Abdurrahim el Keib, um obscuro académico eleito para comandar o novo governo líbio, começou esta terça-feira, a escolher o seu gabinete, com a expectativa de conseguir reunir, sob um ambiente pacífico e democrático, os díspares grupos que derrubaram Muammar Khadafi.
Keib passou décadas exilado como dissidente, a leccionar engenharia eléctrica. As suas origens familiares em Tripoli e os períodos passados nos EUA e nos países do golfo Pérsico ainda estão a ser examinados por analistas em busca de explicações para a sua surpreendente eleição pelos membros do Conselho Nacional de Transição (CNT).
Alguns dizem que a sua ligação com a capital serve como contraponto à influência de Benghazi, segunda maior cidade do país e berço da revolução.
As rivalidades históricas entre o oeste da Líbia (onde fica Tripoli) e o leste (onde se situa Benghazi) são uma das muitas divisões existentes entre os 6 milhões de líbios – às quais se somam também divergências ideológicas, étnicas e tribais.
Outro factor que parece ter contribuído com a escolha de Keib é o facto de ele não ter participado no regime de Khadafi, ao contrário do que ocorreu com Mustafa Abdel Jalil, presidente do CNT, e com outros dirigentes.
Pesou a favor dele também ter permanecido na Líbia durante a guerra deste ano, ao contrário do seu antecessor, o primeiro-ministro interino Mahmoud Jibril. Keib recebeu os votos de 26 dos 51 integrantes do CNT, na segunda-feira.
Jibril já havia anunciado a intenção de deixar o cargo assim que o país estivesse totalmente “liberado” – o que ocorreu com a morte de Khadafi e o fim da resistência dos seus partidários. De acordo com um cronograma estabelecido pelo CNT,
Keib tem duas semanas para formar o seu gabinete provisório. No primeiro semestre de 2012, haverá eleições para uma Assembleia Constituinte.
Um dos desafios mais imediatos de Keib será controlar as milícias armadas que brotaram por todo o vasto e despovoado território líbio durante a guerra civil, além de procurar a reconciliação com os seguidores do antigo regime.
Membros do CNT e ex-colegas de Keib da época em que ele leccionava na Universidade de Tripoli, na década de 1970, descrevem o novo líder como uma pessoa “tranquila e amistosa”, e dizem que ele ajudou a financiar a rebelião anti-Khadafi.
Keib não fez promessas específicas para os próximos meses, mas disse que as preocupações com o destino dos contratos petrolíferos com empresas estrangeiras são infundadas.
“Entendemos que tivemos 42 anos sob um ditador brutal (…), e que há preocupações. Mas não deveria haver”, afirmou. “Exigimos respeito pelos nossos direitos nacionais.”