Um bloco de oposição da Síria reconhecido pela Liga Árabe como o único representante do país abriu a sua primeira embaixada no Catar, esta Quarta-feira (27), num golpe diplomático para o presidente Bashar al-Assad.
Mas o líder da oposição Moaz Alkhatib, que assumiu o lugar da Síria numa cúpula árabe em Doha, Terça-feira, usou a cerimónia de inauguração para expressar a sua frustração com as potências mundiais por não fazerem mais para ajudar na luta para derrubar Assad, que já dura dois anos.
“Há uma disposição internacional para a revolução, não para triunfar”, disse ele a jornalistas na embaixada, que foi enfeitada com balões em vermelho, verde, branco e preto, as cores da bandeira nacional da Síria. Alkhatib, um clérigo muçulmano sunita que renunciou, esta semana, da liderança da Coligação Nacional Síria, mas vai ficar como interino, também aludiu às divergências internas que afligem o grupo de oposição formado no Catar, em Novembro.
“A única maneira para a vitória é a unidade”, declarou ele. Damasco enfureceu-se contra o Catar por ajudar a oposição a obter o assento da Síria na Liga, enquanto a Rússia e o Irão também criticaram o movimento por deslegitimar o regime de Assad.
No entanto, embora o bloco árabe de 22 membros tenha dado o seu apoio a armar os rebeldes sírios, não está claro que impacto os avanços diplomáticos da oposição teriam dentro da Síria.
Alkhatib disse à Reuters numa entrevista que foi surpreendido pela recusa dos Estados Unidos e da NTO ao seu pedido de mísseis Patriot com base na Turquia para ajudar a proteger áreas controladas pelos rebeldes no norte da Síria de helicópteros e aviões de guerra de Assad.
“Tenho medo de que isso vai ser uma mensagem para o regime sírio dizendo que ‘faça o que quiser'”, disse ele. O secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, falando a estudantes em Moscovo por videoconferência a partir de Bruxelas, mais uma vez disse que a aliança ocidental não tinha nenhuma intenção de intervir na Síria.
“Nós acreditamos que precisamos de uma solução política na Síria”, afirmou ele, observando que não havia mandato da ONU para uma acção da NATO lá. O apoio da cúpula árabe aos inimigos de Assad pode ser mais simbólico do que prático, mas a Síria desabafou a sua ira com o Catar por suas acções pró-oposição no encontro anual.
“O emir do Catar… começou a sua presidência da Liga Árabe manchando-a com óleo contaminado e dinheiro”, disse a agência de notícias SANA, porta-voz do governo de Assad.
O xeique do Catar, Hamad bin Khalifa al-Thani, “cometeu uma violação flagrante do pacto da Liga ao convidar o órgão deformado, a ‘Coligação de Doha’, para usurpar o lugar da Síria na Liga”.
O Catar tem financiado grupos de oposição política e supostamente estaria a canalizar dinheiro e armas para os rebeldes na Síria. A Rússia, que dá apoio militar e diplomático a Damasco, repreendeu a Liga Árabe por tomar “mais um passo anti-Síria” dando o lugar da Síria para a oposição.
O Irão, que enviou assessores, dinheiro e armas para ajudar Assad a permanecer no poder, também criticou a Liga Árabe por permitir que um inimigo de Assad tome o assento da Síria na cúpula, chamando isso de “um padrão de comportamento perigoso”.
