Depois de controlarem várias cidades do leste do país, os opositores ao regime do coronel Muammar Kadafi também conseguiram dominar Zouara, a principal cidade do oeste da Líbia. Testemunhos sugerem que número de mortos pode passar dos dois mil apenas em Benghazi.
Na Líbia, a situação continua extremamente tensa e confusa. A região de Cerinaica, a mais rica do país, de onde é exportado o petróleo e o gás, caiu definitivamente nas mãos dos opositores ao ditador Muammar Kadafi.
A cidade de Zouara, distante 120 quilômetros à oeste da capital, também estaria sob controle da oposição de acordo com trabalhadores egípcios que conseguiram deixar a cidade. Segundo eles, não há mais policiais ou militares nas ruas e os chamados “comitês populares” armados controlam o local. Zouara, às margens do Mar Mediterrâneo, é considerada a principal cidade no oeste da Líbia.
Quanto à capital Trípoli, ela ainda continua sob o comando do governo. No plano político, a alta cúpula do poder está dividida, mas Kadafi está se enfraquecendo a cada dia com a renúncia de numerosos ministros e diplomatas no exterior.
Todos os refugiados que deixam o país confirmam a extrema violência na repressão dos manifestantes, assim como a presença de mercenários africanos.
Vítimas carbonizadas
A Federação Internacional dos Direitos Humanos estima em pelo menos 640 o número de mortos no país, mas essa estimativa deve ser bem maior, segundo o testemunho do médico francês Gerard Buffet, que trabalhou durante um ano e meio no Hospital Universitário de Benghazi.
Ao desembarcar na França na noite desta quarta-feira, em um terceiro avião enviado pelo governo, ele calculou que apenas em Benghazi, duas mil pessoas possam ter sido assassinadas. “Não paramos de operar durante três ou quatro dias; as pessoas calculavam que havia 80 feridos na primeira noite, mais de 200 na segunda, e na terceira noite a situação se agravou”, explicou.
“Os aviões dispararam contra o povo, lançando granadas, tiros de morteiro durante horas e horas, e na terceira noite as estimativas estavam em torno de 600 a 700 mortos”, diz Buffet. “Vimos pessoas queimadas, totalmente carbonizadas. Estávamos em um hospital universitário para doenças graves, não tinhamos serviços de urgência e tivemos que organizá-los em poucos dias e depois não tinhamos mais remédios”, afirma o médico francês. Estados Unidos
Depois de 10 dias de crise na Líbia, finalmente o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, saiu do seu silêncio na noite desta quarta-feira. Ao lado da secretária de Estado, Hillary Clinton, Obama definiu a violência contra os manifestantes na Líbia como “escandalosa” e “inaceitável”, que fere o direito internacional. Reiterando que a violência deve parar, Obama disse que ordenou ao seu Conselho Nacional de Segurança a preparação de uma série de opções, sem dar maiores detalhes sobre quais seriam.
Obama também acrescentou que o governo líbio será responsabilizado se não respeitar suas obrigações com seu povo.
Na manhã desta quinta-feira o ministro francês da Defesa, Alain Juppé disse esperar que o líder Muamar Kadafi viva seus “ultimos momentos” como chefe de estado da Líbia. Ele também descartou uma intervenção militar no país mas afirmou que a criação de uma “área de exclusão aérea”, para evitar novos bombardeios da avião líbia contra a população, poderia ser uma opção.
Na quarta-feira, o secretário americano da Defesa, Robert Gates, afirmou que a França e a Itália eram os dois países melhor posicionados para criar essa “área de exclusão aérea”. “Às vezes falamos de não-ingerência em assuntos internos de países ao redor do planeta, mas há um outro dever, adotado alcaramente pelas Nações Unidas que é a responsabilidade de proteger”, afirmou Juppé.
“Quando um governo não é capaz de proteger sua população, que ele mesmo agride, então a comunidade internacional tem o direito de agir”, defendeu o ministro. “É o que faz o Conselho de Segurança (da ONU) em uma declaração muito clara. É o que faz a União Europeia. Estamos trabalhando em sanções financeiras, comerciais, e também políticas que poderão ser adotadas”, acrescentou Juppé.