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O discurso do trono: um cerimonial que data do século XVI

Tradição que remonta a 1536, o discurso do trono, lido pela rainha na quarta-feira, na Câmara dos Lordes, é um cerimonial de um fausto e de uma solenidade que transporta a uma outra época e marca a abertura da sessão legislativa.

Elizabeth II, 83 anos, apresentou, na quarta-feira, as grandes linhas da agenda legislativa estabelecida pelo governo para o próximo ano. “Meu governo seguirá reformando e trabalhando para garantir a protecção dos correntistas e dos contribuintes. Será apresentada uma legislação para melhorar a governança do sector financeiro e controlar o sistema de premiações”, declarou a rainha, em discurso que durou seis minutos.

Sentada no trono da Câmara dos Lordes, Elizabeth II, que ostentava uma pesada coroa com mais de 3.000 pedras preciosas, acrescentou: “até que a recuperação económica seja confirmada, meu governo reduzirá o déficit orçamentário e garantirá que a dívida nacional mantenha um ritmo sustentável”. A soberana também anunciou um projecto de lei para “reduzir o déficit pela metade”, sem especificar um prazo. Redigido pelo primeiro-ministro, o discruso do trono detalha o programa legislativo do governo.

O protocolo foi consideravelmente simplificado com o passar dos séculos. Antes o olhar dos curiosos, a rainha percorre numa carruagem dourada, puxada por quatro cavalos, o curto trajecto entre o Palácio de Buckingham e o Parlamento de Westminster. Uma outra carruagem transporta os símbolos da realeza – a coroa imperial, a espada e a capa. Em Westminster, a bandeira britânica é substituída pela bandeira real.

Nos dias que precedem o acontecimento, os “Yeomen”, membros de um corpo de cavalaria, revistam com uma lanterna o subsolo do Parlamento por medo da repetição de uma conspiração, como a da Pólvora, no dia 5 de Novembro de 1605, quando católicos, liderados por Guy Fawkes, tentaram matar o rei James I fazendo explodir o prédio. Um outro costume, destinado a garantir a segurança do soberano, é quando um deputado é mantido como “refém” em Buckingham até o final da cerimônia.

No Parlamento, a rainha se apresenta com sua capa de arminho e a coroa coberta com mais de 3.000 pedras preciosas, entre elas 2.868 diamantes, habitualmente conservada na Torre de Londres. A rainha senta-se ao trono da Câmara dos Lordes, tendo à esquerda o marido, o duque de Edimburgo. Os Lordes entram na sala. Um oficial designado como “Black Rod”, que faz o papel de mensageiro da rainha, vai então convocar 250 deputados (de um total de 646) reunidos na Câmara dos Comuns.

Ainda de acordo com a tradição, o “Black Rod” transmite sua mensagem, mas a porta é fechada em seu nariz para significar a superioridade dos deputados sobre os Lordes. Ele bate então três vezes à porta com sua bengala preta e os deputados, reticentes, aceitam segui-lo até a Câmara dos Lordes, tendo à frente seu “speaker” (presidente), depois o primeiro-ministro e o principal dirigente da oposição lado a lado.

O “Lord Chancellor” leva o discurso da rainha guardado num envoltório de seda e se afasta andando para trás, sem voltar as costas para a soberana. Mas esta convenção está sendo pouco a pouco abandonada. A rainha lê em seguida o discurso num tom monocórdio, para enfatizar sua neutralidade, em meio a um silêncio respeitoso. Conclui com a alocução ritual: “rezo para que a bênção de Deus todo-poderoso vele sobre vossas deliberações”.

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