O presidente designado pelo Congresso de Honduras, Roberto Micheletti, está determinado a não ceder às crescentes pressões da comunidade internacional para o retorno do presidente deposto Manuel Zelaya, ao mesmo tempo que restringe liberdades para reduzir a oposição.
Micheletti, numa entrevista exclusiva à AFP, afirmou que o presidente deposto “nunca vai retornar ao poder”. Também não parece preocupado com a advertência de expulsão por parte da Organização dos Estados Americanos (OEA).
“Nada temos a negociar. As coisas estão se encaminhando”, respondeu Micheletti à AFP sobre um possível diálogo com a OEA e a comunidade internacional, que condenaram a saída de Zelaya, deposto no domingo pelo Exército, após enfrentar a Justiça e o Congresso para realizar um referendo sobre a reforma da Constituição. “Se a comunidade internacional considera que cometemos algum erro, algum crime, que nos condene e pronto. Aqui é a autodeterminação do povo”, disse Micheletti, que considera que 80% dos hondurenhos concordam com a saída de Zelaya.
“Vamos resolver nossos problemas como pudermos, mas este governo terá apenas seis meses. Quando elegermos nossas novas autoridades, eles (a comunidade internacional) terão a liberdade de abrir espaço para os novos governantes”. Micheletti “garantiu” que no dia 29 de novembro haverá novas eleições gerais, como está previsto no calendário eleitoral, e que em 27 de janeiro entregará o poder ao novo presidente eleito.
O Congresso de Honduras aprovou na quarta-feira a restrição “parcial” das garantias constitucionais, por 72 horas, acatando proposta do governo. “A restrição autoriza a prisão de suspeitos por mais de 24 horas e suspende garantias como a liberdade de associação e de reunião, e o direito de livre circulação”, revelou a deputada Doris Gutiérrez, do partido Unificação Democrática (esquerda).
Marcia Villeda, do Partido Liberal, destacou que a iniciativa apresentada pelo presidente interino, Roberto Micheletti, “é basicamente uma restrição parcial, que estará vigente com o toque de recolher”. A pressão da comunidade internacional para exigir o retorno de Zelaya, que na quarta-feira assistiu à posse do novo presidente do Panamá, Ricardo Martinelli, prosseguem nesta quinta-feira.
Todos os países da União Europeia (UE) com representação diplomática em Tegucigalpa convocaram para consultas os embaixadores em Honduras, anunciou o chanceler espanhol Miguel Angel Moratinos. “Esta decisão é um sinal claro da posição europeia, da comunidade internacional, e as autoritades provisórias terão que refletir”, afirmou.
Na quarta-feira, o governo dos Estados Unidos suspendeu as atividades militares com as Forças Armadas de Honduras e deixou para a próxima semana o anúncio de um eventual congelamento da ajuda a este país. Os principais organismos financeiros internacionais, como o Banco Mundial, também decidiram congelar os empréstimos ao país em consequência da destituição de Zelaya.