A voz de António Django coloca-o num lugar cimeiro na história da música moçambicana. Primeiro no grupo “Pétalas Amarelas”, depois nos “K10”, e por fim com “Tony e Amigos”, a sua voz e a sua figura tornaram-se, para os amantes da música, uma referência de proximidade e de fiabilidade, alguém mais do que conhecido, amigo, de cujo convívio se gosta e em cuja palavra se confia. Maputo parou.
Na segunda- feira, no princípio da tarde, o coração de Tony Django também parou. De madrugada sentiu-se mal e, quando chegou ao hospital, já estava a caminho do céu. No obituário tinha 37 anos (completava 38 anos na próxima terça-feira, 27 de Abril). Mas Tony Django “um artista fora do comum”, no entender de Mitó, um dos fundadores e membro dos k10, viveu lado a lado com 27 anos de música e de solidão. “Mesmo nós (K10) só daqui a alguns anos é que vamos perceber a sua magnitude”, refere Mitó que o define como “o génio que passou por Moçambique”. Zé Pires, por sua vez, fá-lo numa única palavra: “Voz”.
Tony Django é um caso peculiar de músico que, além de reconhecido pelo valor artístico, era amado por uma legião de admiradores que talvez nunca tenham tido sequer um disco dos k-10 nas mãos; alguns, seguramente, sem posses para adquiri-lo, mas capazes de se reverem na “sua voz esplêndida”. Django despertava o mesmo sentimento de amor a todos integrantes dos K-10 e a eles nunca deixou de ser leal. “Tratava todos da mesma maneira, era o único membro que tinha gerado o mesmo sentimento em todos nós”, refere Zé Pires para quem Tony “era um amigo com níveis de intimidade superiores aos de um irmão”. Uma coisa que poucos sabem é que, dos elementos que fazem parte e/ou fizeram dos K-10, Tony Django, até a data, foi o único que participou em todos os concertos.
“Todos nós faltámos por algum motivo, mas ele (Tony) não”, confessa Zé Pires.
Momentos marcantes
Para Zé Pires e Mitó os momentos marcantes que antecedem a formação dos K-10 começam no grupo que formaram ainda miúdos, do qual não se recordam o nome. Tony Djando tocava percussão. Porém, esses momentos não se esgotam na infância porque a gravação dos dois discos da banda, nomeadamente “Katchume”, de 1998, e “Tsuketane” 2001, ambos gravados em França pela Lusáfrica também foram “momentos inesquecíveis”. Sizaquel que integrou os K10 mais tarde não tem palavras para descrever Tony Django, mas tem uma certeza: “Foi o melhor vocalista moçambicano”. Aliás, “não há ninguém igual, tinha uma voz inconfundível, cativante e, neste momento, não vejo ninguém capaz de o substituir” sentencia.
O legado
De referir que Django deixou alguns registos que não são do domínio público, os quais Zé Pires garantiu poderem vir a ser publicados mas não pela banda K10, uma vez que não estavam atribuídos ao grupo.
Sobre Tony e K-10
António Almão Salomão Jango, nome do assento de nascimento de Tony Django, completaria na próxima terça-feira 38 primaveras. Deu os primeiros passos na música por meio da banda da organização infantojuvenil Continuadores, Pétalas Amarelas, juntamente com os colegas e amigos Jaime Joel (Mitó), Zé Pires e Rufus Maculuve. Mais tarde formaram o agrupamento Kawai K 10, que depois deu lugar aos K-10, o grupo que consagrou Tony, Mitó, Zé Pires e Rufus e ainda os amigos que se lhes juntaram, designadamente Roberto Isaías, Almeida Ngoka, Rogério “Pilecas” Nhavene, António “Dodó” Firmo e Anselmo Neco, este que largou o grupo para dar continuidade aos estudos em Portugal.