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O Negócio do REDD

Enquanto corremos para assegurar que está tudo a postos para dar início aos projectos de REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), surgem cada vez mais relatórios e estudos que demonstram que o REDD não é a solução para nada. Como é o caso da recente publicação da FERN e Amis de la Terre, “O carbono desacreditado: A razão pela qual a UE deve evitar as compensações de carbono florestal” (I), uma análise do caso da Envirotrade em Nhambita.

A JA! retirou-se do REDD Readiness Preparation Process (Processo de Preparação e Disponibilização da REDD), um processo financiado e muito promovido pelo Banco Mundial, assim que verificou que este visava essencialmente definir como implementar o REDD em Moçambique o mais rapidamente possível sem sequer considerar promover a discussão sobre se Moçambique deveria ou não abrir as portas a mais um conceito importado para satisfazer a ganância dos países mais ricos e mais poluidores… Embora sem o nosso avale, na nossa opinião, acabou avançando mais um processo viciado e direcionado única e simplesmente a cumprir formalidades, tendo sempre muito claro no horizonte um objectivo cego: implementar REDD rapidamente.

E porquê? Porque é tão grande a pressão dos investidores e do Banco Mundial para que Moçambique adopte rapidamente este esquema? Porque há necessidade de assegurar que os poluidores continuem a poluir, iludindo os mais distraídos com promessas falsas de conservação de florestas muito habilidosamente com novas terminologias como florestas plantadas, que não passam de desertos verdes, monoculturas cuja única semelhança com florestas nativas reside no facto de ambas possuirem árvores?

É com estas manhosas meias verdades que se avança nestes processos. Por exemplo, para a maioria dos cidadãos comuns, o REDD é, como a própria sigla indica, um mecanismo para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal, e nestes termos, só pode ser positivo!

– Mas afinal REDD não serve a conservação de florestas!?

– Perguntam-se certamente agora alguns de vós.

A verdade é que o REDD não pretende salvar floresta alguma. O que pretende, é permitir dissimuladamente que os países industrializados promovam essas tais plantações de monoculturas (maioritariamente eucaliptos e pinheiros) no território de países pobres como Moçambique, de modo a possibilitar que esses países ditos desenvolvidos continuem a poluir no seu território sob o pretexto de que estão a contribuir significativamente para a redução do carbono na atmosfera ao “plantar florestas” noutros pontos do planeta. O que ninguém diz é que o valor pago por essas “florestas plantadas” é muito menor do que o que esses países teriam de pagar por exceder a sua cota de emissões de carbono, que no fim do dia, é o cerne da questão. Visto assim, deixa de ser nobre e bonito, não é? Assim se ganha a opinião pública…

Falamos em REDD, REDD+, REDD RPP Process, mas quantos moçambicanos e moçambicanas sabem do que estamos a falar? Quantos de nós podem de facto sentar e discutir REDD com algum conhecimento? Pouquíssimos… e porquê? Porque o objectivo, não é nem nunca foi, promover debates e discutir construtivamente estas questões, embora sejam tão importantes para o nosso futuro e dos nossos filhos, como para o futuro de Moçambique e do Planeta.

Mas este é somente mais um exemplo da política “divide et impera” (dividir para reinar) daqueles que nos governam. Fragmentase e dividese tudo: aspectos sociais, de género, do ambiente, de economia do país, da indústria extractiva, de governação… tudo muito partidinho, muito organizadinho e consequentemente, muito mais fácil de controlar e manipular.

Enquanto cada um puxar a sua carroça e correr atrás da cenoura que nunca alcançará, continuaremos cada um na sua luta como se fossemos ilhas… Mas os problemas estão todos relacionados, e só uma análise profunda, abrangente, mais holística e unida poderá contribuir para que a sociedade civil moçambicana assuma um papel mais forte no rumo que o país está a levar, pois neste momento, estamos apenas e somente a ver a banda passar!

Os moçambicanos e moçambicanas não têm voz activa na escolha do rumo que o país leva. As ideias e decisões são tomadas à revelia de todos nós e ainda nos acusam de sermos manipulados por interesses estrangeiros! De sermos portavozes de interesses externos que não querem ver o país desenvolver. Haja vergonha e algum bom senso! E estas ideias geniais todas vem de onde mesmo? É necessário ir buscar boas ideias, de onde quer que estas venham, de aproveitar os exemplos do mundo para tomar as decisões mais correctas para Moçambique, para todos nós, mas não assim, não cega e gananciosamente!

O tema REDD necessita de uma reflexão profunda, aberta, transparente, e não esta permanente e constante manipulação de ideias movida por interesses sempre de lucro e ganância. Mas o tempo e o espaço para esta reflexão escasseiam pois a corrida continua e quando é preciso somos todos muito eficientes, tanto que a proposta de regulamento já existe e está a ser publicamente partilhada.

Uma das condições para implementar projectos REDD, positivamente imposta pelo MICOA, é ter a devida regulamentação para o efeito. Daí a pressa em aprovar o Regulamento “Procedimentos para Aprovação de Projectos de Demonstração que visam a Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+)”, em processo de “discussão pública”. Onde? Você sabia?

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