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O campeão nacional visto por dentro

O campeão nacional visto por dentro

A Liga sonha com Zainadine Júnior, mas também tem um projecto ambicioso: o de construir um complexo desportivo de raiz, avaliado em 60 milhões de dólares. O objectivo para próxima época é chegar a fase de grupos da Liga dos Campeões Africanos.

@Verdade – Para conquistar títulos quanto é que a direcção da Liga investiu?

Rafik Sidat – Até agora não consigo quantificar o valor, estamos a investir com a perspectiva de que no futuro possamos frutos disso. O nosso objectivo é colocar os nossos jogadores no estrangeiro. Vamos ver se este ano colocamos dois jogadores fora do país.

(@V) – Isso não afectará a qualidade da equipa principal?

(RS) – Não vai afectará de nenhuma forma. Quando sair um nós vamos buscar outro com igualdade semelhante ou superior.

(@V) – Ainda sonham com Zainadine Júnior?

(RS) – Zainadine Júnior é um jogador que qualquer clube gostaria de ter. Se ele estiver livre no final da próxima época nós, de certeza, entraremos na corrida para o contratar.

(@V) Qual é o objectivo para as competições africanas?

(RS) – Queremos ver se conseguimos chegar a fase de grupos. No ano passado tínhamos esse sonho mas cometemos alguns erros na programação da pré-epoca, mas vamos ver na próxima campanha corrigimos tais erros.

(@V) – Será possível chegar a fase de grupos “exportando” jogadores?

(RS) – Nós vamos surpreender muita gente.

(@V) – Em que pé está o projecto do novo campo?

(RS) – O projecto do novo campo está pronto. Neste momento estamos à procura de um espaço no Município da Matola e já há um parceiro de um país europeu interessado em trabalhar com a Liga Muçulmana.

(@V) – Quem é esse parceiro?

(RS) – Por ora só posso dizer que é de um país europeu.

(@V) O projecto terá mais algum coisa para além do campo?

(RS) – O projecto que temos é para um campo com cerca de 25 mil lugares, mas não será apenas um campo. Vamos ter também um campo de treinos, uma piscina olímpica, um centro de estágios. O investimento é tão grande que temos de procurar parceiros certos. Não queremos arrancar e parar a meio. Temos de ter os pés bem assentes no chão. Se houver dinheiro vamos fazer, se não houver vamos parar.

(@V) – Qual é o orçamento necessário para materializar projecto tão ambicioso?

(RS) – O projecto está orçado em 60 milhões de dólares, mas nós vamos tentar baixar os custos. Neste momento estamos a negociar com o arquiteto para o efeito, uma vez que o projecto foi concebido para abarcar material de primeiríssima qualidade. Talvez seja necessário reduzir o nível de qualidade. Mas temos a clara ambição de fazer o projecto.

(@V) – Primeiro o futsal, depois o futebol e agora o basquetebol. Até onde vai a Liga Muçulmana? Para quando modalidades outras modalidades?

(RS) – Neste momento temos futebol, futsal, basquetebol e hóquei em patins. Não queremos entrar nas outras modalidades só por entrar. Queremos ter as coisas bem equacionadas para que depois a modalidade não morra. Só podemos entrar num desporto se a sua sustentabilidade estiver garantida. Se houver sustentabilidade para voleibol e andebol a Liga certamente entrará.

(@V) …Mas o futsal parou? (RS) – O futsal parou por falta de organização da associação de futebol da cidade de Maputo.

(@V) – Não é complicado paga salários quando não há competição?

(RS) – Os atletas do futsal só são pagos quando estão em competição.

(@V) – Falou-se na saída de Artur Semedo. Isso é um dado adquirido?

(RS) – Em equipa que ganha não se mexe. Estamos a preparar a próxima época com o mister Semedo. É com ele que vamos continuar.

A LIGA É O FUTSAL

A Liga é um clube ainda com uma curta trajectória no futebol nacional, mas é um histórico no que ao futsal diz respeito. Movimenta quatro modalidades: futebol, futsal, basquetebol e hóquei em patins.

