Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

Os caminhos da (prometida) excelência artístico-cultural

Os caminhos da (prometida) excelência artístico-cultural

Assim que chegar a Maputo, no dia 23, o artista maliano, Salif Keita, irá actuar, devendo, no dia seguinte, partir para a África do Sul. Entretanto, também caiu em terra o sonho de se prestar tributo a Mia Couto: “Não fez sentido para o escritor ser homenageado pelo Festival Azgo”, refere Paulo Chibanga. De todos os modos, com uma programação surpreendente, a Khuzula Produções promete excelência no tratamento do assunto artístico-cultural.

Ao agregar a música, o cinema, as artes plásticas, o cinema, as feiras gastronómicas e de literatura – entre outros atractivos – no Complexo Matchiki-tchiki, o Festival Azgo torna-se o mais contemporâneo que decorre em Maputo, em Maio. A uma semana para o seu arranque, no dia 23, a Khuzula Produções, a instituição mentora do evento que está satisfeita com a actuação dos seus parceiros, prega as suas utopias: “Queremos expor a nossa excelência no tratamento do assunto da arte e cultura”.

Há uma voz comum entre a produção e os seus parceiros: “O Festival Azgo está a crescer conjuntamente da cidade de Maputo”. Em sentido individual, a Khuzula Produções fala sobre o facto de esta iniciativa demonstrar ser de uma organização socialmente responsável. Para o efeito, aponta a construção de uma biblioteca no Infantário Provincial de Gaza, na cidade de Xai-Xai. Para o efeito, com particular enfoque no fornecimento do material livresco, conta-se com a colaboração da Alcance Editores.

A partir do livro, pretende-se levar a educação – o que não significa que não haja – para aquelas bandas. Para junto dos petizes. Aliás, a educação é o mote da edição deste ano do Festival Azgo. Por essa razão, a editora cartonera Livaningo (aquela que produz livros com material reciclado, como o papelão) também desempenha algumas actividades na realização. Mas, mais do que isso, Paulo Chibanga, o director do evento, fala sobre a edição de uma revista cultural – com o título AZGO – com informes sobre a dinâmica das instituições parceiras, sobre os artistas, incluindo conteúdos de especialidade. Tudo feito a pensar na educação.

No entanto, apesar de que o festival aglutina no mesmo espaço as artes plásticas, o cinema, a gastronomia, os workshops, os intercâmbios artístico-culturais, o ponto mais alto do festival – no qual se irá perceber a suposta excelência no tratamento do assunto cultural – acontece entre os dias 23 e 24 de Maio. E é sobre isso que este comentário se esboça: “Propomos o mesmo tipo de produção, a nossa maneira excelente de tratar o assunto cultural, a fim de que os nossos patrocinadores também fiquem satisfeitos com o nosso trabalho”. Diz Chibanga – “estamos a preparar uma hora de show – com o nosso parceiro de Imprensa que é a Televisão de Moçambique – a fim de que um mês depois do festival as pessoas possam ter a oportunidade de ver o Festival Azgo”.

É importante aprofundar o tema da educação. “Como tema deste ano a educação significa que o Festival Azgo comunica-se com os artistas, disseminando a necessidade de estudarmos para que possamos gerar um futuro melhor. É uma forma de incentivar os mais novos, em particular, e todos os moçambicanos em geral a dedicarem-se cada vez mais à escola. Neste momento dispomos de todos os recursos, no país, para gerar o desenvolvimento. No entanto, falta-nos o know how que os de fora nos trazem. O mote educação vem a este propósito – esclarecer a todos os moçambicanos que é crucial para que possamos ser os obreiros da nossa evolução”, refere Chibanga.

Satisfação generalizada

Cumprindo um papel determinante para a realização, Victor Clemente, da direcção de Marketing e Comunicação do Millennium Bim, o seu principal financiador, explica o motivo da aposta da sua instituição neste produto cultural: “Entramos na aventura do Festival Azgo no ano passado e, dado o facto de a parceria estar a produzir resultados favoráveis, decidimos continuar a patrocinar o evento. Sentimos que a iniciativa tem estado a crescer. Neste sentido, temos uma grande expectativa em relação ao evento de 2014. A sua organização não tem poupado esforços a fim de garantir excelência no evento para que haja um crescimento visível do seu impacto cultural no mercado e junto das populações envolvidas. Estes factos, em sim, harmonizam-se com o nosso posicionamento”.

