Apesar da evolução registada nos últimos anos na expansão da rede de fornecimento de energia eléctrica para mais distritos, “o país está praticamente às escuras”, segundo reconheceu esta quarta-feira o Presidente do Conselho de Administração (PCA) da Hidroeléctrica de Cabora Bassa (HCB).
Paulo Muxanga, que falava ontem, em Maputo, durante a conferência económica alusiva ao 15º aniversário do Banco Comercial e de Investimentos (BCI), ilustrou que dos mais de 20 milhões de moçambicanos, apenas 20 por cento está a beneficiar de energia eléctrica. Fazendo jus a estes dados, apenas quatro milhões de moçambicanos, na sua maioria das zonas urbanas, está a usufruir dos serviços de electricidade.
“O país está praticamente às escuras. Apenas 20 por cento da população tem acesso à energia, isto porque as fontes de fornecimento de energia eléctrica são escassas e dispersas” — afirmou. Muxanga lamentou que independentemente da velocidade que os programas e projectos de investimento possam levar, vai levar tempo até que todos ou a maioria dos moçambicanos tenha acesso à energia eléctrica.
“Durante muito tempo, vamos continuar a ver o nosso povo a ter a lenha e carvão como principais fontes de energia” — lamentou. Acrescentou que a escassez de electricidade no país cria problema de competitividade externa dos produtos nacionais devido aos excessivos custos de produção.
Outro risco que Moçambique corre é o de ver a sua taxa de crescimento económico a reduzir-se uma vez que muitos investidores vão preferir aplicar o seu dinheiro noutros países onde as condições são diferentes. De acordo com o PCA da HCB, Moçambique tem um potencial de produção hidroeléctrica de 60 mil megawatts. A HCB, com cinco geradores, está a produzir 2.075 megawatts, classificando-se como um dos maiores ou o único produtor independente de electricidade na região. Pelo menos 69 por cento da electricidade que aquela empresa produz é exportada para África do Sul, 26 por cento entra na rede nacional (através da EDM) e cinco por cento é vendida ao Zimbabwe. Nos últimos tempos, a região da SADC tem vindo a registar uma demanda cada vez maior de electricidade. Devido ao potencial existente, Moçambique pode ser uma solução, desde que saiba aproveitar estas oportunidades.
“Enquanto Moçambique tem excedente de energia, a maioria dos países da região, com a excepção do Malawi que diz que não quer a energia da HCB, embora saibamos que quer, tem défice de energia” — disse Paulo Muxanga, para quem é preciso ter-se coragem de tomar decisões para aproveitar as potencialidades existentes com vista a responder à demanda da região.
A conferência de negócios da BCI contou com três painéis. O primeiro tinha como tema “A eficiência energética segundo o conceito smart grid”, o segundo, sobre “os recursos minerais como instrumento de desenvolvimento” e o terceiro versava sobre “os recursos hídricos como instrumento de desenvolvimento”, onde participaram especialistas nacionais.