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O perigo está no Árctico

A rapidez com que o planeta perde gelo no Pólo Norte continua a surpreender os especialistas.

O derretimento é um dos principais motores do sistema climático da Terra, além de modificar os fenómenos meteorológicos de forma imprevisível.

Cientistas alemães encontraram outra pista contundente que confirma o aquecimento global, causador da mudança climática: o gelo do Árctico diminuiu para um mínimo histórico. O fenómeno também acelera a mudança climática, além da actividade humana com cada barril de petróleo, tonelada de carvão ou cada metro cúbico de gás queimados.

O derretimento do gelo do Árctico superou o último mínimo registado em 2007, informaram pesquisadores Universidade de Bremen, da Alemanha, no dia 8 de Setembro. Outros centros de pesquisa, com diferentes ferramentas de análises e satélites, indicaram que ainda não foi superada a extraordinária redução de gelo registada naquele ano e que 2011 ocupa o segundo lugar.

“Cremos que ficará bem abaixo da marca, mas pouco importa”, disse Mark Serreze, director do Centro Nacional de Dados sobre Gelo e Neve, com sede na cidade norte-americana de Boulder, no Estado do Colorado.

“O extraordinário deste ano é que não houve episódios climáticos raros como os que criaram as condições perfeitas para o degelo de 2007”, disse Serreze. Este Verão boreal foi normal, mas o gelo desapareceu num volume semelhante ao de 2007. “Isto diz-nos que a camada de gelo é muito fina para se manter em condições normais”, explicou.

A Passagem do Noroeste e a Rota do Mar do Norte, ao redor do Árctico, estão abertas novamente, como acontece todos os anos desde 2007. Um navio- -tanque atravessou o oceano em tempo recorde de oito dias, desde Houston, nos Estados Unidos até Map Ta Phut, na Tailândia. A perda de gelo neste Verão foi o dobro relativamente à de 30 ou 40 anos atrás.

Uma criança nascida no início da era do satélite, quando a humanidade pôde olhar pela primeira vez para a imensidade congelada, hoje com 32 anos, teria visto que mais de três milhões de quilómetros quadrados de gelo, a superfície da Índia, desapareceram entre o Verão do ano do seu nascimento e o Verão actual. É quase certo que não haverá gelo no Árctico no Verão quando uma criança nascida em 1979 completar 50 anos.

É uma mudança rápida à escala planetária, com consequências de longo alcance, um fenómeno que os cientistas apenas começam a compreender. Uma das consequências é a aceleração da mudança climática enquanto o Árctico passa do branco para o azul-escuro, e o oceano absorve tremendas quantidades de calor durante as 24 horas do dia na temporada de Verão.

A previsão é que essa situação acrescente uma quantidade extra de aproximadamente 0,3 watts por metro quadrado de energia calórica às terras emergidas e à superfície da água do planeta, calculou Stephen Hudson do Instituto Polar Norueguês.

É uma quantidade de energia suficiente para acender uma luz LED nocturna a cada metro quadrado, nos 510 milhões de metros quadrados de terras emergidas. Neste contexto, a temperatura global aumentará 0,25 graus, afirmou o especialista Johan Abrajam, da Universidade de St. Thomas, em Minnesota, nos Estados Unidos.

A enorme quantidade de calor concentrar-se-á primeiro no Árctico, onde as temperaturas já são, em média, entre três e cinco graus acima das registadas há 30 ou 40 anos. O calor adicional ameaça acender o pavio da maior “bomba de carbono” do mundo, a vasta região de 13 milhões de quilómetros quadrados com permafrost que inclui Alasca, Canadá, Sibéria e parte do norte da Europa.

O permafrost contém, pelo menos, o dobro de carbono existente hoje na atmosfera. Ainda que liberte uma pequena percentagem desta quantidade, as consequências meteorológicas serão catastróficas, afirmou o especialista Vladimir Romanovsky, da Universidade do Alasca, em Fairbanks. O permafrost diminui de espessura há duas décadas e o grau de degelo acelera com o aumento da temperatura, disse.

A situação terá profundas consequências para as populações humanas do planeta. Em 2050, haverá 200 milhões de refugiados, a maioria procedente de zonas costeiras baixas, devido a fenómenos climáticos como elevação do nível do mar, segundo dados do Global Governance Project (Projecto de Governação Global).

A tragédia climática agrava-se enquanto os Estados Unidos e a maioria dos países industrializados se deixa levar pela relativa exagerada ameaça terrorista e gasta biliões de dólares em defesa e nas guerras do Afeganistão e Iraque.

Os Estados Unidos podem gerar energia necessária para atender 100% do seu consumo eléctrico com a sua produção eólica, solar, geotérmica e produzida pelas ondas do mar por muito menos do que gastou em defesa e em guerras nos últimos dez anos, disse Richard Heinberg, especialista do Post Carbon Institute, com sede na Califórnia.

Porém, a economia norte-americana está em tão mau estado que já não pode assumir o custo nem continuar a queimar fósseis, disse Heinberg. “Seremos obrigados a utilizar muito menos energia, mais cedo ou mais tarde”, acrescentou.

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