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O município de Nampula está a ficar sem zonas verdes

A par do que aconteceu com os espaços reservados ao lazer e à recreação, as extensas áreas verdes urbanas destinadas à prática da agricultura, floricultura, piscicultura e fruticultura, nos bairros de Muhala, Namicopo, Murrapaniua, Napipine, Muatala e Marrere, dentre outros, na cidade de Nampula, estão a ser paulatinamente ocupadas pelas construções desordenadas, maioritariamente de baixo custo, e por outras infra-estruturas, tais como barracas para o comércio e estabelecimentos de diversão nocturna.

Essas zonas são, cada vez, mais tomadas por populações pobres que não têm acesso a financiamentos bancários para a compra de uma casa, utilizando-as como alternativas de sobrevivência uma vez fixados os seus abrigos. A edilidade tem conhecimento do assunto mas não está a fazer nada para impedir a fixação de residências nos mesmos locais e alega que o problema se deve à procura de talhões para habitação.

As áreas nas quais os citadinos em causa fixaram domicílios sem o aval do município são húmidas, o que faz com que as suas infra-estruturas estejam propensas às inundações e à destruição quando a chuva cai. Contudo, apesar do risco a que estão expostos, eles não abandonam as zonas alegadamente porque não têm outro lugar para morar.

Alguns funcionários do Conselho Municipal da Cidade de Nampula estão, em conivência com os secretários dos bairros, a promover as edificações desordenadas e o caos, uma vez que atribuem licenças de construção a algumas pessoas de forma ilícita. Neste momento, nos bairros de Muhala, Namicopo, Murrapaniua, Napipine, Muatala e Marrere, por exemplo, é difícil encontrar espaços verdes para o cultivo de hortícolas, fruteiras e para a prática da piscicultura.

Antigamente, os lugares a que nos referimos eram consideradas como de grande importância para as comunidades e para a população de Nampula em geral porque produziam variedades de hortaliças com as quais abasteciam os mercados locais, as unidades hospitalares, os lares de estudantes, os centros de formação, os supermercados, dentre outros estabelecimentos públicos e privados.

A partir de uma certa altura a esta parte, as quantidades significativas de produtos agrários, tais como vegetais consumidos pelos residentes de Nampula provêm dos de Ribáuè, Malema, Murrupula, Nampula-Rapale e alguns da província central da Zambézia.

Todavia, não obstante a construção desregrada de edifício nas referidas áreas reservadas ao cultivo de hortícolas, ainda há vestígios, tais como represas, nas quais eram criadas várias espécies de peixe, que provam que em alguns bairros da cidade de Nampula os moradores desenvolviam a piscicultura. Porém, não existe nenhum indício de que no passado tenha havido a produção de vegetais comestíveis.

Na zona de Benelenses, vulgo “viveiros”, por exemplo, outrora plantava-se flores para a ornamentação, cultivava-se hortícolas e fruteiras mas actualmente é uma área residencial, na qual somente um pedaço de terra é que está a ser aproveitado pelos agricultores. As residências erguidas naquela área são maioritariamente de material de baixo custo e não obedecem a nenhum processo de ordenamento territorial, o que dificulta a movimentação de pessoas.

Os munícipes ou os automobilistas que a partir da mesma zona pretendam chegar às avenidas Forças Populares de Libertação de Moçambique (FPLM) e Eduardo Mondlane recorrem a vias alternativas, porém, perdem muito tempo para ir de um ponto a outro.

Alguns cidadãos que praticam a agricultura nos espaços verdes dos bairros de Muhala, Namicopo, Murrapaniua, Napipine, Muatala e Marrere viram os seus campos serem ocupados pelas construções e, por via disso, ficaram desempregados e na miséria. António Maurício, de 37 anos de idade, residente no bairro de Murrapaniua, disse ao @Verdade que outrora tinha uma porção de terra mas a mesma foi por edifícios.

Para além do cultivo de hortaliças, dedicava-se à piscicultura mas o negócio ficou reduzido a zero devido, em parte, aos baixos preços praticados pelos outros comerciantes e à falta de qualidade. Em relação ao bairro de Napipine, as zonas verdes foram completamente tomadas por residências feitas de materiais de betão utilizado nas construções (blocos), loja de géneros alimentícios, barracas de diversão nocturna, dentre outras infra-estruturas pertencentes a pessoas abastadas.

Segundo alguns moradores entrevistados pelo nosso Jornal, antigamente os munícipes não compravam legumes nem outros produtos de horticultura porque eram também cultivados nos seus próprios quintais. A humidade do solo em todo o período do ano garantia um bom rendimento.

Ainda de acordo com os moradores de Napipine, em todas as unidades comunais havia um lençol freático que permitia a lavoura, porém, a partir da altura em que a área ficou povoada, as condições que permitiam a prática de actividades agrícolas só existem nas imediações do rio Napipine, que também estão a ser paulatinamente ocupadas por pessoas com o intuito de construir casas.

Madalena Gaspar, de 40 anos de idade, é um dos residentes do bairro de Napipine, desde o ano de 1982. A senhora disse-nos que a partir de uma certa altura os preços de compra de vegetais passaram a ser proibitivos porque quase todos os espaços verdes nos quais se cultivavam hortas foram vendidos pelos funcionários da edilidade e pelos secretários da sua área de jurisdição.

Refira-se que o bairro de Muhala é um exemplo típico das zonas que estão a registar um crescimento populacional que contrasta com a disponibilidade de infra-estruturas e que, para além do precário saneamento do meio que se agrava de há uns tempos para cá, enfrentam problemas sérios de construções desregradas.

O que é que diz a edilidade?

Guilhermina Fania, chefe do Departamento de Relações Públicas do Conselho Municipal da Cidade de Nampula, disse à nossa Reportagem que a transformação das zonas verdes em locais de habitação é um problema que se deve à procura de lugares para o efeito por parte da população.

Entretanto, a nossa interlocutora mostrou-se a leste do assunto, uma vez que parece que não tem conhecimento claro dos bairros onde os espaços em causa foram irregularmente ocupados perante a indiferença da edilidade.

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