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Os mil e um encantos das “muthianas horeras”

Os mil e um encantos das “muthianas horeras”

Donas da mais pura beleza sensual, as mulheres do norte do país, principalmente as da província de Nampula, conhecidas por “muthianas horeras” – que na língua local significa “mulheres bonitas” –, têm a fama de enfeitiçar os homens. A convicção jaz no imaginário popular dos moçambicanos de ambos os sexos há vários anos por mil e uma razões.

Como é seu apanágio e fazendo jus à sua designação, o @Verdade mergulhou nos hábitos e costumes do povo macua para desvendar o segredo que encobre os encantos e constatou que não é somente o hábito de se “puxar o clítoris” que eterniza o casamento nesta região. Antes pelo contrário, há uma série de actividades que elas praticam em benefício dos seus respectivos parceiros.

Primeiro, um burburinho ligeiro e, depois, silêncio por um segundo. De repente, ouviu- -se um barulho intrépido vindo de parte incerta.

Num instante, chega aos ouvidos de forma contagiante um som intenso e constante de batucadas, acompanhado de cânticos tradicionais, a ecoar por quase todo o bairro de Karrupeia, arredores da cidade de Nampula.

O rufar dos tambores e o brado de júbilo anunciavam a chegada de um grupo de raparigas dos ritos de iniciação, que se caracteriza essencialmente pela passagem da fase de adolescência para a adulta. Era meio- -dia de um dia de sol.

Silenciosamente, as pessoas deixaram o sossego das suas casas e caminharam alguns metros até a vizinhança, donde provinha o som de batuque, para participar na festa. A concentração dos curiosos foi aumentando a cada cântico, ao mesmo tempo que as batucadas se intensificavam, afinal de contas todos queriam assistir ao fim de uma cerimónia.

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A sombra de uma mangueira foi o local escolhido, mas nem sempre tem sido assim. Enquanto os adultos se concentravam no acontecimento, as crianças brincavam pelo pátio, algumas ignorando a presença de quem quer que seja, apesar dos cânticos e da dança. Geralmente as festividades são realizadas nos fins-de-semana, durante as férias escolares ou nos dias de grande movimento, como a quadra festiva.

Recebidas pelos moradores do bairro onde vivem actualmente, as donzelas cobertas de capulanas eram uma espécie de atracção para a vizinhança e os transeuntes. Porém, elas não falavam com os residentes, nem com os seus parentes, muito menos com os estranhos. Estavam ali como se de meros objectos de contemplação se tratasse.

Coberta, dos pés à cabeça, de capulana, Anifa* ainda é uma adolescente, tem apenas 12 anos de idade. Quando teve a sua primeira menstruação, os seus pais não se fizeram de rogados, até porque a tradição local assim obriga, tendo solicitado os préstimos de um grupo de senhoras já com alguma experiência em questões de sexualidade para transmitir alguns ensinamentos sobre as vicissitudes da vida de modo a orientá-la na sua nova fase adulta.

São os progenitores que negoceiam a educação das filhas. Feliz ou infelizmente, Anifa não é uma excepção, é a regra. Ou seja, à semelhança dela, estão outras donzelas na mesma situação.

Presentemente, de acordo com a tradição, Anifa já é uma mulher preparada, ou seja, pronta para procriar. Além disso, as lições que recebeu durante os quatro dias dos ritos de iniciação, segundo a sua madrinha, vão ajudá-la a assegurar o casamento, enfrentar as múltiplas tarefas domésticas no futuro.

Os valiosos segredos das mulheres do norte

O parco português do grupo de senhoras conselheiras dos ritos de iniciação é suficiente para nos dar a conhecer os segredos – outrora considerados tabus – que tornam as mulheres de Nampula conhecidas no país inteiro como as melhores esposas e donas de casas.

Rostos sulcados pelo tempo, os corpos envoltos em capulanas e pés descalços, as integrantes do grupo revelam-nos alguns segredos. Segundo as conselheiras, o mistério está no tratamento que se dá ao homem durante o acto sexual, e como as mulheres se devem comportar nos seus respectivos lares.

A mulher que passa pelos ritos de iniciação aprende a puxar o clítoris para fora da vagina, uma vez que, acredita-se, proporciona mais prazer ao homem, além de praticar movimentos sensuais da cintura para baixo.

Diz-se que depois de o parceiro ejacular, ela deve estender a mão direita, segurar o pénis do seu companheiro e limpar o resto do líquido seminal com as duas mão e, depois, esfregar nas suas coxas ou no rosto. A lista dos segredos não se resume somente a isso, porém, estes são os principais aspectos do encantamento.

O que é ensinado nos ritos de iniciação femininos?

São submetidas aos ritos de iniciação as raparigas que têm a sua menstruação pela primeira vez ou mantiveram a sua relação sexual inicial há poucos dias. Geralmente, elas encontram-se na faixa etária de 12 a 18 anos de idade.

Conhecidas por “Emuali”, as actividades de ritos de iniciação femininos normalmente são realizadas em três dias. Durante esse período, às raparigas são ensinadas algumas práticas tradicionais típicas do povo macua e como se devem comportar perante os seus maridos e a sociedade no geral.

