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O segundo momento de G2

O segundo momento de G2

Serão poucos os que reconhecerão à primeira o nome de Guerte Geraldo, mesmo se usarmos apenas as iniciais GG. Mas se retirarmos uma letra e acrescentarmos o número 2, depressa se percebe de quem se está a falar. Os moçambicanos já se apaixonaram por ele, pela sua voz segue o resto do mundo. Uma legião de admiradores e o sucesso das suas músicas fazem dele uma imponente estrela de R&B à moçambicana.

Um músico que nos faz mudar a nossa percepção sobre os músicos jovens moçambicanos. G2 é mais do que isso, transforma em ouro tudo o que toca. É, diga-se, o novo símbolo nacional de R&B. “Momento 2” é o seu álbum de estreia, a ser lançado amanhã (4 de Dezembro) em Maputo.

 

 

A decisão de lançar o disco foi algo inusitado e, ao mesmo tempo, maduramente pensado. Quando entrou na GPRO por volta de 2007, começou a testar o G2 como R&B singer, e, em 2008, já dispunha de uma música. Foi a sua primeira composição, que colocou no mercado, mas não teve o efeito desejado.

Gravou a segunda música, “Quero uma friend”, que estoirou nas rádios nacionais e colocou o jovem artista na boca dos apreciadores de música como a nova aposta do R&B e está sob os holofotes dos media. “Foi a partir dessa música que tivemos a certeza de que G2 tem de gravar um álbum”.

O primeiro trabalho discográfico de G2 não é só uma soma de temas sobre o seu ponto de vista moralista em relação a uma camada da população. Parece…mas é puro engano: o autor de “Anti-chula” quer despertar consciências e fala da mulher sem se esconder por detrás de metáforas.

O álbum centra-se no comportamento da mulher, a materialista claro! Retrata as múltiplas fases de vida do considerado ‘sexo frágil’, mostrando que elas não são tão frágeis como parecem, e a sua relação com o sexo oposto. “A mulher não é ‘premeditável’, ela vive várias coisas. Vive momentos bons e maus e que alguns desses momentos são causados pelos homens. Mas essencialmente quero que cada mulher em Moçambique se identifique em, pelo menos, uma música do meu álbum”.

Cresceu num grupo de amigos dado a farras e a experiência por que passou levou-o a compor “Anti- chula” – que é uma espécie de desabafo. “Já passei por vários momentos desses, aprendi muito, em 2004, que a maioria das mulheres vai pelo materialismo, entendes?”. Diz que “elas só se querem divertir, não querem saber de homens simples. Elas vão pelas coisas que as fascinam: um carro de luxo, dinheiro, estar bem vestido ou coisa assim parecida”, e acrescenta: “Não quero criticá-las, apenas pretendo despertá-las para o facto de que, para se ser feliz, não é preciso ter bens materiais”.

Passa(va) muito tempo trancado no estúdio. Outros artistas são “relativamente preguiçosos”, pois nunca estão num estúdio a gravar. “Fazia tudo, produzia e ia gravando as músicas esporadicamente. Quando estivesse inspirado, ia ao microfone e deixava lá o que eu quisesse”. Quando deu por si, já tinha um pouco mais de 20 temas gravados.

Teve de escolher as melhores músicas, tarefa que “não foi fácil”. Decidiu pôr outras pessoas a ouvir as músicas para escolher as que iam para o álbum. Depois de seleccionadas, em 2009, decidiu colocar as restantes (sete músicas) e lançar num pré-álbum e desta forma foise habituando o ouvido público à voz de G2.

Ainda no ano passado, já tinha o álbum pronto, mas, vendo que o público ainda não tinha despertado para o seu talento, a GPRO mudou de estratégia: preparou a compilação “Na Linha Da Frente”.

“Juntámos as músicas de todos e lançámos para o mercado e funcionou, de lá para cá o público conhece muito mais o G2 do que conhecia antes, então agora estamos preparados para lançar o meu trabalho que estava guardado no estúdio à espera do momento certo”, conta G2.

O CD contém 14 faixas e ousou designá-lo “Momento 2” porque se trata do seu “segundo momento mais feliz do ano”, depois de, no mesmo ano, ter obtido a sua licenciatura em Engenharia Informática e de Telecomunicações. Foi o momento mais difícil. “Foi um ano de muita saturação, sobrecarga e até cheguei a ficar esgotado”, comenta.

O álbum é uma produção independente desde a sua criação, passando pelo marketing e publicidade, até ao lançamento no mercado. O disco estará à venda na portaria da Rádio Moçambique.

“Acho que o pessoal vai aderir. Para mim, desde que superemos as vendas do primeiro CD, já está muito bom. Mas no fundo há um medo porque as pessoas não têm a cultura de comprar CD´s, apesar de fazermos o marketing que quisermos. Adoptámos uma série de estratégias, reduzimos o preço, aumentámos os brindes e melhorámos o marketing, e espero que o público saiba retribuir e que eu consiga vender o maior número possível de CD´s no primeiro dia”, diz.

