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Os empréstimos e leasings estão mais caros nos bancos comerciais em Moçambique

Os empréstimos e leasings estão mais caros nos bancos comerciais em Moçambique

Foto de Adérito CaldeiraOs bancos comerciais que operam em Moçambique com lucros milionários, e que durante quatro anos mexeram timidamente as suas taxas de juro activas, enquanto o banco central cortava a taxa de juro de Facilidade Permanente de Cedência, logo após os aumentos das taxas directoras em finais de 2015 aumentaram os custos para os seus clientes agravando os juros dos empréstimos e leasings. “O interessante nas taxas de juro dos bancos comerciais e as taxas de juro de referência, na sua evolução, elas tendem a afastar-se quando as taxas de referência baixam mas tendem a aproximar-se quando a taxa de referência reduz”, constata a economista Fernanda Massarongo.

Depois de manter estáveis as taxas de referência, e até reduzi-las entre 2011 e início de 2015, o Banco de Moçambique(BM), para conter a inflação e a galopante desvalorização do metical em relação ao dólar norte-americano, aumentou sucessivamente nos meses de Outubro, Novembro e Dezembro as taxa de juro da Facilidade Permanente de Cedência, que é actualmente de 9,75%, e a da Facilidade Permanente de Depósitos, que se situa nos 3,75%.

A investigadora em macroeconomia do Instituto de Estudos Sociais e Económicos(IESE) explica ao @Verdade que as taxas de juro são um instrumento para regular os ciclos da actividade económica na economia. “Há momentos em que a actividade económica é mais baixa do que aquilo que é desejável, e há menos emprego menos consumo etc, então a política monetária é usada para regular a economia para que ela volte ao nível desejável. A taxa de juro passa a ser um instrumento fundamental na implementação da política monetária para gerir os ciclos, o que acontece é que o banco central, dependendo da sua intenção se quiser refrear a economia, diminuir a intensidade da actividade económica pode aumentar a taxa de juro, mas se quiser estimular a economia para aumentar a actividade económica, aumentar o emprego etc, pode baixar a taxa de juro. A taxa de juro dos bancos centrais é vista como a referência para as restantes taxas de juro na economia e normalmente afectam as taxas de juros dos bancos comerciais”.

A economista recorda que “desde 2011 até ao início de 2015, o banco central praticamente tinha cortado a taxa de facilidade permanente de cedência de liquidez para metade. A taxa de facilidade permanente em 2011 estava em cerca de 16,5%, durante muito tempo ela foi ajustada até cerca de 8,5% em 2013”, porém essa redução não se reflectiu nos bolsos dos clientes dos bancos comerciais que operam no nosso país.

“Os bancos comerciais responderam em quase nada, as taxas de juros não tiveram alterações significativas em termos de redução por isso é muito questionável até que ponto os bancos realmente respondem a taxa de juro de facilidade de cedência de liquidez”, afirma Fernanda Massarongo que em 2013 publicou uma reflexão sobre a razão dos bancos comerciais não responderam à redução das taxas de referência do banco central.

Bancos comerciais já aumentaram as suas taxas de juros

Foto de Adérito Caldeira“O interessante nas taxas de juro dos bancos comerciais e as taxas de juro de referência, na sua evolução, elas tendem a afastar-se quando as taxas de referência baixam mas tendem a aproximar-se quando a taxa de referência reduz. Obviamente que se pode falar de tempo de resposta mas poucos dias depois após o anúncio que a taxa de referência aumentou os bancos comerciais disseram que iam ter de aumentar as suas taxas de juros”, constata Massarongo.

O @Verdade pediu aos dois maiores bancos comerciais, o Millenium Bim e o Banco Comercial e de Investimentos, informação relativa às taxas de juros para os vários empréstimos que concedem aos seus clientes, porém não obteve resposta. Entretanto, junto de clientes desses bancos comerciais, apuramos que as taxas de juros efectivamente agravaram-se, nos empréstimos à habitação por exemplo em mais de 4%, enquanto o aumento da Facilidade Permanente de Cedência, entre Outubro e Dezembro de 2015, foi de apenas 2%.

A investigadora do IESE esclarece que existem outras variáveis que determinam as taxas de juros dos bancos comerciais e “um dos argumentos dos gestores do bancos comerciais é que já não recorrem muito aos fundos do Banco Central para satisfazerem os seus problemas de liquidez, tem outras fontes. Segundo eles essas fontes são bastantes onerosas” mas, acrescenta a nossa entrevista, que não faz sentido ir buscar o dinheiro mais caro quando o BM disponibiliza-o a um custo atractivo.

“É papel do Banco de Moçambique entender porque é que a resposta é mais lenta quando a taxa de referência reduz mas rápida quando sobe, nós estamos a falar de um período de redução de quase quatro anos em que as taxas de referência mantiveram-se muito baixas mas as taxas de juros dos bancos comerciais mexeram timidamente, parece uma medida arbitrária”, conclui a investigadora do IESE.

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