A educação das mulheres a nível da província tem algumas diferenças, dependendo da região. No litoral, no processo de aconselhamento, as meninas são ensinadas a tratar e a considerar os respectivos órgãos genitais como um instrumento para manter o casamento.

Na zona interior os aconselhamentos são muito diferentes, ou seja, variam de distrito para distrito. Regra geral, as raparigas são informadas de que uma mulher deve casar-se com apenas um único homem, porém, o seu companheiro pode ter duas ou mais parceiras.

Estes e outros ensinamentos são tradições da região norte do país. Na verdade, o que se pretende é fazer com que as mulheres não abandonem os seus lares em caso de infidelidade do marido.

Mas tudo começa assim: depois de a rapariga reportar aos pais sobre a sua primeira menstruação é submetida a um interrogatório para se descobrir se se trata de uma menstruação normal ou perda da virgindade.

Quando obtidas as respostas, caso se descubra que foi por via de uma relação sexual, o companheiro é obrigado a responsabilizar-se pela realização da cerimónia dos ritos de iniciação. Porém, há situações em que algumas famílias perdoam.

Na primeira fase dos ritos de iniciação, às raparigas é explicado o significado da menstruação e como devem proceder quando tal acontecer.

Além dos ensinamentos, elas recebem um medicamento tradicional de cor vermelha que, na língua local, o emacua, se designa “ekhama”, de modo a fortalecê-las e a fazer-lhes perder o medo que têm do período menstrual. Ainda nesta fase aprendem como se devem comportar diante do marido e a serem boas donas de casa.

Na segunda fase, elas são submetidas a um conjunto de instruções com o objectivo de incrementar o tamanho do clítoris, processo que não termina por aqui, pois, já em casa, por cerca de um mês, continua-se até se atingir o tamanho ideal. Para tal, é usado o fruto de uma planta localmente denominada “Naphitchi”, depois de ser queimado e transformado em pó.

Após a instrução, são levadas para um rio (actualmente, na zona urbana tem-se feito uma simulação) onde lhes são mostrados alguns animais, explicando-lhes que no mundo existem pessoas de todos os tipos de personalidade e que toda a mulher tem de estar preparada para todos as adversidades da vida a dois.

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No terceiro dia, nuas e deitadas, elas são obrigadas a fazer danças típicas da região. Com os braços no chão, aprendem a fazer movimentos intensos e sensuais, mexendo a cintura, de modo a proporcionar mais prazer aos seus parceiros. Depois desta fase, quando regressam à casa, elas já se podem considerar mulheres.

A voz da experiência

A imagem da mulher macua trajando a capulana e o rosto pintado com “mussiro” não é apenas o único encanto que as torna conhecidas e diferentes das outras mulheres moçambicanas.

Segundo o senso comum e a expressão masculina local, “em Nampula vai-se solteiro e regressa-se casado”, pois a sensualidade, e não só, das “muthianas horeras” deixa os visitantes inebriados.

Para comprovar os rumores, @Verdade colheu depoimentos de algumas pessoas de sexo masculino sobre as experiências por que passaram. Eles são unânimes em afirmar que as mulheres do norte de Moçambique têm “uma educação sexual invulgar”.

Nhangale Abdul é um exemplo de quem não resistiu aos encantos das“muthianas horeras”. Natural de Inhambane, Abdul tem 35 anos de idade e vive na província de Nampula desde o ano de 2009.

Veio de Maputo, onde morou desde tenra idade, e foi dar à capital de norte à procura de uma oportunidade de melhorar as condições de vida, tendo deixado a sua noiva na cidade de Maputo.

Quando chegou, a sua primeira preocupação foi arranjar um espaço para morar com a sua noiva. Nos primeiros dias da sua estadia, ele tinha um contacto permanente com a sua parceira.

Mas, com o tempo, de 10 ligações telefónicas que efectuava por semana, passou a fazer duas. Seis meses depois, Abdul passou a ignorar ou a rejeitar as chamadas da sua futura esposa, afinal de contas havia conhecido uma rapariga dos seus 19 anos de idade.

“Achei muito curioso o que a moça fez. Ela abriu um frasco que continha um pó e começou a friccionar no seu próprio órgão genital, ao mesmo tempo que fazia alguns movimentos sensuais, enquanto eu aguardava ansiosamente pela hora do acto sexual”, conta.

Ele diz que, apesar de a rapariga ter aparentado ser muito nova para manter relações sexuais, ficou bastante impressionado.

Não tardou que o coração de Abdul começasse a palpitar por aquela rapariga. Depois de um mês de namoro, ele firmou um compromisso sério. Presentemente, tem-na como sua esposa.

“Na verdade recebi um tratamento muito diferente” afirma, tendo acrescentado que existe uma grande diferença na satisfação (ou prazer) em termos sexuais entre uma mulher que foi submetida aos ritos de iniciação e a que não passou por eles.

“Além disso, o respeito, a maneira como trata o homem, e o cuidado com o lar são também alguns dos aspectos diferenciadores”, diz Abdul, pai de dois filhos, frutos da união com a esposa que conheceu em Nampula há alguns anos.

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