isto acontece. Em todas as viagens tem sido assim”. Ainda em depoimentos prestados ao @Verdade, os paraolímpicos disseram que estão fartos disto, “que por isso decidimos ‘abrir o jogo’, a ver se mudam de atitude. Mas é importante sublinhar que não nos queixámos do dinheiro em si, mas sim da falta de reconhecimento a que estamos sujeitos neste país”.

“Deram, a cada um, 80 dólares equivalentes aos dez dias de competição. Tivemos de os devolver por acharmos que aquele acto encerra o desrespeito e a falta de seriedade por parte de quem prometeu dar 500 dólares”, avançaram. Os paraolímpicos acrescentaram, ainda, que durante a viagem para aquele país árabe, bem como no regresso a Moçambique, estiveram mais de 10 horas sem comer e a dormir ao relento nos aeroportos por que passaram.

“Enquanto isso, os dirigentes passeavam pelas cidades, faziam compras e ficavam em grandes restaurantes”, concluíram. Para além disso, dizem os atletas que, durante a estadia na Tunísia, foram obrigados a beber água proveniente da casa de banho pelo fisioterapeuta da selecção nacional, na medida em que “éramos a única delegação sem água nesta prova. Até parecíamos um grupo de mendigos em representação de um bairro”.

A federação distancia-se das queixas dos atletas

Face às acusações dos atletas, o @Verdade procurou por Jorge Miguel, presidente da Federação Moçambicana dos Desportos para Deficientes, de modo a esclarecer-nos este assunto. Aquele dirigente refutou todas as denúncias, julgando serem infundadas.

“Nem tudo o que eles disseram corresponde à verdade”, disse Jorge para, logo a seguir, acrescentar que “nós não prometemos nenhum valor aos atletas. Simplesmente desenhámos um projecto que previa pagar 50 dólares a casa um deles. Mas, até à data limite da partida para a Tunísia, esta federação não conseguiu angariar os fundos necessários para tornar isso possível”.

O presidente da federação esclareceu, por outro lado, que foi graças ao Instituto Nacional do Desporto que conseguiu pagar apenas cinco porcento do orçamento previsto, visto que a alimentação e a estadia dos atletas estavam garantidas. Bay-Bay, como é também conhecido, concluiu afirmando que “uma parte do valor destinado ao PocketMoney serviu para pagar os vistos de entrada naquele país árabe, bem como os exames médicos dos nossos atletas. Eles sabem disso, até porque foram prontamente informados”.

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