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O Beto (também) é pastor

O Beto (também) é pastor

Aos 19 anos de idade, Alberto Jossias, ou simplesmente Beto, ganha a vida a apascentar gado bovino nas margens do Limpopo, em Xai-Xai. Em média, por dia, toma conta de 15 cabeças e recebe 500 meticais por mês, valor com o qual ajuda nas despesas de casa. Ao contrário dos outros pastores, Beto interrompeu os estudos para ajudar a sua avó com quem vive há mais de três anos.

Para Beto, o dia começa relativamente muito cedo. Às 5h00 da manhã, o jovem já está acordado para mais um dia de trabalho árduo que tem o seu término por volta das 18h00. A rudeza das suas mãos denuncia uma vida difícil, pautada por episódios inesperados. Nunca pensou que a sua vida pudesse resumir-se em apascentar gado nas margens do rio Limpopo. Quando era criança, sonhava em seguir a carreira de professor, mas muito cedo os seus sonhos desapareceram.

Natural de Xai-Xai, província da Gaza, aos cinco anos de idade perdeu os progenitores. Aos 10 passou a viver com os tios na cidade de Maputo, e com 19 vê-se forçado a abandonar a escola em busca do sustento diário. “Desde pequeno tive de aprender a lutar pela sobrevivência”, explica Beto que acrescenta ainda que teve de abandonar a escola logo após ter concluído a 5ª classe porque os seus tios não tinham condições para que ele continuasse com os estudos.

Chegou a frequentar a 6ª classe. “Abandonei a escola há muito tempo. Comecei a cuidar do gado da minha tia, e hoje tomo conta dos bois de outras pessoas”, afirma.

Beto conta que a sua progenitora era a única pessoa que o incentivava a ir à escola. Do pai nem se lembra. O que sabe dizer é que ele abandonou a família e foi procurar melhores condições de vida na vizinha África de Sul e de lá nunca mais voltou.

Viver desamparado

Numa cidade em que as oportunidades de emprego são cada vez mais escassas para os jovens, os problemas sociais são mais frequentes. Não há quem apoie as pessoas que pretendem enveredar pelo empreendedorismo e, muito menos, os que necessitam de um prato de comida.

Mas do que Beto precisa neste momento é continuar a estudar. Com a 6ª classe interrompida, o jovem tentou ganhar a vida nas ruas da cidade de Xai-Xai, fazendo pequenos negócios de venda de recargas de telemóvel, bolachas e rebuçados, porém, acabou por desistir, uma vez que a actividade não era lucrativa.

Empurrando um carrinho de mão, Beto desce apressadamente para o vale do Limpopo para cuidar de um bezerro. Esta tem sido a sua rotina. Os pés descalços revelam que a vida não tem sido fácil para o rapaz de 19 anos de idade. Já são 11h00 e não teve ainda a primeira refeição do dia.

É uma situação que se repete frequentemente. Ou seja, há aproximadamente uma semana que este jovem e a sua avó não sabem o que é um pequeno-almoço e, às vezes, nem jantam.

“De vez em quando temos tido algo para comer ao almoço, mas quando não temos esperamos pelo dia seguinte. Tem sido assim quase todos os dias”, diz, atando as patas do filhote de vaca.

Beto e a sua avó vivem numa casa feita de caniço e coberta de capim com apenas dois cómodos. No interior da habitação, o recipiente de farinha de milho – um balde de plástico – está vazio, já há duas semanas, e o rapaz explica que já não tem dinheiro. Diga-se de passagem, a farinha de milho é o luxo a que esta família só raramente se pode permitir. A batata-doce e a mandioca têm sido o seu prato principal.

“O nosso grande problema é a falta de comida. Sou o único que trabalha e o dinheiro que ganho não chega para nada”, lamenta a terminar.

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