Quatro crianças escaparam, por um triz, da tentativa frustrada de tráfico de menores, crime que tinha sido planificado por um homem que aparenta ter 45 anos de idade. O caso insólito, que deixou meio mundo pasmado, ocorreu, há dias, na cidade de Gúruè, província central moçambicana da Zambézia, e foi facilitado pelos pais das crianças que foram aliciados com dois mil meticais (54 dólares EUA) por cada petiz.
Não se sabe ao certo qual seria o destino das quatro crianças, mas há forte suspeitas de que elas poderiam ser mortas para a extracção de órgãos humanos ou exploração da mão-de-obra infantil nos campos de produção agrícola de Molumbo, em Milange, fronteira com o Malawi.
José Cardoso e Joaquim Cardoso são irmãos, e Lopes Duarte e Atanásio Miguel estudam na Escola Primária Completa de Incise, no posto administrativo de Mepagiua, situado a 65 quilómetros da cidade de Gúruè.
O suposto traficante foi até Incise para ter com os pais. Quando chegou convenceu os pais que queria quatro crianças para o ajudarem nos trabalhos de sacha de milho em Molumbo, Milange, e que em Setembro do próximo ano cada uma das crianças voltaria com dois mil meticais. Os pais dos petizes, que mal conheciam o homem, não pensaram duas vezes, senão aceitar e entregar os seus a um estranho.
Segundo a Rádio Moçambique, os petizes, com idades compreendidas entre os nove e 12 anos, foram empurrados pelos próprios pais para as mãos do suposto traficante. Não fizeram exames escolares porque a pressão dos pais era maior, dado que queriam receber dois mil meticais em Setembro do próximo ano.
O homem levou as quatro crianças à cidade de Gúruè para apanharem transporte com alegado destino que é Molumbo. Este faz fronteira com o Malawi. Testemunhas oculares dizem que naquele país, as crianças podem ser mortas para tratamento tradicional com a finalidade de aumentar riqueza dos homens, havendo gente que paga muito dinheiro para tal.
Nalguns casos até podem entregar para quem trouxer crianças, dinheiro e viaturas. Todavia, o destino daquelas crianças não era esse. Um condutor do “chapa” (transporte semi-colectivo de passageiros) que faz o trajecto Gúruè/Milange foi quem entregou o homem à Polícia, por ter suspeitado haver uma ligação estranha com as crianças.
O motorista, que por motivos de segurança não quis se identificar, disse à Rádio Moçambique que quando parqueou a sua viatura na estação dos transportes, apareceu um homem a comprar cinco bilhetes, sendo um para si e outros quatro para as crianças.
O condutor disse que o esquema é comprar bilhete e ocupar a cadeira para melhor controlar a lotação. Com aquele homem raptor de crianças não foi assim. Comprou os bilhetes e em cada 10 minutos vinha saber se a viatura estava cheia para partir. Nesses intervalos, ia comprando refrescos e bolachas para entreter as crianças.
“Descobri logo que havia algo de errado com as crianças. Dei uma volta e questionei-lhas às escondidas se conheciam o homem. Estas responderam que não e disseram-me que ele foi pedir aos seus pais para ajudar nos trabalhos da machamba”, disse o condutor, para depois acrescentar que a partir daí a sua suspeita começou a aguçar-se cada vez mais.
Conta que não fez confusão. Depois de lotar a viatura, saiu da estação e foi directamente ao Comando Distrital de Gúruè, para comunicar a PRM. O homem foi investigado e ficou apurado que ele é traficante de menores. Entretanto, o régulo da região de Incise, Silvestre Simone, foi quem recuperou as crianças das mãos das autoridades policiais.
Silvestre Simone contou à Rádio Moçambique que quando voltou à zona teve que promover uma reunião com todos os pais para explicar o sucedido e aconselhar a todos para evitarem entregar crianças a pessoas estranhas. Como castigo, os pais das crianças tiveram que construir três latrinas na escola primária completa local.