Definitivamente, a prática do atletismo no Parque dos Continuadores, na cidade de Maputo, está relegada a último plano. Depois de ter sido anunciada a requalifi cação daquele espaço em Abril último, eis que surge agora um (novo) problema:parte do terreno foi cedida com vista à construção de um edifício de uma instituição bancária pelo Conselho Municipal da Cidade de Maputo.
É mais uma controvérsia que inquieta a Federação Moçambicana de Atletismo (FMA), e que tira o sono ao seu elenco directivo, liderado por Shafee Sidat. Depois de em Abril este organismo, em parceria com o Fundo de Promoção Desportiva (FPD), ter revelado o plano estratégico de requalificação do Parque dos Continuadores, que compreende a colocação de uma nova pista de atletismo, um ginásio, um centro médico e comercial, uma piscina, um anfiteatro, uma sala de musculação, entre outros compartimentos, hoje, diga-se, surge a informação de que tal não será possível.
Parte do terreno, que engloba a zona do parque de estacionamento, do lado da avenida Mao Tse Tung, foi cedida à revelia, quer da FMA, quer do FPD, a uma instituição bancária, o Standard Bank. Curiosamente, um dos bancos de referência no que diz respeito à prestação de apoio ao desporto moçambicano.
Segundo informações obtidas pelo @Verdade, confirmadas pela FMA, a cedência daquele espaço foi feita de forma unilateral pelo Conselho Municipal da Cidade de Maputo, num negócio que pode ser sombrio, sabido previamente do plano existente naquele local.
Aliás, ninguém percebe como é que as autoridades municipais cederam o espaço sem, no mínimo, consultarem ou a federação ou o Ministério da Juventude e Desportos (MJD), entidades que tutelam, neste momento, o Parque dos Continuadores.
As demarcações foram feitas num sábado
No sábado, dia 06 do mês em curso, uma brigada de empreiteiros, acompanhada por indivíduos identificados como funcionários do Conselho Municipal da Cidade de Maputo e do Banco Standard Bank, visitou o Parque dos Continuadores com o propósito de observar o espaço e fazer as devidas demarcações. Os guardas em serviço revelaram ao @Verdade que pensaram tratar-se da primeira acção com vista à materialização do plano estratégico, aceitando que eles entrassem no espaço, até por se tratar de um local público.
Todavia, Rui Tadeu, gestor do Parque, através da sua empresa, a Equip. Limitada, que não se fez presente no dia das demarcações, quando deparou com a situação tratou de entrar em contacto, quer com o presidente da FMA, quer com o Ministério, para saber se estavam ou não a par do assunto.
Contudo, depois de obter respostas negativas, tratou de ordenar a retirada imediata dos marcos, obviamente por total desconhecimento do assunto. Contudo, só na segunda-feira (08 de Junho), quando os empreiteiros regressaram ao local, se ficou a saber que estava em manga a projecção de um balcão do banco Standard Bank, com o beneplácito da entidade liderada por David Simango. Ou seja, o Conselho Municipal da Cidade de Maputo é que teria cedido o espaço ao referido banco.
FMA totalmente surpreendida
A FMA ficou profundamente chocada quando soube que o município havia cedido parte do terreno do Parque dos Continuadores a uma instituição bancária, sobretudo numa zona privilegiada, onde está projectada a construção de três prédios de 14 andares cada e que, segundo o plano estratégico na posse do @Verdade, seriam implantadas diversas infra-estruturas de apoio, com destaque paras as novas instalações do FPD, da FMA, da Associação de Atletismo da Cidade de Maputo e do Instituto Nacional do Desporto.
Em contacto com a nossa equipa de reportagem, Shafee Sidat, presidente da FMA, esclareceu, primeiro, que muito recentemente se reuniu com o ministro da Juventude e Desportos, Fernando Sumbana Júnior, tendo, na ocasião, ficado claro que o Parque dos Continuadores estava sob tutela daquela instituição, ainda que a sua gestão esteja confiada a uma entidade privada.
“Foi por isso que acordámos com o FPD, uma instituição subordinada ao MJD, projectar um plano de requalificação do espaço com vista a manter o atletismo e assegurar a sustentabilidade do mesmo, através da área comercial que poderá ser edificada neste espaço” disse.
“Fiquei surpreendido quando cheguei na segunda-feira e deparei com os empreiteiros. Eles disseram-me que foram autorizados pelo município para construírem um balcão bancário no terreno reservado ao parque de estacionamento e que, para qualquer esclarecimento, nós tínhamos de nos dirigir ao Conselho Municipal”, explicou Shafee.
Kamal Badrú, vogal da federação, a quem o presidente delegou para poder falar com mais precisão sobre este assunto, começou por dizer que, se calhar, “ainda reina uma confusão sobre que instituição, entre o Ministério da Juventude e Desportos e o Conselho Municipal, responde pelo Parque dos Continuadores. Mas é ainda mais grave quando o município nem sequer sabe que aqui existe um plano estratégico, daí ter tomado esta decisão por ignorância”.
“Os propósitos que o município tem com o Standard Bank são alheios à FMA. Não houve nenhuma aproximação e a única coisa que nós vimos foram os empreiteiros a fazer as demarcações do local. Nesta acção percebe-se que se quer eliminar o pulmão da cidade”, revelou Kamal.
“É impossível sobre o mesmo espaço haver dois empreendimentos. E este negócio que o município tem com o Standard Bank anula todos os projectos que temos em parceria com o Fundo de Promoção Desportiva, pelo que nem sabemos qual é o benefício que o mesmo trará ao atletismo”, acrescenta.
Município recusa-se a comentar
O @Verdade deslocou-se ao Conselho Municipal da Cidade de Maputo para se inteirar desta situação. Contudo, como é apanágio da maioria das instituições públicas, ninguém se predispôs a comentar este assunto. Aliás, foi-nos dito na secretaria que a edilidade estava a preparar uma conferência de imprensa conjunta para dar a conhecer os contornos desta “novela”, desde a questão da realização dos espectáculos até à cedência ao Standard Bank para a construção de um balcão.
Aconselharam-nos a deixar o nosso contacto, com promessa de nos ligarem na última terça- -feira (16 de Julho) pelo que, até ao fecho da presente edição, na quarta-feira (17), não tínhamos recebido nenhuma chamada.
O Standard Bank, por sua vez, através de um colaborador que tem a missão de fazer as demarcações no Parque dos Continuadores, para a construção do balcão, ainda que não identificado, recusou-se a tecer qualquer comentário por falta de autorização. “Falem com o município ou vão à nossa sede. O meu trabalho é apenas de demarcar a área”, disse.
Entretanto, o parque de estacionamento dos “Continuadores” encontra-se encerrado por ordens de Rui Tadeu desde quarta-feira da semana passada, de modo a impedir a entrada dos empreiteiros.