Em resultado do seu crescimento, o Festival Azgo ganhou, recentemente, um novo patrocinador, a Mcel, que – relativamente ao seu envolvimento nesta celebração cultural –, através de Zófimo Muiuane, o seu representante, se expressa do seguinte modo: “Nos últimos três anos temos estado a avaliar o crescimento do Festival Azgo de tal sorte que, finalmente, decidimos abraçá-lo. É um festival de cariz internacional que expõe artistas estrangeiros e moçambicanos. Uma das nossas grandes apostas é o desenvolvimento da cultura moçambicana”.

Contributo na economia local

Presentemente, o Festival Azgo possui 20 profissionais que se empenham na sua produção. No entanto, nos dois dias em que decorre, emprega 300 pessoas, “o que significa que conseguimos criar uma fonte de rendimento para vários sectores de actividade social. Ou seja, também geramos algum impacto na economia da cidade de Maputo – o que nos faz ficar felizes”.

A par do impacto económico produzido pelo Festival Azgo, questionou-se sobre o universo – em termos monetários – do investimento que se faz na sua produção. Trata-se de uma pergunta para a qual muitos produtores de eventos culturais moçambicanos, como se percebe na resposta de Paulo Chibanga, ainda têm receio de tratá-la de forma transparente.

“Normalmente, eu costumo responder a esta pergunta do modo seguinte: muito suor, muito sangue, muito tempo de trabalho. Não existe um preço que nós possamos pôr sobre a produção do Festival Azgo. O nosso evento é realizado por um conjunto de pessoas que se desgastam para que o mesmo aconteça. Esta é uma forma de dizer que a produção deste evento envolve muito dinheiro”.

Partindo do princípio de que o acesso, por parte dos promotores de eventos culturais, ao patrocínio – esta é uma percepção muito nossa – depende muito do sentido que as empresas patrocinadoras têm de tais realizações, em larga escala, perguntámos sobre os benefícios, até sob o ponto de vista de lucro, que aqueles agentes demandam ao financiar as referidas realizações. “Uma das qualidades que temos enquanto produtora do evento é a nossa organização. Temos uma boa imagem e estamos envolvidos na consolidação do nosso conceito. Isso é algo que nos ajudou bastante nestes últimos anos.

Realizámos um trabalho oneroso no sentido de estimular as pessoas – sobretudo os parceiros – a perceberem que precisamos desta plataforma de exposição de arte no nosso país, a fim de que artistas moçambicanos e estrangeiros possam partilhar experiências”, comenta Paulo Chibanga que acrescenta que “ao longo do tempo em que tenho estado a trabalhar no Festival Azgo pude perceber que há produtores de eventos culturais que não têm conceitos próprios – o que não contribui para o sucesso dos seus eventos.

É preciso criar um conceito próprio, fazer com que as pessoas se orgulhem do mesmo, e trabalhar para que o mesmo se consolide”. Por sua vez, o director de Marketing e Comunicação do Millennium Bim, Victor Clemente, considera que “ninguém olha para o festival com a vertente do lucro, pelo menos naquela vertente mais material que nós conhecemos no dia-a-dia. De todos os modos, o lucro resulta da riqueza cultural que o festival tem trazido para todos nós.

Esse é um ganho que todos – pelo menos a nível do Millennium Bim – queremos: um maior envolvimento de pessoas nas actividades culturais; e o sorriso na face de quem estará presente no festival. E se nós conseguirmos atingir muitas pessoas – como estamos convencidos de que conseguiremos – teremos o melhor lucro que se pode esperar de um evento desta natureza”. Falando sobre o mesmo tópico, Zófimo Muiuane, representante de uma das empresas patrocinadoras do evento, afirmou que “o ganho que a Mcel tem no Festival Azgo encontra-se na venda de recargas de crédito. É isso o que nós estamos a partilhar com os nossos clientes”.

Refira-se que a maior parte dos artistas estrangeiros chegará a partir da quinta-feira, 22 de Maio, muitos dos quais poderão realizar encontros de intercâmbio com os fazedores de arte locais. Tais são os casos de Christine Salem, das Ilhas Reunião, que irá fazer uma residência criativa com a moçambicana Zena Bacar. Do encontro resultará um concerto a ter lugar no dia 29 no Centro Cultural Franco- Moçambicano. Sabe-se que o maliano, Salif Keita – a figura de cartaz – chegará a Maputo na sexta-feira e no referido dia realizará o seu concerto, devendo partir no seguinte.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts

error: Content is protected !!