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Ode à criança moçambicana

A propósito do dia Internacional da Criança, que se comemora no próximo dia 1 de Junho, homenageamos hoje a criança moçambicana, através de um conto extraído do livro do escritor Rogério Manjate, intitulado Mbila e o Coelho. Rogério aparece num universo em que se escreve sobre as crianças, mas que essas obras são pouco divulgadas.
Entretanto, isso não significa que não se faça – ou não se tenha feito algo – em prol das “flores que nunca murcham”. Lembramo-nos, por exemplo de Moçambique é um Jardim, de João Kuimba, publicado pela Editora Escolar, na colecção, “Meu Moçambique”. Ou ainda de O Vestido Novo, de Angelina Neves, na colecção Tan Tan.

Aliás, com a colecção Tan Tan pretendia-se despertar nas crianças o hábito de leitura, desenvolver a sua criatividade e imaginação, o amor pela vida, pela natureza e o meio onde vivem, despertar o gosto pela aventura, pelo maravilhoso e o fantástico, pela descoberta de uma nova maneira de estar na vida e de ser feliz.
Com esta colecção também se tinha em vista despertar nos moçambicanos o desejo de escreverem para os seus filhos, netos, sobrinhos, irmãos e todas as crianças do seu país, que renasce para paz e a tranquilidade.
Mas, como se disse, outras obras literárias existem, buriladas por moçambicanos, e que têm pouca divulgação.

Menina Mbila*

Era segunda-feira. Ao meio-dia e pouco, com o sol a pino, Mbila voltava da escola cheia de fome, trajando um vestido azul jardim, de tantas florinhas; nos pés, sapatilhas brancas, na cabeça, um laço vermelho a prender o cabelo, e, nas costas, a mochila.
E nessa segunda-feira em que esta história começou, Mbila tinha seis anos e nove meses e dois dias e meio e era meio-dia e tal e com o sol a pino. Sim, claro, voltava da escola cheia de fome com o seu vestido azul jardim, de tantas florinhas. Afinal, o maior desejo de Mbila era precisamente, ir à escola, para aprender a ler e a fazer contas, e conhecer outros meninos e meninas.
No seu primeiríssimo dia de aulas, de tão ansiosa, pulou da cama durante a madrugada e foi ao quarto da mãe e acordou-a por duas vezes. Que era para prepará-la para não se atrasar às aulas. Na segunda vez, a mãe teve mesmo de se levantar e abrir a cortina para ela ver o escuro a brincar com a madrugada, sussurrando e miando. Realmente os fantasmas ainda estão na rua, falou Mbila para os seus botões.
– Mamã, hoje a noite está comprida porquê?
– Volta ao teu quarto e dorme, filha – respondeu a mãe, sonolenta e enroscou-se nas mantas.
– Não tenho mais sonho.
– Primeiro inventa um sono.
Mbila olhou para a cama e reparou que havia algo de estranho.
– Onde está o papá?
A mãe parecia estar a acordar de um pesadelo; a surpresa arregalou-lhe os olhos para rapidamente ver uma resposta.
-Foi ao futebol com os amigos…
– A esta hora!?
É futebol da televisão – ela fez um drible astuto e a filha caiu na fita. Ela acendeu a luz do abajur, na cabeceira, e puxou a Mbila pelo braço, convidando-a para dormir ao seu lado.
– Vem cá, vou te ensinar como se inventa um sono.
Depois podes sonhar como quiseres. Vou-te contar uma história. Era uma vez um coelho…
Mbila saltou de alegria, porque as histórias do coelho eram as suas favoritas. Ela escutava as mesmas histórias mais de mil vezes e não se fartava. Algumas vezes ela pedia à mãe para mudar algumas coisas e acrescentar outras, nas velhas histórias.

– Era uma vez, o coelho…

* Conto de Rogério Manjate, extraído do seu livro Mbila e o Coelho

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