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Autárquicas 2013: “O nosso problema é água” Francisco Soares Mandlate, edil de Chibuto

Francisco Soares Mandlate conversou, nas instalações do Município de Chibuto, com a equipa do @Verdade sobre o dia-a-dia da autarquia que dirige. À beira de terminar o seu segundo mandato, o edil da cidade que se situa no coração de Gaza reconhece que o desenvolvimento da urbe poderia conhecer outros níveis se tivesse mais água. Mas esse, assegura, é um problema com os dias contados.

Com a entrada em funcionamento de um novo sistema “todos os bairros terão água”. A gestão dos resíduos sólidos, afirma, conta com a colaboração dos munícipes. Contudo, a mesma “não é satisfatória”. A erosão é um problema que as receitas da autarquia não podem conter, mas é preciso “sensibilizar o cidadão”.

(@Verdade) – O seu mandato caminha célere para o final. Que balanço faz deste quase cinco anos de governação?

(Francisco Soares Mandlate) – O meu balanço é positivo, olhando para aquilo que foram as principais acções de grande comprometimento no nosso manifesto. Apraz-me afirmar que, de facto, valeu a pena e foi uma experiência de grande aprendizagem,. Nestes quase cinco anos tentámos tudo pela cidade com o apoio, claro, dos nossos munícipes que foram grandes intervenientes na resolução dos problemas que apoquentam a nossa cidade.

(@V) – Quando chegou ao cargo de edil de Chibuto com que problemas deparou?

(FSM) – Os problemas que encontrámos foram, em primeiro plano, a água e o sistema de abastecimento que estava literalmente obsoleto. Estamos a falar de um sistema que foi construído em 19960 e dista 10 quilómetros. Portanto, a infra-estrutura instalada deixou de corresponder ao número de munícipes que vivem na cidade de Chibuto. Isso para nós constituiu um grande desafio, mas de todas as maneiras, paulatinamente, fomos resolvendo com o apoio do Governo central. Falo concretamente da construção de um tanque com capacidade para reservar 300 metros cúbicos de água. Erguemos uma conduta num troço de 2900 metros. Esses empreendimentos vieram minimizar o grande sofrimento que afectava os munícipes.

(@V) – Como é que se traduzia este sofrimento?

(FSM) – Este sofrimento fazia com que as pessoas permanecessem horas, se não dias e noites, na fila das fontenárias para ter um balde de água. Só isso já era motivo de grande preocupação. Todavia, fizemos várias solicitações de apoio, das quais tivemos respostas positivas dos Governos central e provincial. Em 2011 conseguimos ter o financiamento para a reabilitação do nosso sistema de abastecimento de água, o qual até então está em curso. Nesta primeira fase podemos considerar que a construção está concluída em cerca de 90 porcento.

(@V) – Qual é a margem de cobertura actual de abastecimento de água?

(FSM) – A margem de cobertura em relação ao sistema irá abranger todos os bairros da cidade. O actual sistema tem uma capacidade quatro vezes superior ao que vem sendo oferecido no presente. Na altura tínhamos motores que bombeavam água com capacidade de 80 metros cúbicos e neste preciso momento as máquinas que estão a ser instaladas contam com uma capacidade estimada em 400 metros cúbicos. Esse incremento vai fazer uma grande diferença.

(@V) – Qual é a percentagem da população que irá beneficiar desse alargamento da capacidade de distribuição?

(FSM) – Numa primeira fase podemos considerar que a cobertura será de 30 porcento. Isso porque o processo será gradual. Quando falamos dessa infra-estrutura não significa que seja um processo automático. A instalação desse sistema está dividido em duas fases.

Esta primeira fase comporta o melhoramento do local onde estão instalados os motores, a conduta, as electrobombas e as reabilitações dos tanques aéreos e subterrâneos. A segunda fase será de expansão da rede para todos os bairros. É por isso que eu digo que se trata de uma resposta satisfatória. Neste preciso momento deparamos com este sofrimento porque os fontenários que vínhamos usando estão momentaneamente interrompidos.

Porém, ao mesmo tempo, por reconhecermos que o munícipe faz parte do desenvolvimento da nossa cidade, nós fizemos uma grande exortação, da qual tivemos várias respostas. Os munícipes construíram pequenos sistemas de abastecimento de água e temos actualmente uma capacidade de reserva de 600 metros cúbicos. Portanto, tudo isto é um conjunto de esforços para procurar a melhor situação possível para Chibuto.

(@V) – Chibuto tem um potencial enorme para crescer. Contudo, o desenvolvimento não se faz notar. Acredita que a água seja um dos factores que impedem a cidade de atingir níveis de crescimento satisfatórios?

(FSM) – Penso que a água é prioritária, mas não é o único factor para o desenvolvimento. Há outros factores para incrementar o desenvolvimento. Portanto, para que Chibuto cresça é necessário que existam estabelecimentos de ensino a todos os níveis. Felizmente, a cidade teve a sorte de contar com a instalação do ensino superior e um instituto médio.

Isso é gratificante para nós. Tudo isso concorre para atrair maior atenção das pessoas que possam beneficiar de formação em várias especialidades que se materializam na urbe. Isso tudo é um indicativo de crescimento de uma urbe. A existência do jazigo de areias pesadas poderá colocar Chibuto com um grande centro de desenvolvimento da província e do país.

(@V) – Qual é o nível de desemprego em Chibuto e que partido o município tira da mão-de-obra que resulta da instalação do ensino superior na cidade?

