É ético oferecer vacinas e medicamentos não comprovados a pessoas infectadas ou com risco de contágio pelo surto de ébola na África Ocidental, decidiu um painel de especialistas em ética médica da Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta terça-feira, alertando, porém, que o fornecimento será limitado.
O painel disse que qualquer provisão de medicamentos experimentais contra o ébola exigirão “consentimento informado, liberdade de escolha, confidencialidade, respeito à pessoa, preservação da dignidade e envolvimento da comunidade”. As drogas também devem ser testadas propriamente nos melhores testes clínicos possíveis, disse o painel da OMS.
A epidemia do vírus ébola na África Ocidental – a maior e mais mortal até agora – matou pelo menos 1.013 das mais de 1.848 pessoas infectadas na Guiné Conacri, Libéria, Serra Leoa e Nigéria. A OMS declarou uma emergência internacional de saúde.
“Surtos do ébola podem ser contidos utilizando intervenções disponíveis como detecção em estágio inicial e isolamento, com rastreamento e monitoramento, e adesão de procedimentos rigorosos de controle de infecção”, disse o painel. “No entanto, um tratamento específico ou vacina seria um ativo potente para conter o vírus.”
O comité de ética reuniu-se para discutir se as várias drogas e vacinas experimentais sendo desenvolvidas contra o ébola podem ser utilizadas para conter o surto, apesar de não terem sido totalmente testadas ou licenciadas. “Diversas intervenções passaram pelas fases laboratoriais e de estudo em animais de desenvolvimento”, disse o comité num comunicado emitido pela OMS.
Segundo a nota, os primeiros testes em humanos serão conduzidos nos próximos dois a quatro meses, mas a OMS alertou que, mesmo após isso, caso os testes sejam bem-sucedidos, o abastecimento desses medicamentos seria limitado. “É… provável que o número de doses disponíveis para mais estudo e/ou desenvolvimento a partir do fim de 2014 permaneça insuficiente para atender a demanda”, disse o comunicado.
A reunião de ética foi convocada após a droga experimental ZMapp, feita pela companhia norte-americana de biotecnologia Mapp Biopharmaceutical, ter sido dada a dois trabalhadores humanitários norte-americanos infectados pelo ébola na Libéria.
A escassa droga experimental, a qual, segundo uma porta-voz da OMS, apenas 12 doses foram produzidas, deveriam ser aplicadas a dois médicos liberianos após autoridades dos EUA terem aprovado a sua exportação, de acordo o ministério da Informação de Monróvia. Esta seria a primeira vez que o tratamento seria utilizado em africanos.
Um padre espanhol de 75 anos que também recebeu o ZMpp morreu. Ele contraiu ébola na Libéria.
“Nas circunstâncias particulares deste surto, e dado que certas condições sejam cumpridas, o painel chegou ao consenso de que é ético oferecer intervenções não testadas de eficácia desconhecida e efeitos adversos, como potencial tratamento ou prevenção”, disse o comunicado do painel.
Não há tratamento licenciado ou vacinas para o ébola.
Assim como a Mapp, diversas outras companhias de biotecnologia e equipes de pesquisa têm trabalhado em potenciais drogas. Companhias com possíveis tratamentos incluem a Tekmira Pharmaceuticals, a Biocryst Pharmaceuticals e a Siga Technologies.
A GlaxoSmithKline e cientistas norte-americanos do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas esperam começar os testes clínicos de uma vacina experimental contra o ébola já no mês que vem, após promissores resultados em primatas.
Normalmente levaria anos para movimentar tal vacina por três fases de testes clínicos, mas alguns representantes do setor sugeriram que procedimentos de emergência podem ser efetuados para que o tratamento seja disponibilizado em 2015, presumindo que funcione na fase de teste.