Se no futebol, no basquetebol e no hóquei em patins os críticos consideram que a Liga Muçulmana é um clube sem adeptos, o mesmo não se pode dizer do futsal, desporto no qual os muçulmanos tem uma legião de seguidores fervorosos. O pavilhão dos muçulmanos, na avenida Eduardo Mondlane, é a catedral do futsal em Moçambique.

Os melhores intérpretes da modalidade, com permissão de Carlão, vestiram a camisola verde-e-branca. Por exemplo, Faruk saiu de um pavilhão para fazer testes no Benfica de Portugal. Dono e senhor de uma técnica muita avançada para o seu tempo, Faruk levava multidões ao pavilhão da Liga Muçulmana, nessa altura sem cobertura. Durante muito tempo fez uma dupla temível com Mauro Sales, um craque no hóquei em patins e no futsal.

Mauro era um jogador com olhos em todo corpo, o jogo corria ao ritmo que ele determinava. Faruk era um flecha apontada ao coração da baliza adversária. Marcava golos de todos feitios enquanto Mauro espalhava magia vindo de trás. Porém, o futsal evoluiu e apareceram outros intérpretes, como é o caso de Dino, Óscar, Russo e Mandito.

Dino é um jogador com uma técnica esquisita. Na verdade, um falso lento que nas proximidades da área transforma-se em assassino em série. Marca golos com uma facilidade estrondosa. Já foi melhor marcador e segundo melhor jogador africano. No primeiro Grand Prix do Brasil que Moçambique participou Dino foi o segundo melhor marcador, atrás de Falcão, simplesmente o melhor jogador do mundo da modalidade.

Contudo, o futsal é uma modalidade sem muita visibilidade mediática e jogadores como Dino não tem o reconhecimento devido.

Efectivamente, 2011 foi um ano sem competição. Este ano, Rafik Sidat, presidente da Liga Muçulmana, afirmou que o clube vai voltar a competir. Para o bem da modalidade é melhor que assim aconteça. Até porque seria um erro tremendo desprezar a modalidade que garante ao clube mais adeptos.

O basquetebol, o futebol e o hóquei em patins podem garantir maior visibilidade, mas Faruk, Mauro e, nos últimos tempos, Dino trouxeram ao clube laços que não se quebram com a ausência de competição. Mais: também encheram as vitrinas da Liga Muçulmana com títulos. Portanto, o problema da paragem no futsal não pode ser justificada por resultados.

 

A PALESTRA DO MISTER SEMEDO

Na última jornada do campeonato, quando já estava encontrado o vencedor do Moçambola, @Verdade “invadiu” o centro de estágios da Liga Muçulmana e ouviu a palestra de Artur Semedo.

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A palestra começou com Semedo a falar da pouca entrega aos treinos nas duas semanas que antecederam o fecho do Moçambola. “Na verdade sinto algumas difi culdades para falar com o pessoal, devido às nossas ausências nestas duas semanas”, referiu. Acrescentou: “mas hoje [sábado] é um dia especial e acho que foi até aguardado com alguma ansiedade por representar o fecho desta campanha que, diga-se, merecidamente acabamos por conquistar. Até antecipamos a conquista”, frisou.

O facto de, como referiu, a equipa não ter treinado com a mesma garra das 24 jornadas anteriores não se justificaria, de forma nenhuma, maior empenho no último jogo do campeonato. “Nesta duas andamos pouco rigorosos, mas sendo um dia de festa, um dia em que não há nada de especial a exigir existem algumas coisas que não podemos pôr de lado: o nosso prestígio e a nossa dignidade.”

Podemos perder pontos, continuou, mas nunca perder o nosso prestígio e a nossa dignidade. “Não faz sentido virmos fazer a festa pondo em causa os nossos predicados. Não faz sentido virmos perder por ausência de rigor. Não faz sentido mostrarmos as pessoas uma imagem diametralmente oposta daquela apresentamos ao longo do ano”.