(FSM) – Neste preciso momento tenho de dizer que, francamente, o nosso grande potencial é a actividade agrícola. Outra parte é constituída por mineiros. No que diz respeito aos jovens em processo de formação, naturalmente, não temos uma base para ter uma parecer informado, tirando uns e outros que desenvolvem a actividade comercial. Isso significa que há um grupo de jovens que praticamente desenvolve as suas actividades no mercado central. Outros estão na função pública. Isso para dizer que continuamos a ter esse défice, em termos de emprego suficiente para os nossos munícipes.

(@V) – Mas qual é a percentagem real que o município tem do nível de desemprego na autarquia?

(FSM) – A percentagem de desemprego real não é conhecida. Não tenho esses dados, mas sei que o desemprego pode rondar na ordem dos 80 porcento.

(@V) – Qual é o futuro dos jovens em Chibuto?

(FSM) – O problema de emprego é conjuntural. Para haver emprego temos de criar indústrias e outras actividades complementares. Isso é um problema em todo o país e Chibuto não é excepção. Contudo, creio que neste momento a actividade agrícola é a dominante. No seio da juventude o comércio é a ocupação predominante. Temos jovens que são mineiros. O nosso objectivo como Governo é criar condições para que haja emprego em Chibuto.

(@V) – O que se perdeu em termos de produção agrícola com as cheias de Janeiro?

(FSM) – A perda provocou fome. A maior parte das populações desenvolve as suas actividades na zona do vale. Essa área toda foi abrangida pela últimas cheias. Contudo, depois disso a actividade agrícola foi retomada. Portanto, há uma grande esperança de que as colheitas que se avizinham sejam excelentes. Sentimos este abalo, mas no que diz respeito a perdas humanas a cidade de Chibuto não sofreu tanto porque as pessoas produzem na zona do vale, mas habitam em locais seguros.

(@V) – A erosão é um problema para a cidade de Chibuto. O que é feito para conter o desmoronamento de solos?

(FSM) – Penso que quando se fala de fenómenos naturais estamos diante de situações que ou acompanham o próprio homem, ou este contribui para que elas ocorram. Estou em crer que o número de pessoas contribui para a erosão. Com a situação de pobreza não estamos em condições de parcelar novos bairros e criar infra-estruturas necessárias para permitir uma ocupação racional do solo de modo a disciplinar as águas da chuva.

Contudo, o homem deve ter a consciência de que precisa de fazer alguma coisa para combater a erosão. Nos nossos encontros com as comunidades exortamos as pessoas a lidarem de uma forma mais responsável com a ocupação dos solos. Embora o nosso município não tenha capacidade financeira para estancar o problema, não significa que não se pode fazer nada. Se o cidadão for mais responsável, a possibilidade de combatermos o problema cresce.

(@V) – Apesar da falta de fundos, o que tem sido possível fazer?

(FSM) – Temos cinco bairros propensos ao problema de erosão, nos quais criámos brigadas de sensibilização. Temos um viveiro de produção de plantas para combater a erosão. Construímos um estaleiro que produz blocos para combater o impacto do fenómeno. Essas são as acções que implementámos. A direcção provincial do meio ambiente tem-nos apoiado na capacitação para que os munícipes compreendam que a necessidade de proteger o lugar onde vivemos é de todos. O MICOA colabora e presta apoio.

(@V) – Os arruamentos ainda constituem um problema em Chibuto?

(FSM) – A maior parte dos bairros está devidamente parcelada, com excepção de alguns que, devido à guerra dos 16 anos, foram ocupados de forma desordenada. Contudo, há uma mobilização no sentido de permitir a abertura de vias de acesso.

(@V) – Quantos quilómetros de estrada foram terraplanados neste segundo mandato?

(FSM) – Fizemos várias artérias, mas neste momento não posso contabilizar. Posso dizer que houve uma grande intervenção nesse sentido.

(@V) – Quantos quilómetros de estrada foram asfaltados neste mandato?

(FSM) – Não foram muitos quilómetros, mas um número significativo foi pavimentado.

(@V) – O acesso aos cuidados sanitários em Chibuto ainda significa percorrer muitos quilómetros para as populações?

(FSM) – O acesso à saúde não é um problema em Chibuto. As pessoas têm afluído em massa aos centros de saúde no bairro Chimundo e Samora Machel. Vamos inaugurar mais um para minimizar a concentração de pessoas no Hospital Rural. Ao criarmos centros de saúde reduzimos a procura de cuidados médicos no local de referência da cidade. A nosso nível, a capacidade de atendimento é satisfatória.

(@V) – Qual é a capacidade de alojamento do município?

(FSM) – Temos uma média de cinquenta camas.

(@V) – Como a edilidade compreende o envolvimento do munícipe na gestão dos resíduos sólidos?

(FSM) – O nível de comprometimento dos nossos munícipes, embora colaborem, é muito fraco.

(@V) – Colaboram de que forma?

(FSM) – Nos grandes centros de concentração os munícipes participam na recolha e limpeza. Por exemplo, nos mercados os próprios usuários do espaço fazem jornadas de limpeza. Não ficam de braços cruzados à espera da edilidade. Nos bairros também há brigadas de limpeza, mas ainda não é um resposta satisfatória. As pessoas ainda têm de compreender que devem contribuir partindo da sua própria casa.

(@V) – Vai-se recandidatar a um terceiro mandato?

(FSM) – Não tenho esse propósito. Estou aqui a representar o meu partido e o mesmo tem várias áreas onde atribui responsabilidade aos seus militantes. Eu fico satisfeito por cumprir o mandato, no qual aprendi bastante. A minha maior satisfação é trazer água para a cidade de Chibuto. Essa era a missão mais importante e conseguimo-lo com o apoio do Governo central.

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