A produção coube exclusivamente a G2 e no princípio não teve muitas dificuldades porque “estava ainda com muito gás”, mas nos últimos dias começou a achar o estúdio um lugar irritante. “Estava sempre sob pressão, tinha de mudar isto e aquilo. O Djo dizia: ´temos de melhorar o intro´, quando o CD já estava fechado. Quase cheguei a ficar deprimido”.

Paixão pela música

Nascido em Maputo a 15 de Agosto de 1985, G2 – de nome verdadeiro Guerte Geraldo Bambo ? surge em 2001 quando ele e os seus amigos do bairro começaram a reppar. “Cada um tinha de ter um AKA (pseudónimo), escolhi as duas iniciais do nome e compus o G2. Hoje toda gente me trata assim, mesmo os que não estão ligados à música”.

A paixão pela música começa cedo e cresceu a gostar dela. “O meu pai sempre trazia cassetes VHS para casa e eu ficava a ver vídeos de soul, pop e rock. Gostava disso tudo, cresci a gostar de música”. Porém, a paixão foi-se intensificando quando começou a produzir. No grupo de Rap denominado WD CLAN, de que fazia parte, ele era o produtor, mas não gostava apenas do estilo musical Rap.

Ouvia a música com “outros ouvidos, ouvia para aprender”. Investigava como é que os outros produtores faziam, e passou muitos anos a tentar reproduzir beats que ouvia e daí “fui criando a paixão aos bocados”.

Começou a cantar Rap num circuito underground. “Nós, por acaso, tínhamos fama, éramos um bom grupo, fazíamos boa música, tínhamos as músicas a passar sempre no Hip Hop Time. Na minha carreira como rapper estava tudo bem” afirma.

O autor de “Quero uma Friend” diz que sempre quis cantar, pois sabia que “tinha potencial”, mas também sentia que não cantava bem, embora entendesse muito de melodias e harmonia. Então, decide associar isso à sua voz, pesquisou na Internet, e descarregou um CD com aulas de canto. Durante dois anos, desenvolveu todas as qualidades, quer a nível de canto e composição, quer de produção e mistura, masterização, e nunca mais parou.

G2 teve várias influências, e Michael Jackson é uma delas. Aliás, o início da carreira do músico americano Jonh Legend foi um dos aspectos que marcou os seus primeiros passos no estilo musical R&B. “Influenciou muito a forma como eu canto até hoje”. Na produção, tem como referência Dr. Dre.

A sua incursão pelo universo R&B dá-se quando criou o próprio estúdio no seu quarto. “Gravar uma música R&B não era fácil, pois levava-se mais de uma hora e na altura cobrava-se 300MT por hora. Eu não tinha condições para pagar um estúdio por mais de uma hora. Criei o meu estúdio e podia perder as horas que eu quisesse”.

Entrada na GPRO

Durante o tempo em que desenvolvia as suas qualidades como técnico de som, mix e master, G2 soube de um amigo que a GPRO precisava de alguém para trabalhar com a banda, tendo-lhe sido formulado um convite. O jovem músico moçambicano não se fez de rogado, tendo aceite o desafio.

Apresentou-se ao grupo, mostrando o que de melhor sabia fazer. Na altura, foi-lhe entregue a música do rapper 3H intitulada “Sem Barras” para fazer a mistura. “Misturei aquela música e ficaram deslumbrados. A partir daí comecei a trabalhar no estúdio, mas nas horas livres, quando não estivesse ninguém, eu gravava as minhas músicas até que um dia me ouviram a cantar e disseram: ´Afinal, esse jovem canta´”.

Hoje, G2 é um dos músicos que grande parte dos jovens artistas moçambicanos procura para fazer um dueto devido ao sucesso que tem vindo a fazer a nível nacional. “Acho que as pessoas sabem que estou numa fase de movimentar massas e fazer uma música comigo tornou-se uma mais-valia”.

Ou seja, segundo G2, a cada dia os convites têm vindo a multiplicarse porque “sou um bom cantor de R&B e está na moda fazer um rap com um bom coro por trás. Mas nunca aceitei nenhum convite para fazer um coro de alguma música.

Aliás, aceitei apenas o de MC Roger porque foi um bom negócio e porque era a minha ambição ser conotado como uma pessoa que ‘tira os artistas da cova’. Sabe-se que MC já não tem feito música há muito tempo e o público tem tendência a desgostar dos trabalhos do MC. Vamos lá ver se consigo pôr o MC Roger a movimentar o people”, comenta.

Actualmente, a rotina diária do músico começa cedo. Às 4h30 está acordado, vai ao ginásio e regressa às 6h30. Prepara-se, e ainda tem tempo para descansar pelo menos 30 minutos. Sai de casa às 8 horas, vai para o trabalho e às 14 para o estúdio. Geralmente, regressa à casa muito tarde, por volta das 23h00.

“Nos tempos livres gosto muito de conversar com os meus amigos, de jogar futebol e de ir ao ginásio”. Quando está no carro faz todos os dias exercícios técnicos de voz. Afirma que não tem amuleto, mas um número de sorte (7) e revela que, hoje em dia, o seu sonho é ter casa própria, como tantos outros jovens da sua idade.

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