Coisas a conquistar

A importância de não deixar uma imagem condizente com um campeão nacional pautou o discurso de Semedo. Porém, falou de coisas que deviam ser asseguradas como o prestígio e a dignidade. Mas também dos conquistas individuais. “Temos jogadores que ainda podem se sagrar melhores marcadores”.

Elogios ao plantel do Atlético Muçulmano

O adversário é uma equipa que pelo plantel que tem não podia descer de divisão. Ainda assim, Semedo elencou uma série de factores que colocavam uma adversário numa situação pouco confortável e diante dos quais o Atlético era uma equipa acessível. “Não podem estar emocionalmente bem e creio que não estejam a treinar nestas circunstâncias”.

Aviso

“Quem persegue os objectivos com sofreguidão não os alcança. Temos de ser naturais. O que interessa é dar o melhor de nós, maior empenho, fazermos um bom jogo, revelarmos uma grande atitude em campo e procurarmos jogar bem para as coisas saírem da melhor maneira”, referiu.

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Três pontos fazem toda diferença

A pontuação é tudo para Semedo. Aliás, esses três pontos deviam ter sido subtraídos noutra altura. Até porque poderiam condicionaram o desfecho do campeonato no caso de uma vantagem pontual bem mais curta.

“É pena que já subtraíram três pontos. Acham que já somos campeões e não há problemas. Há problema sim. É melhor ser campeão com mais pontos do que com menos. Não é mesma coisa ficar a três do que a 11. A pontuação estabelece a diferença entre as equipas.”

“Sabemos que as consequências disso serão abordadas daqui a anos. Vão dizer que ganhamos com poucos pontos, quando na verdade a capacidade da equipa merecia outra distância”, acrescentou.

Como jogar

Temos de jogar bem. Quando tivermos a posse de bola devemos criar linhas de passe, saber os timings do ataque. Quando não podermos entrar num flanco temos de a circular para entrar pelo outro. Quando não tivermos a posse de bola temos de ser pressionantes e tapar as linhas de passe e progressão do adversário.

Defender mais alto para corrermos menos. Só que isso requer entreajuda e cooperação. Quem faz isso é porque tem grande entreajuda e solidariedade na equipa. Se não tivermos isso podemos pressionar, mas cada vez que mandarem a bola para trás vamos ter de correr 50 ou 70 metros e isso é perigoso.

 

TELINHO: 21 ANOS DE MAGIA

O seu futebol é vertical e sem burocracias. Passa pelos adversários com dribles desconcertantes. Foi a revelação do Moçambola 2010, no Ferroviário de Pemba. Confirmou o seu valor na Liga Muçulmana. Quando correr menos e pensar mais será um jogador de eleição.

Telinho saiu das escolas de formação da Liga Muçulmana e foi emprestado ao Ferroviário de Pemba. No final da época passada foi eleito jogador revelação, o que lhe valeu o regresso ao plantel dos muçulmanos onde encontrou concorrentes de peso, como Muandro que veio do Desportivo com o estatuto de estrela, mas o jogador de 21 anos não se intimidou.

Com um futebol de alta-voltagem conquistou um lugar no onze de Artur Semedo. Aliás, pode-se gabar de ter sido um dos jogadores mais utilizados no bi-campeonato. Marcou oito golos que ajudaram a sua equipa a sagrar-se campeã, mas também a mais concretizadora do Moçambola.

No último jogo, quando já não havia nada para decidir Telinho marcou três, mas poderiam ter sido mais. Falta-lhe, na verdade, correr menos e pensar mais para aproveitar grande parte das oportunidades que cria. Quando conseguir aliar a velocidade de execução ao pensamento será um jogador letal para os adversários.

No ano da sua afirmação chegou aos Mambas e mostrou bons indicadores. Quando era preciso mostrar que tinha valor, Telinho não claudicou. Ganhou espaço na Liga e agora na selecção. Contudo, o seu futebol, até pela idade, merece uma chance num campeonato mais competitivo, onde possa jogar ao lado de atletas de eleição.

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