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Toma que te dou: O meu “touch”… caramba!

Acabo de sair do Restaurante Stop, na Maxixe, onde fui almoçar com Gulamo Tajú, um bitonga monhé que quis ser piloto, mas o destino levou-o a fazer Sociologia. Ligou para o meu celular ao sair de Maputo num Toyota Corolla, da namorada. Ia à cidade da Beira, onde devia entregar a viatura à sua cara-metade. Sugeriu-me, ao telefone, que nos encontrássemos naquele entreposto do diabo, onde aproveitaríamos a ocasião para nos (re) vermos. E eu não tinha motivos para recusar o convite, embora desdenhe passear naquela urbe, por ser buliçosa, inesperada, traiçoeira e movediça. Eu vivo em Inhambane. É aqui onde se encontra instalado o sossego.

Comi bem – um prato de lulas com batata cozida – e bebi quase um litro de água, para o espanto do meu amigo, e agrado também, que esperava ver-me emborcar toneladas de cerveja.

– Vais beber o quê?

– Água.

– Está certo, eu também vou beber água.

Ele pediu peixe – uma garoupa – que devorou na totalidade, com apetite voraz, chupando descomplexadamente as espinhas, depois, lambendo os beiços com gozo. E após o pasto ficou pouco tempo para conversa, porque a viagem até à capital de Sofala é longa, faltam ainda cerca de mil quilómetros, depois de ter feito quinhentos, a uma velocidade média de 120 quilómetros por hora.

Depois do último abraço, e após confirmar que Gulamo Tajú já terá partido no Corolla da namorada, enfiei as mãos nos bolsos e desci a rampa para apanhar o barco e sulcar as águas da baía que adoro acariciar com os olhos, a alma e o corpo. São aproximadamente 15.00 horas e o sol ainda pica forte sobre a terra e o mar, queimandonos sem piedade. Não há nuvens no céu, o vento não sopra, o que faz antever uma viagem tranquila com a maré a encher.

Estou sentado muito perto do arrais, gosto de estar ali, para acompanhar todas as manobras do pequeno barco com motor fora de bordo, e poder contemplar a paisagem arrebatadora que se estende em todos os sentidos. Comi bem e, de vez em quando, arroto discretamente as lulas com batata cozida regada com azeite de oliveira que ainda me cheiram na boca. Não falo com ninguém, nem com o timoneiro que me cumprimentou ao reconhecer-me quando me fiz à sua embarcação. Tinha decidido que a minha missão se limitaria à contemplação. Queria ouvir o roncar do motor no seu mais pequeno detalhe, escutar desinteressadamente as conversas dos meus companheiros de viagem, que tagarelam sem parar, com o intuito claro de queimar o tempo e encurtar a viagem.

O céu está absolutamente aberto e não há nenhuma nuvem que vai impedir a exuberância do sol, que ginga ao alto, imponente. As águas cobrem os bancos de areia que submergem em tempo de maré vaza. Procuro os flamingos com os olhos e não os vejo. Voaram para outros lugares como se eles tivessem nascido para avançar, como eu. Olho para trás e vejo Maxixe a ficar cada vez mais longe e Inhambane cada vez mais perto. O motor está determinado, ronca com elegância, e os passageiros não param de conversar. Olho para o horizonte e vejo outras barcaças que sobem e descem, como se tudo aquilo fosse uma regata. Uma festa da baía, que se repete todos os dias.

Mas eu estou feliz por voltar para casa, depois de comer lulas com batata cozida regada com azeite de oliveira. Saio do barco depois da atracagem. Estou na plataforma da ponte de Inhambane e a atmosfera muda repentinamente. O céu torna-se de breu. A luz brilhante do sol é aniquilada. Relampeja ao longe. Troveja. E tudo muda. Chove em catadupa. Relampeja em todo o espaço sideral. Troveja forte. Ensaio um “sprint” lembrando os meus tempos de juventude, no seio de um imenso grupo que também corre para evitar o banho obrigatório. Mesmo assim não fui a tempo de evitar que o meu “touch” fosse atingido.

Caramba!

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