Moçambique terá que fazer investimentos massivos para voltar a recuperar os índices elevados de produção de castanha de caju alcançados até finais da década de 70, quando atingiu mais de 200 toneladas/ano.
Face aos constrangimentos financeiros, as autoridades moçambicanas consideram ser utópico pensar que Moçambique pode voltar, a curto ou médio prazo, voltar a ocupar uma posição privilegiada na produção mundial da castanha de caju, que neste momento não atinge o mínimo de 100 mil toneladas/ano, necessário para viabilizar qualquer indústria do sector.
“Moçambique não tem a mínima capacidade de fazer isso, ou seja, o país não tem recursos financeiros para investir 60 milhões de dólares na produção”, admitiu Raimundo Mathule, director adjunto do Instituto Nacional de Caju (INCAJU), uma instituição que, entretanto, está a apostar, fortemente, na produção de mudas, para a substituição dos cajueiros já envelhecidos. Falando recentemente a jornalistas, em Maputo, Mathule frisou que “em menos de 10 anos, não vamos voltar a atingir as 215 mil toneladas que Moçambique produziu quando o país tinha árvores com idades variando de 10 a 20 anos no máximo, pelo que, para nós, é utópico pensar que podemos voltar a ocupar esses lugares cimeiros nos próximos tempos”.
Segundo vincou Mathule, para Moçambique voltar a recuperar os índices elevados de produção de castanha de caju alcançados até finais da década de 70 terá que fazer investimentos massivos na produção agrícola, tal como fez o Vietname, que nos últimos três anos, terá investido entre 60 e 70 milhões de dólares norteamericanos só na produção de castanha de caju.
Moçambique, durante a década de 70, chegou a ser considerado o maior produtor mundial de caju, mas em finais dos anos 80 o sector começou a registar uma redução drástica, devido a factores relacionados com o clima, envelhecimento dos cajueiros e, ainda, ao aparecimento de pragas e doenças, num cenário que acabou atingindo o colapso na década de 90, na sequência da implementação de políticas desajustadas recomendadas pelo Banco Mundial, um dos principais parceiros do Governo moçambicano.
Contudo, nos últimos anos, fruto de um trabalho desenvolvido e coordenado pelo INCAJU e outros sectores da sociedade, visando a pulverização das plantas, por um lado, e por outro, o replantio de novas espécies mais tolerantes e resistentes a pragas, o sector tem estado a registar melhorias, o que permite, actualmente, uma produção média anual de cerca de 90 mil toneladas de castanha. Na campanha finda, Moçambique produziu cerca de 95 mil toneladas de castanha.
Analistas consideram que a solução do problema do declínio da produção no país passa por uma concentração na questão da produção agrícola, fundamentalmente na substituição das árvores e alguma intervenção ao nível do tratamento das árvores com as novas técnicas de pulverização, mas tendo em conta que o cajual está muito velho. Com efeito, o actual cajual moçambicano tem uma média de 40 anos de idade e, segundo entendidos, uma árvore normal de produção tem de ter um máximo que atinge entre 25 e 30 anos, porque depois desta idade a produção já começa a decrescer, para além de que esses cajueiros trazem todos os problemas inerentes a uma árvore velha.
Segundo analistas, a pulverização não resolve o problema da fraca produção de castanha de caju em Moçambique, ela mantém apenas um determinado nível de produção, pelo que a aposta deve ser feita na renovação, porque uma árvore nova tem a vitalidade necessária para puder, inclusivamente, resistir às doenças. O INCAJU diz estar a intensificar a produção de mudas. Até muito recentemente, aquela instituição vinha produzindo cerca de 1.5 milhão de mudas por ano, mas o desafio agora é duplicar esta quantidade, de modo a que se possam incrementar os índices de produção de castanha.
Técnicos do INCAJU consideram que a instituição está em condições de produzir mudas, mas a principal fragilidade verifica-se no acompanhamento pósprodução, distribuição e assistência técnica aos produtores até que essas mudas se transformem em árvores, pois, isso exige uma logística e uma grande mobilização de meios.