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Paraíso africano ameaçado

Paraíso africano ameaçado

Para os especialistas, trata-se de uma reserva excepcional de biodiversidade na África Ocidental. Mas o Parque Nacional de Sapo, na Libéria, país que recentemente virou a página de sua história depois de 14 anos de guerra civil, está à mercê de mineradores clandestinos, grupos armados e caçadores. O parque de 180 mil hectares, criado em 1983, cobre parte da luxuriante floresta tropical que, anteriormente, se estendia por grande parte da região.

Inúmeras espécies raras de animais vivem lá, tais como o hipopótamo pigmeu, o elefante da floresta, o pangolim gigante (mamífero asiático e africano que se enrola em forma de bola ao ser atacado) e o macaco colobus vermelho. Nesses dois últimos anos, novas espécies de borboletas, de moluscos e de plantas foram descobertas.

Quando a guerra civil devastou o país (1989-2003), um multidão de pessoas desalojadas encontrou refúgio dentro do parque, que igualmente acolheu rebeldes e foi alvo de mineradores clandestinos, exploradores ilegais de madeira e comerciantes de carne de caça. Quando o conflito terminou, o país estava exaurido. Faltavam recursos para proteger o parque situado a 320 km da capital Monróvia e era acessível somente após horas de viagem em estrada acidentada.

Atualmente, cerca de 20 mil posseiros vivem no interior, informou à AFP Michael Abedi-Lartey, responsável pela proteção da biodiversidade da ONG britânica Fauna and Flora Interncional, que ajuda o governo na manutenção da reserva. “Nós provavelmente atingimos o nível mais crítico” de ocupantes ilegais, disse. Para ele, os mineradores clandestinos e os comerciantes de carne de caça, produto muito apreciado pela população local, constituem o obstáculo mais importante para desenvolver ali pesquisa e ecoturismo.

Esses perigosos posseiros, frequentemente armados, vivem em diversos campos apelidados de “Iraque”, “Afeganistão”, “Congo”, “América”… Eles não deixam os estranhos chegarem muito perto. E não foi possível para os jornalistas da AFP se aproximarem para entrevistá-los por questões de segurança. Cada campo é dirigido por um comandante e dispõe de um médico, de uma loja de vídeos. As mulheres também moram lá e dormem na reserva, longe de qualquer infraestrutura sanitária moderna.

Até que ponto os dirigentes responsáveis são envolvidos neste comércio lucrativo, em um país cercado pela corrupção?

Para o diretor da agência governamental de desenvolvimento florestal (FDA), Moses Wogbeh, “é difícil determinar a renda gerada pela operação”. Os moradores, instalados no principal ponto de entrada do parque, beneficiam-se igualmente com o sistema. Os chefes recebem dinheiro dos traficantes e os aldeões trazem os suprimentos para os campos. “Estamos falando de algo que nem o governo nem as ONGs podem combater. Não são apenas mineradores clandestinos, mas toda uma indústria que gira em torno da atividade”, enfatizou Abedi-Lartey.

As comunidades rurais vivem há muito tempo da floresta, dos recursos naturais que eram igualmente explorados durante o conflito. A “madeira de sangue” servia para financiar a guerra. Alphonso Gboyee, de 40 anos, é um antigo combatente convertido para proteção da natureza: “tentamos proteger a fauna, mas essas pessoas destroem tudo”, disse, acusando os comerciantes de carne. Os 27 guardas do parque não estão armados. Para o dirigente do município de Sinoe, Milton Teahjay, “o parque é um paraíso para os bandidos, é terra de ninguém. É muito importante levar segurança para lá”.

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