O Observatório Eleitoral (OE) reiterou os apelos de reflexão e calma ao líder da Renamo, Afonso Dhlakama, na sequência das recentes ameaças feitas, em Nampula, norte do país, onde prometeu que Moçambique iria arder caso se confirmassem as alegadas irregularidades que, segundo afirma, se registaram no processo de votação no dia 28 de Outubro.
O apelo foi feito hoje em Maputo pelo OE, organismo da sociedade civil que incorpora confissões religiosas e organizações não governamentais (ONGs) com a missão de observar os processos eleitorais no país, no final da audiência concedida pelo Presidente moçambicano, Armando Guebuza, para entregar o relatório técnico da observação eleitoral.
“Este pronunciamento preocupa-nos e esperamos que o candidato da Renamo use o máximo possível da sua ponderação, calma e sabedoria porque todo o pronunciamento de um líder tem um significado muito diferente daquele que é feito por um simples cidadão”, disse Brazão Mazula. Segundo Mazula, que foi igualmente presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), as afirmações feitas por Dhlakama desgastam a ele próprio, por isso o OE espera que ele ganhe mais calma e consiga controlar também os extremistas radicais do seu partido, porquanto todas as forças políticas têm radicais, mas há um modelo de controlo.
O líder, acrescenta Mazula, tem de saber controlar as posições tomadas no partido e ser um mediador dessas posições e interesses existentes e, mais ainda, ele (Dhlakama) deve colaborar para a paz assim como sentir-se responsável pela paz no seu país. Aliás, os líderes religiosos Dom Francisco Chimoio, Arcebispo da Igreja Católica em Moçambique, e Dom Dinis Sengulane, Presidente do Conselho Cristão de Moçambique (CCM), pediram, após exercerem o seu direito cívico nas respectivas assembleias de voto, aos candidatos para aceitarem os resultados sem quaisquer contestação.
Afonso Dhlakama que, de certo, não está alheio ao pedido feito pelas proeminentes entidades da Igreja parece ignorar por completo este forte apelo e promete materializar os seus ideais belicistas, em detrimento da paz e reconciliação iniciadas em 1992, altura da assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP). Em relação ao objectivo do encontro que o OE manteve com o estadista moçambicano na sua qualidade de candidato presidencial, o mesmo fará com os dois restantes concorrentes, Mazula disse que usaram a ocasião para felicitar igualmente a Guebuza pela vitória que já é um facto consumado.
“Solicitamos um encontro com cada um dos candidatos e o candidato da Frelimo, Armando Guebuza, aceitou receber-nos esta manhã. Então viemos entregar o nosso relatório e também felicitar-lhe pelos resultados divulgados que, até aqui, dão uma margem bastante folgada e desejar votos de sucesso para que ele continue a gerir os destinos do país”, disse Mazula. O relatório, de um modo geral, afirma que o processo de votação para as eleições gerais e provinciais de 28 de Outubro foi ordeiro e felicita o povo moçambicano.
A contagem foi também e aí enaltece o papel do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) pelo excelente nível de organização. Apesar de reconhecer a ocorrência de erros, Mazula disse que não são suficientes para invalidar o processo. Segundo as projecções feitas por este órgão da sociedade civil, o candidato da Frelimo tem entre 74 a 76 por cento de votos, seguido do seu maior rival, o líder da Renamo, com cerca de 14 por cento e, no fim, o concorrente do MDM com cerca de nove por cento. A margem de erro do Observatório Eleitoral é de 2.98 por cento.
Brazão Mazula disse, por outro lado, que o encontro solicitado ao líder da oposição para a entrega do relatório técnico não aconteceu por ele se encontrar em Nampula, porém o OE está ainda a avaliar de que forma encaminhará o documento ao destinatário. “Temos que avaliar a nossa capacidade de ir a Nampula, até porque a constituição define que Maputo é a capital política do país e a lei dos partidos diz que a sede é Maputo”, disse Mazula, acrescentando que o OE está a equacionar ainda a deslocação face as disposições constitucionais legais.
Em relação ao MDM, força política baseada na Beira, mas com uma sede em Maputo, o Observatório Eleitoral estuda a possibilidade de enviar às sedes existentes na capital que, por seu turno, farão o encaminhamento ao respectivo candidato. “Se estivesse em Maputo faríamos a entrega directa como aconteceu, em 2004, com o líder da oposição, quando nós pedimos um encontro e ele recebeu-nos cá em Maputo”, vincou Mazula.