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O ano de Natalie

Mistura perfeita de força e delicadeza, Natalie Portman nunca conheceu um mau momento nos seus 17 anos passados a fazer cinema. Nem, aparentemente, noutra ocasião. Filha de um médico israelita e de uma artista americana, Natalie dá a impressão de ter deslizado pela vida como uma criança bela e aplicada.

Fez o seu primeiro filme aos 12 anos, representando o papel de criança abandonada e adoptada por um criminoso rodeado de armas de fogo, em “Léon, o Profi ssional”, de Luc Besson, e continuou, recusando alguns papéis e fazendo filmes com realizadores de topo (Tim Burton, Mike Nichols, Michael Mann, Woody Allen, Anthony Minghella…) enquanto cumpria as obrigações escolares, com excelentes notas; e, depois, claro, Harvard.

Algumas colegas, nas férias, trabalhavam como estagiárias ou vendedoras de hambúrgueres; Portman fazia de Padmé Amidala nas três prequelas da “Guerra das Estrelas” e, mesmo assim, formou-se sem atrasos. É o tipo de actriz que consegue conquistar, ao mesmo tempo, um jovem fã e a sua mãe.

Terapia de choque

No entanto, por muito que a câmara a adore, por vezes, Portman parece desconfortável antes de a enfrentar. Sim, foi uma atrevida bailarina de varão, em “Closer”, de Mike Nichols, rapou o cabelo para o papel de amante de um bombista louco, em “V de Vingança”, dos irmãos Wachowski, e foi uma jogadora de casino atormentada em “My Blueberry Nights”, de Wong Kar- Wai. Mas deu frequentemente a sensação de que o seu sentido de decência lhe dizia para não revelar demasiado.

Há um lado pudico, em Natalie Portman. Representar também é correr o risco de nos embaraçarmos em público, e pairou a suspeita de que ela era demasiado “senhora” para ser uma actriz genuína, a escavar em busca de uma qualquer terrível verdade.

Mas se Lady Natalie precisava de alguma dose de terapia de choque da parte de um realizador, Darren Aronofsky deu-lha, em “Cisne Negro”. Portman passou seis meses a entrar nas formas sinuosas de uma bailarina, no papel de Nina, que tem de explorar o seu lado mais sombrio para conseguir o papel principal no “Lago dos Cisnes”. Na história, o coreógrafo de Nina, Th omas (Vincent Cassei), impele-a para os mais altos méritos artísticos ou a loucura, e Aronofsky fez Portman percorrer esses mesmos árduos degraus.

O resultado foi menos um desempenho do que um grito primevo, um despojamento do decoro para revelar a alma torturada. Não foi representar, foi Representar!

“Cisne Negro” realizado com uns parcos 13 milhões de dólares, originou 75 milhões em receitas de bilheteira, nas suas primeiras sete semanas – mais dinheiro nos Estados Unidos que qualquer outro fi lme de Portman, excluindo a “Guerra das Estrelas” – e ainda tem um caminho para percorrer…

Em parte, porque a sua mistura de arte nobre e horror apela a vários sectores demográficos, mas também porque Portman arrebatou a maior parte dos prémios da crítica incluindo o tão ambicionado Oscar de Melhor Atriz. Lady Portman passou assim de virgem a experiente. E, finalmente, aos 29 anos, parece gostar realmente dessa situação: feliz por aceitar os prémios e radiante com a criança que está a gerar – o pai, que Natalie conheceu na rodagem do filme, é o verdadeiro coreógrafo de “Cisne Negro”, Benjamin Millepied.

Representar com compromissos

Se “Cisne Negro” nos desperta a vontade de ver outras composições de Natalie Portman, vamos ter várias oportunidades para isso. Ela está em cinco outros filmes, alguns já feitos há dois anos, mas todos a estrear nos próximos meses. Dois são dramas familiares: “Heshery” um vibrante filme indie, com Gordon-Levitt, e “The Other Womany” do realizador Don Roos.

Dois outros são comédias e fantasias de época: é uma mariarapaz medieval em “YourHighness” (Real Desatino com estreia prevista em Portugal para 21 de Abril) e “Th ory” mais uma aventura que a Marvel transposta para o cinema, que abre a época cinematográfi ca de Verão, em Maio.

Mas, antes disso, ela enfrenta um desafi o mais duro: encabeçar uma comédia romântica tradicional de Hollywood. Em “No Strings Attached” (Sexo Sem Compromisso), fi lme escrito por Elizabeth Meriwether e realizado por Ivan Reitman, Portman faz de jovem estudante de Medicina demasiado séria para… uma relação séria.

Por isso, propõe um negócio ao amigo Ashton Kutcher: que se “usem um ao outro para sexo, a qualquer hora do dia ou da noite, e nada mais”. Óptimo, pensa ele. Quem não pensaria? Ela é Natalie Portman. Mas ele não tarda a apaixonar-se por ela – porque ela é Natalie Portman… Sem quaisquer sobressaltos cinematográficos, o filme é, ainda assim, uma raridade: uma comédia romântica em que as personagens falam sobre aquilo de que as pessoas realmente falam antes, durante e depois do sexo.

“Sexo Sem Compromisso” também atira Portman para território desconhecido. Nos seus tempos de juventude, desempenhou, sobretudo, heroínas assustadas, tanto em filmes de acção de grande orçamento como em dramas domésticos cheios de emoção. Ambos os tipos de papéis permitem- lhe exibir a sua habitual rigidez no ecrã.

Mas a chave para este género de filme é a descontracção. Para Kutcher conseguir isso, basta-lhe aparecer; mas para Portman, é mais uma lição a aprender, e ela leva quase meio fi lme a acertar no tom adequado.

Ainda assim, “Sexo Sem Compromisso” (em que também foi produtora executiva) é a afi rmação de Portman de que está pronta para representar, ocasionalmente, segundo os clássicos padrões da indústria – fazer filmes comuns que, em suma, defi nem uma moderna estrela de cinema.

Alguns dos seus admiradores podem achar que é um desvio, ou um passo em falso para uma actriz merecedora de um Oscar. Mas quem pode duvidar de que a notoriedade alcançada por Lady Natalie em Hollywood vai marcar mais um adorável capítulo da sua vida?

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