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Toma que te dou: Os pífaros e os clarinetes e os trombones reboaram para ti, Thsungu Thsoni*

Os que te amam sabem que desdenhas as lágrimas. Sabem também que te embeveces quando essas lágrimas são vertidas com amor. Com saudade de um homem que caminha sempre ao encontro da luz, como tudo o que está no Salmos. Eles sabem que não pode faltar a música no teu dia, como não pode faltar o cântico no dia dos pássaros. Sabem, os teus filhos, que não te podem trair, sob o risco de os devolveres para o ventre onde os colocaste e depois saíram para o acolhimento da luz. Os teus amigos também sabem disso. Sabem da mentira que sempre detestaste. E da amizade que será sempre o teu porta-estandarte.

Sabem de tudo isso. Da tua lealdade perante a vida. Da franqueza estampada no riso que libertavas em todos os momentos. Eles vão-se lembrar sempre da tua timidez, que se tornava em doce cascata quando regias a tua banda. A tua banda sim. Porque tudo aquilo que se for a evocar sobre esta orquestra que nos delicia com a enxurrada de sopros tem a ver contigo. E ainda bem que os componentes do grupo se orgulham, todos eles, de terem bebido da sabedoria de um homem como tu. Bem-aventurado.

Eles falam de ti em todos os lugares por onde passam tocando para as pessoas. Tocando para ti, agora que vives do outro lado da lua, como o Nat King Cole. E quem sabe, com o Nat King Cole. Mas nós estamos aqui, e lembramo-nos de ti na semana passada. Os teus filhos reuniram familiares e amigos para te evocarmos. A Leninha, tua filha maluca, ofereceu, em nome de toda a família, um uniforme novo à banda, branco como a alva, listado de preto. Cheirava a “alcafre”. Não se esqueceu dos sapatos, pretos e novos também. Os elementos do grupo estavam todos bonitos. Lembrando-te.

Só faltaste tu naquele dia. Aliás estavas ali protegendo a todos. Falando para cada um dos teus filhos e netos. Oh, como foi lindo!. Faltou o Otis, o teu filho amado, como são todos os que geraste do teu ventre. O Pedrito também não esteve. Mas não faz mal porque estiveram lá de espírito. Eles amam-te, só que a vida aqui está muito difícil. Por vezes custa-nos sair de casa para ir beber água porque não temos dinheiro de chapa. É verdade!

A tua banda tocou no cemitério, onde passaste grande parte da tua vida enterrando os mortos. Mas o que mais admirava a todos é que tu fazias dos funerais uma festa. Na verdade a morte é uma festa. É uma ponte que nos leva para o outro lado. E tu sempre percebeste isso, por isso gracejavas com os cadáveres arrumados na horizontal nessas caixas sinistras.

Foi uma cerimónia bonita, para lembrar a passagem do 21º aniversário da tua partida. O cemitério encheu-se de cânticos e de flores. E a Leninha, tua filha, passava o tempo todo sorrindo. Feliz por saber que o pai é uma jóia. Todos os teus filhos sentem orgulho de terem saído do teu sangue. Eles tentam ser como tu e por vezes conseguem. Não tanto como tu o fazes. Mas tentam, como forma de valorizar tudo o que fizeste.

Eles lembram-se do valor que sempre deste às pessoas e à vida. O respeito e a educação que transmitiste a eles. Oh, bem aventurados aqueles que andam em caminhos rectos. E tu sempre andaste, Tsungu Thsoni. E nós não temos palavras para te descrever. Não se descreve um homem que se tornou um personagem. Um personagem não se descreve. Não se toca. Um personagem escuta-se. Com atenção. Com um personagem aprende-se. Sempre. Por isso dizemos, agora, até sempre, Tsungu Thsoni.

*Tsungu Thsoni foi regente da banda municipal de Inhambane, agora renovada com instrumentos recentemente adquiridos pela edilidade. Foi homenageado pela família e amigos, com a presença de um representante do presidente do Conselho Municipal, no passado dia 7 do corrente mês na “Terra da Boa Gente”. É pai do saxofonista Alípio Cruz (Otis)

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