A poucos menos de 20 dias do início em Londres dos Jogos Paraolímpicos e dois meses após a publicação neste jornal do artigo “Os desemparados de Costume”, nós abordámos os constrangimentos da preparação dos nossos representantes, a nossa equipa de reportagem retomou esta semana ao Parque dos Continuadores para se inteirar dos últimos preparativos dos nossos atletas. Contudo, os problemas reportados no passado mantêm-se e reina, inclusive, um ambiente de incerteza sobre a participação de Moçambique nas Olimpíadas.
A primeira informação contrária ao que a nossa equipa de reportagem havia apurado na primeira visita realizada a 4 de Junho e publicada na edição do dia 8 de Junho é que dos cinco atletas e dois guias que garantiram a qualificação de Moçambique para os Jogos Paraolímpicos de Londres, apenas dois atletas e um guia é que poderão compor a delegação moçambicana, nomeadamente Pita Rondão, Maria Machava e Fernando Lucas, respectivamente.
Segundo apurámos, tudo se deveu a uma redução da quota imposta pelo Comité Paraolímpico Internacional, a qual foi extensiva a quase todos os 204 países participantes, sobretudo os africanos. Todavia, há quem diga que na verdade tudo se deve à falta de fundos do Comité Paraolímpico nacional para custear a ida de todos os atletas.
A preparação continua primitiva
Tendo em conta o cenário que encontrámos no Parque dos Continuadores, é legítimo afirmar que os atletas continuam marginalizados e os treinos que têm realizado não permitem ao país sonhar com medalhas.
Os atletas, que vão representar o país no maior evento desportivo do mundo, continuam sem equipamento que os identifica no mínimo como integrantes de uma delegação de um país. O transporte ainda é inexistente e continuam dependentes dos transportes semicolectivos de passageiros, apesar da deficiência de que são portadores e da missão que têm de erguer a bandeira do país.
Não existe outrossim uma hora exacta para a concentração dos atletas, tal como mandam as regras em países onde o desporto, seja qual for, é encarado com seriedade. O facto de os atletas morarem em bairros distantes do local de treinos, neste caso o Parque dos Continuadores, aliado à falta de transporte, faz com que eles cheguem àquele local atrasados.
Durante e depois dos treinos, os atletas não têm direito a água, o que os obriga a recorrerem às torneiras das casas de banho para matarem a sede. O lanche é algo fabuloso que dista milhões de anos-luz da realidade por eles vivida.
Em relação às despesas decorrentes dos treinos (transporte e ginásio), as quais se situam entre os 200 e 300 meticais diários, estas são custeadas pelo respectivo treinador, Narciso Faquir.
Promessas e cobranças
Num mar de privações e incertezas para uma preparação digna, tudo o que existe para os atletas não passa de promessas e cobranças de quem devia, acima de tudo, se preocupar em oferecer melhores condições àqueles que vão representar o país num evento tão importante como os Jogos Paraolímpicos.
Para além disso, há também uma campanha não muito bem acolhida pelos atletas que está a ser levada a cabo pelo Comité Paraolímpico Nacional denominada “Um Metical por Cidadão”. A mesma visa angariar dinheiro para suportar as despesas da preparação, o que, no entender destes, peca por ser tardia.
Nada mais lastimável do que ouvir a voz carcomida pela dor que atravessa o semblante dos atletas a dizer: “O Comité Paraolímpico prometeu resolver as nossas inquietações e até hoje continuamos abandonados. A única novidade foi apenas o curso de inglês que terminou na sexta-feira”.
“Quando iniciámos a preparação pensávamos que íamos todos a Londres e todos nós participámos no curso de inglês, mas ficámos a saber que nem todos vão. Aliás, nem sabemos quem vai e quem fica”, lamentam os atletas.
A nossa equipa de reportagem soube igualmente que estava agendado um estágio pré-competitivo de dois atletas, incluindo o guia e o treinador, em Londres, a partir do dia 15 deste mês mas, devido à falta de fundos, o Comité Paraolímpico cancelou-o. Como medida escapatória, trocou-se a capital da Inglaterra pela Vila Olímpica do Zimpeto, local no qual já deviam estar há muito tempo.
“Agora vão dizer que devemos trazer medalhas, obviamente esquecendo-se deste período triste pelo qual estamos a passar. Se o país continuar assim, nunca vamos chegar a lado nenhum”, considera Narciso Faquir, treinador dos atletas paraolímpicos.
“Os Jogos da CPLP foram um sucesso”
Num outro desenvolvimento, quando questionados sobre que avaliação faziam da participação de Moçambique na Sétima Edição dos Jogos da CPLP, que decorreram em Mafra, Portugal, nos quais o país conquistou nove medalhas, sendo duas de ouro, 3 de prata e as restantes de bronze, os atletas não pouparam elogios ao Governo e ao Instituto Nacional do Desporto pela forma atenciosa como os trataram e confessam que não tiveram falta de nada.
“Quando tu és bem tratado, tudo reflecte-se nos resultados. O que nos incumbe agora fazer é agradecer o Governo por nos ter dado o que merecemos ter”.